quarta-feira, 16 de outubro de 2013

O encanto das finanças



Há para aí um mal-entendido a respeito da atribuição do Prémio de Ciências Económicas (vulgo Nobel da Economia) a personagens aparentemente tão contraditórias (e alegadamente controversas) como Fama, Shiller e Hansen.

Não é que a Alice não tivesse outras preferências para atribuição do dito prémio. Nassim Taleb, autor de "The Black Swan", estaria mais adaptado aos dias que correm do que Fama. No entanto, tem contra si o facto de ser muito novo e de os suecos que decidem nunca terem primado pelo seu progressismo.

Comecemos pelo argumento de que a “Finança” (na sua generalidade) gerou a crise mundial que vivemos actualmente. Se professores e estudiosos tivessem que pagar pelo erro dos seus alunos e discípulos o que seria dos gurus da medicina quando morrem doentes mal diagnosticados ou dos professores de engenharia quando uma ponte cai ou quando há um acidente nuclear? Não se pode confundir a ciência com a sua aplicação prática.

Claro que há académicos que se passam para o “lado negro da força”. A Alice ainda não se esqueceu dos históricos Myron Scholes e Robert Merton, também eles laureados em 1997 pela contribuição para a valorização de derivados – os meus colegas lembrar-se-ão certamente do método Black-Scholes para avaliar opções. Estes cérebros espatifaram-se contra uma parede no malogrado “hedge-fund” Long-Term Capital Management, que foi socorrido por um consórcio de 14 instituições financeiras num “bailout” de €3,6bn (trocos para quem conhece a dimensão de problemas recentes, mas um dos maiores rombos financeiros à época).

Fama, Shiller e Hansen ficarão bem mantendo-se na academia e limitando-se a estudar as asneiras dos outros.

Há quem discuta ainda como é possível atribuir o mesmo prémio a Fama, que passou toda a sua vida a (tentar) demonstrar que os mercados são eficientes e que os preços reflectem o valor dos activos, e a Schiller, que era mais atreito a uma abordagem comportamental dos mercados e à ponderação de factores psicológicos (e irracionais).

Não há contradições na análise de cada um dos académicos, ao contrário do que poderá parecer à primeira vista.

O facto dos mercados poderem parecer irracionais (“irrational exuberance”, lembram-se?) não quer dizer que não o sejam de uma forma eficiente de acordo com Fama. Isto é, que incorporem todas as informações susceptíveis de influenciar os preços que todos os agentes possuem num determinado momento.

Mas tal também não quer dizer que os preços que resultem dos mercados sejam "eficientes" ou que conduzam a uma alocação de recursos "eficiente". Confusos?

A verdade é a de que os mercados são (em grande medida, mas não completamente) eficientes. Se assim não fosse seria possível ficar rico a “jogar nos mercados” e, ao contrário do que postulam alguns políticos menos informados, tal não acontece. Basta olhar para as rentabilidades de milhares de fundos por esse mundo fora para constatar que poucos batem, consistentemente, os “mercados” ou um macaco de olhos vendados a escolher activos à sorte!

Por outro lado, a dura realidade é que os mercados são dados a oscilações, modas, caprichos, irracionalidades temporárias, etc. A “Finança” como “ciência” (mais ou menos) exacta que se orgulha de ser, teve sempre dificuldade em compaginar estes achaques com as suas equações científicas. A disciplina popularizada por Schiller reconciliou a “Finança” consigo própria.

Fama e Schiller são faces da mesma moeda que faz funcionar esta mega “slot-machine” que é o mundo financeiro (sem desprimor para o mundo financeiro, claro). Sabemos hoje que os mercados não são 100% eficientes (e é desejável que não o sejam pois senão ninguém procuraria “bater” o mercado e ele tornar-se-ia ineficiente). Também sabemos que a noção de eficiência é relativa (eficiência na previsão de preços ou na alocação de recursos?). Haverá até quem conteste, com base nestas premissas, a atribuição deste prémio.

Citando de memória Fischer Black, outro génio das finanças (na opinião da Alice, o maior), que infelizmente não foi a tempo de receber o Nobel (faleceu em 1995 e o Nobel não é atribuído a título póstumo) com Scholes e com Merton (é ele o “Black” da célebre fórmula): “considero que o preço de um activo está razoavelmente certo quando a sua cotação dista menos de 50% do seu valor intrínseco”. A ironia de Fischer Black a garantir a conciliação final de Fama e Shiller e a dar-nos uma lição sobre os cuidados a ter quando aplicamos os modelos dos Financeiros, laureados ou não!

P.S. A Alice dedica este post ao Prof. Manuel de Oliveira Marques, desde há muitos anos a ensinar estes conceitos a plateias de alunos encantados e com quem a Alice aprendeu os fundamentos da matéria!

terça-feira, 15 de outubro de 2013

RTP – Mais um paliativo?



A discussão começou de novo e, como não podia deixar de ser, novo ministro conduz a… nova configuração.

Longe estão os tempos da privatização da RTP (no programa do Governo), da concessão a privados (de Relvas) e do simples encerramento (a Alice já esqueceu quem alvitrou esta solução, poderá ter sido um "sonho numa noite de verão" da Alice).

Agora temos um novo modelo de contrato de concessão de serviço público de rádio e de televisão. Ainda desconhecemos os contornos exactos mas, como é habitual, o Ministro Adjunto e do Desenvolvimento Regional já o anunciou e apresentou as suas “linhas gerais” na comissão parlamentar para a ética, a cidadania e a comunicação.

O Governo continua a anunciar coisas na generalidade antes de se ocupar com as minudências da especialidade.

E quais foram as novidades?

A RTP não será privatizada.

Para garantir a sua distância do poder político vai ser criada uma entidade independente, o conselho geral da RTP, que terá 5 a 7 membros. Miguel Poiares Maduro não esclareceu exactamente quais serão as atribuições deste conselho geral, nem quem efectuará as nomeações dos seus membros (provavelmente terá que criar uma nova entidade para o efeito). O que é mais hilariante é que o intuito desta medida é de (e cito do comunicado oficial): “…eliminar o risco de percepção de governamentalização da empresa”. Estamos só a falar de percepções, claro…

Pretende-se que haja uma “externalização” dos serviços de produção, o que a Alice vê como saudável. O sector audiovisual, para além da publicidade, não tem expressão em Portugal. As televisões têm as suas próprias produtoras e o que compram é ao estrangeiro. O cinema, como é sabido, está moribundo. A ser cumprido, este será o aspecto mais positivo desta “reforma”.

As rádios (algumas antenas) poderão passar receber publicidade e aparentemente a RTP ver-lhe-á serem atribuídos mais dois canais (TDT?) o que, deseja-se, se traduza em mais receita e menos défice operacional (porventura à custa dos “privados”).

Antecipa-se que a reestruturação continuará e a redução de pessoal contribuirá para o crescente equilíbrio das contas da RTP.

Diz Poiares Maduro que os contribuintes não vão pagar mais pela RTP. A Alice espera que os clientes residenciais da EDP também não. Esperaria até que, com tanta reestruturação, aumento de receitas e “externalização”, passássemos a pagar menos...

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

PT / OI uma questão patriótica?


A Alice tem acompanhado (não sem uma pequena dose de escárnio) as diatribes que têm sido alvitradas sobre a fusão (ou compra, como lhe queiram chamar) da OI e da PT.

Fala-se abundantemente dos centros de decisão nacional! Como se nós tivéssemos capital para os sustentar (não temos, veja-se casos como Cimpor, ANA, EDP,…)! Como se estes não tivessem mais que ver com as pessoas e as suas competências (essas sim, é que é importante cá ficarem e que todos os dias emigram por não terem alternativas cá dentro) do que propriamente com as empresas e o seu capital! Como se o País não estivesse, todo ele, subjugado a vários interesses que de nacional têm muito pouco!

Fala-se sobre os impostos que a PT paga ou deixará de pagar! Como se a PT já não tivesse estruturas fiscais que lhe permitem hoje minimizar a sua factura fiscal (global e nacional, pois claro)! Como se a concorrência entre as empresas não se fizesse hoje também ao nível fiscal (perguntem ao Governo Americano se gosta que as suas principais empresas deixem vastos recursos na Europa por aí terem vantagens fiscais – vide Irlanda)!

Fala-se de venda aos brasileiros! No entanto, como bem sublinhou Pedro Guerreiro, os brasileiros dizem o contrário, que a PT é que será a maior accionista com 40%!

Fala-se na ambição de Zeinal! Como se não houvessem accionistas (alguns porventura com as suas próprias necessidades de capital)! Como se as alternativas estratégicas para o crescimento (ou mera sobrevivência) da PT fossem infinitas!

A questão fulcral não é nenhuma destas!

A realidade é que o negócio de telecomunicações tornou-se hoje um negócio global (à semelhança, por exemplo, do automóvel). Não é possível competir localmente num negócio que é global e em que os principais “players” são globais.

Nas 10 maiores empresas do mundo de telecomunicações encontra-se a Vodafone, por exemplo (também instalada cá no burgo). A Vodafone opera em mais de 30 países. A sua sede é no Reino Unido, mas só 42% do capital é inglês (a América tem 31% e o resto da Europa 12%).

Para aqueles que argumentam que essa é anglo-saxónica, é uma cultura diferente, peguemos então na Deutsche Telekom (Alemã). Opera em mais de 50 países e os accionistas alemães totalizam apenas… 35% do capital (resto da Europa tem 25% e Reino Unido tem 17%).

Para aqueles que argumentam que isso é só no norte da Europa, atentem na guerra fratricida entre Telefónica e Telecom Itálica que, no final do dia, vai dar directamente (também) ao Brasil!

Não, meus amigos, a operação OI /PT não foi uma opção, foi uma inevitabilidade. É a única que garante algum futuro à PT, aos seus accionistas e aos seus quadros! Não a fazer era condenar à PT ao declínio que inevitavelmente adviria da exiguidade do mercado Português!

Tomáramos nós que outras empresas, noutros sectores, pusessem o seu orgulho de lado, parassem de olhar apenas para o seu próprio umbigo e promovessem consolidações empresariais a sério. A Alice tem-se fartado de defender que, no momento em que vivemos, as empresas devem juntar-se, fundir-se, criar empresas maiores, mais competitivas, com maior capacidade de singrar (cá dentro e lá fora) e de remunerar bem accionistas, trabalhadores, clientes e fornecedores.

Orgulhosamente sós não é o caminho! Que a PT / OI sirva de exemplo!

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

“Hidden Champions” – WeDo Technologies


A Alice roubou o título “Hidden Champions” a um livro escrito em 1996 por Hermann Simon, um consultor alemão. Neste livro, o autor dedicou-se a descrever a estratégia de pequenas e médias empresas alemãs de sucesso que, apesar de ilustres desconhecidas, são altamente rentáveis e têm uma quota de mercado mundial muito expressiva (70% a 90%) no segmento em que escolheram especializar-se.

Hermann Simon identificou mais de 500 empresas que cumpriam os seus 3 critérios para serem consideradas “Hidden Champions” (ver aqui para uma descrição do conceito): (i) posição número um ou dois no mercado mundial ou um no europeu; (ii) PME com menos de $1Bi de facturação (nota que este conceito de PME é diferente da definição “Europeia” – ver aqui); (iii) baixa visibilidade para o público em geral.

Os estudiosos da gestão sempre apresentaram as grandes empresas como modelos a seguir e emular. Este livro altera esta perspectiva. Há muitas empresas boas e competitivas no mundo que não são grandes empresas. São geridas de forma diferente, não necessariamente coincidente com os estereótipos da moderna teoria da gestão de empresas.

O autor retirou, da análise dos seus “Hidden Champions”, 9 ensinamentos para o sucesso:

1. Definir o mercado de uma forma restrita, incluindo vectores sobre a necessidade dos clientes e tecnologia (tentar ter o maior foco possível);

2. Objectivos claros e ambiciosos, sendo que a empresa deve querer ser a melhor e líder no seu mercado;

3. Combinar a definição restrita de mercado com uma orientação global e vendas / marketing mundiais;

4. Estar perto dos clientes, quer em capacidade de resposta, quer em interacção, prestando especial atenção aos clientes mais exigentes;

5. Procurar a inovação constante nos produtos e nos processos;

6. Criar vantagens competitivas claras, nos produtos e nos serviços;

7. Confiar nas capacidades internas da empresa. Manter as competências “core” e fazer outsourcing do que não o é;

8. Tentar ter sempre mais trabalho do que cabeças, seleccionando colaboradores rigorosamente e retendo-os no longo prazo;

9. Liderança autoritária nas questões fundamentais e participativa nas questões de detalhe.

A Alice teve a oportunidade de testar estes ensinamentos com Sérgio Silvestre, membro da equipa de gestão da WeDo Technologies (WeDo), e chegou às seguintes conclusões:

O mercado da WeDo é o de “software” para “revenue and business assurance”. Dito por outras palavras, o seu objectivo é ajudar os clientes a analisar vastas quantidades de dados disponíveis na sua organização para minimizar as ineficiências operacionais que levam à perda de receitas ou ao aumento dos custos. Nas palavras de Sérgio Silvestre: “Vivemos na nossa baía ou pequeno lago e assim vamos evitando os grandes oceanos e os grandes tubarões”. Ensinamento 1 cumprido.

A visão claramente expressa pela companhia é ser reconhecida como líder mundial em “software” de “business assurance” para os sectores de telecomunicações, retalho, energia e finanças. Ensinamento 2 à vista.

Os seus clientes estão espalhados pelo mundo (180 clientes em mais de 80 países) e os seus funcionários também (>500 de mais de 20 nacionalidades), espalhados por 12 geografias, gerando mais de €55 milhões de facturação (números de 2012). E aí está o ensinamento 3.

Quando questionado quanto aos 3 principais factores de sucesso, Sérgio Silvestre é peremptório: “relacionamento com os clientes; capacidade de ‘entregarmos’ aquilo a que nos comprometemos com os mesmos; inovação ao nível da organização, do produto, do marketing e dos processos”. Acrescenta que “estes factores são quase impossíveis de copiar pelos nossos concorrentes”. E com esta objectividade, Sérgio Silvestre tratou de confirmar os ensinamentos 4., 5. e 6. de uma assentada.

A WeDo tem uma noção clara do que os seus colaboradores fazem bem. Tendo começado como empresa de consultoria de sistemas de informação (WeDo Consulting) em 2001, bastaram 3 anos para ficar claro que fazia sentido uma especialização em produto. Em 2007 passou a “WeDo Technologies”. A actual equipa executiva da empresa está junta desde a fundação ou desde os primeiros anos da empresa, tendo vivido (e liderado) as suas principais transformações. Ensinamentos 7. e 8. resolvidos.

Quanto à liderança, fica claro que a equipa de topo tem um alinhamento e uma firmeza muito esclarecida quanto aos fundamentos do negócio, sendo que a WeDo desenvolve a sua actividade de uma forma descentralizada em todas as suas várias zonas geográficas e níveis de responsabilidade. E aqui vai o 9.!

E fazer parte do Grupo Sonae foi importante? “Ajudou e ajuda muito”, de acordo com o gestor da WeDo. E acrescenta: “A solidez do nosso accionista e a sua forma de ser/estar, a sua exigência e perspectiva de longo prazo são muito importantes para os nossos clientes.”

A Alice também teve curiosidade em perceber qual o papel da aquisição de empresas na estratégia de crescimento. Como se esperaria, a aquisição de empresas não está refém de um desígnio de crescimento pelo crescimento (ou de “hubris” da gestão…), está antes ao serviço do “fio condutor” da estratégia de especialização, internacionalização e, o mais importante, serviço aos seus clientes.

A WeDo é um excelente exemplo de um “Hidden Champion” Português. A bem da força anímica nacional tem de ser menos “hidden” mas sempre, e cada vez mais, “Champion”.

P.S. A Alice continuará a desencantar mais “Hidden Champions” para nos animar a todos!

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Lições das autárquicas


A Alice faz parte do grupo que prefere não extrapolar os resultados das eleições autárquicas para o plano nacional.

Em todo o caso, há lições que se podem tirar sobre o actual estado de coisas e sobre o resultado concreto das eleições. E as principais lições são as seguintes:

a. as pessoas demonstram cansaço com o regime político (estamos a chegar ao ponto em que são mais as que não votam do que as que votam);

b. as pessoas desconfiam dos partidos (daí o aumento de independentes, que deverá ser uma tendência para ficar);

c. e, um corolário das duas anteriores: as pessoas votam mais nas pessoas do que nos partidos e votam, cada vez mais, no menos mau (criando uma cultura de “mínimo denominador comum” que vai arrastando a qualidade média de quem exerce cargos políticos para baixo).

Num País normal seria chegada a hora de discutir o regime político de uma forma séria.

Aqui fica o contributo da Alice para essa discussão:

1. separação clara entre partidos políticos e governos (os membros do Governo seriam obrigados a deixar toda e qualquer actividade partidária);

2. limitação de mandatos Governamentais (a Alice sugere um máximo de 2);

3. eleições nos partidos para candidato a primeiro-ministro (obrigatoriamente diferente do secretário-geral do partido) à semelhança das primárias Americanas, sendo que independentes seriam autorizados a candidatar-se e a votar nessas “eleições internas”;

4. redução do número de deputados na Assembleia da República de 230 para 100 ou 150, sendo que a totalidade ou, pelo menos, uma parte passariam a ser eleitos com base em círculos uninominais (i.e. os eleitores elegeriam directamente os seus representantes e não uma lista). Desta forma os directórios partidários deixariam de controlar a Assembleia e as pessoas poderiam eleger “independentes” como seus representantes directos;

5. aproveitar esta “onda” para rever a Constituição de uma vez para todas, no sentido de a simplificar e tornar mais maleável nas questões conjunturais, sem beliscar as questões dos princípios e valores fundamentais.

Nada disto é novo, mas se não aproveitarmos este momento de dificuldades extremas do País para colocar estas questões em cima da mesa, a Alice teme que nunca o faremos em enquadramento pacífico.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Sentimentos das eleições autárquicas


Depois de uma noite com as emoções à flor da pele, os principais sentimentos que a Alice viveu ao longo da mesma foram os seguintes:



Vitória – retumbante para Rui Moreira, quando há 6 meses uma franja de políticos, comentadores, iluminados e afins considerava que esta candidatura não tinha qualquer hipótese de sucesso; esperada para António Costa, que até o cenário da “coroação” já tinha montado ao detalhe; recompensadora para o PC, que “teima” em canalizar muito voto descontente à esquerda; silenciosa para Rui Rio, que ainda voltará para assombrar as elites políticas nacionais à direita (e, quem sabe, à esquerda).

Derrota – prevista para Pedro Passos Coelho, que não soube definir uma estratégia clara para estas eleições, a começar na selecção de candidatos (que ora podiam, ora não podiam candidatar-se) e a acabar no modo desajeitado com que andou a apanhar bonés no final de campanha; disfarçada para António José Seguro, que não conseguiu “descolar” em número de votos de PSD+PP e que não capitalizou politicamente com o aumento do número de câmaras conquistadas; estrondosa para o BE, que não consegue ser o partido da indignação e que demonstra gravitar num mundo tão carregado de ideais preconceituosos quanto distante da vida concreta das pessoas.

Preocupação – a abstenção continua a ser o verdadeiro cancro da democracia portuguesa. Mesmo no Porto, em que a luta foi muito acesa (e ao contrário do que a movimentação nas secções de voto denunciava), a abstenção subiu novamente (+/- de 43% para 47%). O vencedor teve pouco mais de 40.000 votos (menos de 20% dos eleitores registados). Qualquer dia, o estádio do Dragão cheio decide qual o próximo Presidente de Câmara…

Ridículo – a cobertura jornalística desta campanha, que não informou, não esclareceu e abdicou do seu papel de escrutinador de ideias e propostas dos candidatos mais relevantes, tudo justificado pelo cumprimento da lei. Por outro lado, a lei não evitou que alguns órgãos de comunicação social tenham tentado, ainda que de forma canhestra, míope e protegida por interesses obscuros, influenciar o resultado final das eleições.

Vergonha – para aqueles que acham que as candidaturas independentes serão agora o elixir sagrado para salvar a nossa democracia, Oeiras deu um triste exemplo do mal que uma candidatura independente do “vale tudo” pode fazer. Um observador menos conhecedor poderia argumentar que se tratou de um caso isolado, numa zona desterrada em que as pessoas não são formadas e que sentem desprezo face ao centralismo de um País macrocéfalo. Todos sabemos que nenhuma destas explicações colhe… Também há caciquismo nos “independentes”…

Orgulho – No Porto que elegeu Rui Moreira. Ficou quase tudo dito no brilhante discurso de derrota de Manuel Pizarro (que teve a hombridade de assumir que cumprirá o seu mandato), só por si motivo de grande orgulho para qualquer portuense! No Porto mandam os portuenses, contra todos os comentadores, políticos “nacionais”, cantos de sereia, interesses, etc., etc. Rui Moreira não tinha nada a provar a ninguém. Como se viu tinha até muito a perder, com as acusações sem fundamento nem culpa formada de que foi sendo alvo. Aguentou estoicamente até ao fim. Ontem pareceu fácil, mas só ele saberá o quanto não foi. A vitória é toda dele e dos principais artífices da sua campanha… e bem merecida!

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Alice vota Moreira


No dia 20 de Março de 2013, data de lançamento da candidatura de Rui Moreira à Presidência da Câmara Municipal do Porto, a Alice “impôs” as suas condições para o seu voto incondicional [ver aqui].

As condições eram sete e bastará ler o programa eleitoral do candidato para perceber que elas foram integralmente respeitadas (a Alice confirma que não teve qualquer intervenção na elaboração do dito).

Para além disso, Rui Moreira deu uma dimensão social ao seu programa, quer ao nível da coesão, quer ao nível da habitação, que é equilibrada, pragmática e inclusiva por pretender trabalhar no terreno com o que já existe (a célebre rede), maximizando os recursos disponíveis.

Mas não é só por isso que Rui Moreira tem o voto incondicional da Alice…

Também não é só pela proposta de criação de um fundo de solidariedade para auxílio imediato às famílias mais vulneráveis…

Também não é só pela criação do cargo de Provedor da Habitação Social e pela proposta de evitar a deslocalização e o desalojamento dos moradores dos bairros populares e ilhas da cidade…

Também não é só pelo facto de Rui Moreira pretender chamar a si o controlo directo e o acompanhamento da pasta da economia e do emprego, dando o corpo às balas numa área em que, reconheça-se, é muito difícil um Presidente de Câmara fazer a diferença…

Também não é só pela promessa da Construção do Centro de Congressos do Porto; da instalação em Campanhã do Pólo Logístico de Apoio a PME do Porto; da constituição, também em Campanhã, de um Centro de Reindustrialização; do estabelecimento, em conjunto com a Universidade do Porto e com a UPTEC, de parcerias para a instalação de empresas, etc…

Também não é só pelo Programa Mercator, que pretende dar uma nova vida e dinâmica ao comércio na cidade…

Também não é só pelo compromisso com a inovação, promovendo a instalação de “start ups” e reforçando a relação com a Universidade…

Também não é só pelas propostas concretas, quer em termos de educação, turismo, segurança e mobilidade, onde fica claro o conhecimento do candidato da SUA cidade e a existência de uma ideia e uma estratégia concreta para a mesma…

Tudo isto é obviamente muito importante, a Alice não o nega.

Mas a batalha de Rui Moreira e o significado do sufrágio autárquico no Porto vai muito para além disto.

No próximo Domingo, discute-se no Porto a real exequibilidade de fazer política à margem dos partidos e dos políticos de carreira. Dos cidadãos independentes poderem ambicionar a ser protagonistas da história da cidade e, quem sabe, do País. Terem a sua voz, pensarem pela sua cabeça e darem um passo sem terem de pedir licença a ninguém, a nenhum grupo de interesses, a nenhum partido.

No próximo dia 29 de Setembro dá-se oportunidade às pessoas de proclamarem que querem algo de diferente, uma forma responsável de fazer política e, acima de tudo, uns protagonistas diferentes. Porque há muita gente farta de ver as mesmas pessoas eternizarem-se nos mesmos lugares! A realidade é que a vida política foi capturada por uma geração que não quer abdicar do poder e das prebendas que o mesmo lhes concede.

A Alice deseja uma mudança.

É por tudo isto que a Alice vai votar Rui Moreira, sem hesitações…

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

O ovo de… Alice


O nosso Governo tem andado com paliativos e medidas temporárias, exame da Troika após exame da Troika, para conseguir os seguintes objectivos prioritários:

(i) Cortar a despesa do Estado;

(ii) Aumentar a competitividade da economia e a sua balança externa;

(iii) Reduzir (ou pelo menos conter) a dívida pública, resolvendo o problema de financiamento da economia.

Corte das prestações sociais, das pensões, quadros de mobilidade, redução da TSU, aumento horário de trabalho, redução dos dias de férias, encerramento de serviços públicos, privatizações, etc. são tudo medidas que se destinam a “atacar” estes problemas.

A uma forte oposição das corporações há muito instaladas em Portugal (disfarçadas de “sociedade civil”), acresce uma improdutiva luta corpo-a-corpo com o Tribunal Constitucional.

Como é que estes problemas se resolveram no passado? Como alertou Vitor Bento em artigo recente no Diário Económico, também houve austeridade e cortes salariais e pensões só que “em vez de transparentemente assumidos, foram feitos subrepticiamente através da inflação, explorando a ilusão monetária dos beneficiários, que, passando a receber realmente menos, foram levados pela aparência de receberem nominalmente mais, sem que ninguém se preocupasse com a sua legalidade”. Não consta que o tribunal constitucional tenha sido chamado a pronunciar-se sobre este ajustamento.

A Alice acrescentaria que as políticas de desvalorização da moeda, ajudaram ao resto, nomeadamente ao reforço da competitividade do País.

Infelizmente, hoje não temos nem política monetária nem cambial.

No entanto, há uma alternativa para deflacionar a economia e os factores de produção através da utilização de um outro mecanismo de “ilusão monetária” que não a inflação.

É simples: passar a pagar ao factor trabalho com dívida pública nacional.

O mecanismo funcionaria da seguinte forma:

- Os funcionários públicos, pensionistas e afins (incluindo funcionários de EP) passariam a receber uma componente do seu salário em obrigações de tesouro (OTs) a 20 anos com um juro simbólico (para não haver grandes discussões, à mesma taxa que a Troika nos cobra, p. ex.);

- Os de salário mais elevado receberiam uma maior componente de dívida (por exemplo 30% do seu salário), enquanto que os de salário mais baixo receberiam uma menor componente (5%) – todos receberiam para que a medida fosse apreendida por todos;

- As empresas privadas também seriam obrigadas a aderir a este esquema (a bem da sua constitucionalidade), sendo que teriam liberdade para fixar as percentagens de salário dos seus trabalhadores que seriam pagos em dívida pública (com tectos máximos iguais aos dos funcionários públicos) – da mesma forma todos receberiam, pelo menos, a percentagem mínima em OTs (os tais 5%);

- Enquanto ao Estado basta emitir dívida, as empresas terão de a comprar no mercado, assegurando, desde logo, liquidez suficiente para todos os que necessitem convertam as suas OTs em dinheiro (um “twist” adicional seria as Empresas poderem pagar os salários com a sua própria dívida, mas levava a considerações muito mais complexas e a equidade não seria garantida da mesma forma…);

- Claro que o truque aqui (a tal “ilusão”) é que uma obrigação deste género deverá cotar em mercado a 30% ou 40% de desconto face ao seu valor nominal (uma obrigação com um cupão de 3,85% com vencimento em 2021 está hoje cotada a 82,24% do seu valor nominal), permitindo ao Estado e às empresas uma verdadeira poupança em termos reais;

- O Estado seria obrigado a amortizar dívida (ou recomprar dívida) num montante equivalente à dívida emitida para pagamento de salários (assegurando que a dívida total não aumentaria);

- A Troika aceitaria que todos os pagamentos em OTs a funcionário públicos, pensionistas e afins não contassem para o deficit (embora, como é óbvio, contem para a dívida).

Este mecanismo permitirá atingir os três objectivos acima definidos:

(i) A despesa do estado reduziria na proporção da componente salarial que seria paga em OTs (em bom rigor, a verdadeira poupança seria a correspondente à desvalorização de mercado da dívida no momento da sua emissão);

(ii) As empresas poupariam na medida em que o custo do trabalho teria uma redução pela arbitragem entre o valor facial das OTs e o seu valor de mercado;

(iii) Resolver-se-ia (pelo menos parcialmente) o problema do financiamento da economia, por alargar substancialmente o número de compradores (ou, mais propriamente, tomadores) de dívida pública.

Note-se que este mecanismo é apenas de transição e de efeito de curto prazo, aliás como seria um surto inflacionista ou uma desvalorização cambial. Os problemas de base teriam de ser resolvidos à mesma (ineficiência do Estado, despesismo, etc.), sob pena de rapidamente estarmos outra vez numa situação insustentável.

Caso tudo corresse bem, num par de anos, o “rating” da república Portuguesa começaria a aumentar e o valor de mercado da dívida recuperaria para valores mais próximos do seu valor facial. Assim, seria reposto o poder de compra dos salários (da função pública e do sector privado) e recuperado o valor “perdido” nos primeiros anos (para aqueles que mantivessem as suas OTs).

Este mecanismo tinha a virtualidade acessória de promover a poupança e uma literacia financeira ímpar (pelo menos todos passariam a acompanhar a evolução das cotações das OTs e deixavam de pensar que dívida pública é o investimento mais seguro do mundo – até alguns banqueiros aprenderiam com esta lição!).

É provável que haja uns acertos a fazer ao modelo (contabilidade nacional e contabilidade pública nunca foram o forte da Alice), mas não será por causa dos contabilistas que não endireitamos o País…

A Alice sabe que a sua proposta é atrevida. Mas também sabe o buraco em que estamos metidos. E para grandes males, nada como grandes remédios…

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Eleições na Alemanha – momento de viragem?



Havia para aí muito boa gente que aguardava as eleições na Alemanha como o momento de viragem na posição Alemã face à crise e, por consequência, na política europeia de combate à mesma.

A Alice receia que a vitória (quase) esmagadora de Merkel não vá contribuir para tal. Nada na personalidade da senhora nos garante que ela aguardava por este momento para se revelar uma política diferente do que tem sido até hoje. Na lógica de alguns, mais “visionária” (o que quer que isso signifique!). E quem a pode censurar? Na cabeça dela “só” está a defender os seus concidadãos, os seus eleitores. Tomáramos nós ter políticos assim… Que defendessem os nossos interesses até às últimas consequências… Externamente e internamente, claro.

Em termos económicos tudo vai seguir como até aqui.

A Política de austeridade é para continuar, sobretudo se a coligação for com os “falcões” do SPD (sim, porque não é só a Merkel que é exigente…).

A Alice está hoje convencida de que a Alemanha nunca aceitará flexibilizar a sua política orçamental para ajudar os países em dificuldade, nem permitirá qualquer escorregadela da política monetária europeia que ameace de alguma forma a estabilidade dos preços e da moeda.

Perdões de dívida só em caso de última necessidade, e sempre com castigo concomitante para privados (bancos, empresas e povo).

“Eurobonds” só como piada em “cocktails” diplomáticos e “coffee breaks” de reuniões do Eurogrupo e do G20. Alguém alguma vez acreditou que Merkel iria aceitar que Alemães garantissem dívida de Gregos (ou Portugueses)?

Como diz Wolfgang Munchau na sua coluna de hoje no FT, o máximo que teremos como política europeia é “pretend and extend”. Em bom Português: “empurrar com a barriga”. Mais um financiamento aqui, mais uma prorrogação de prazos ali, mais uma redução de juros acoli… Os problemas reais subsistirão!

É uma política discutível? Com certeza que é! Mas é a política de Merkel e que os Alemães validaram nas urnas!

Ainda bem que já passaram as eleições Alemãs. Agora podemos cair na real e voltar a fazer pela vida. Enquanto não nos capacitarmos que temos que ser nós a resolver os nossos problemas, estaremos sempre à mercê dos ciclos eleitorais dos outros e das suas decisões políticas. A Alice prefere resolver os seus próprios problemas a esperar que outros os resolvam…

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Ser Espiritual


Comentário da Alice ao livro "Ser Espiritual - da evidência à ciência" de Luís Portela



É impossível não nutrir uma profunda admiração por Luís Portela – Empresário. O seu trabalho à frente da Bial é notável e deve inspirar todos os que ambicionam a construir projectos empresariais de sucesso e impacto na sociedade, no País e no Mundo.

O trabalho de formiguinha de décadas, amealhando os lucros, ano após ano paulatinamente, investindo cada vez mais em investigação, formando pessoas, apostando (numa lógica não muito diferente do capital de risco) em áreas científicas e produtos diversos, acabou por dar os seus frutos e conduzir a uma empresa Portuguesa inovadora e competitiva internacionalmente.

O sector específico em que a Bial se insere e se distinguiu não é próprio para cardíacos. Um produto (ou molécula), até estar pronto, demora anos e anos de investigação, testes, avanços e recuos; requer milhões de investimento e, no final, apenas uma pequena percentagem acaba por passar no crivo apertado das agências internacionais de aprovação dos mesmos e do mercado.

Se há 30 anos alguém dissesse que iríamos ter hoje uma empresa tão distinta neste sector de ponta, ninguém acreditaria! Arrisco que nem o próprio Luís Portela! Em todo o caso, o caminho faz-se caminhando, e caminhar (ou, mais propriamente, escalar) foi o que Luís Portela e a sua equipa fizeram, e muito bem.

O que nos traz aqui hoje é uma outra dimensão deste empresário, é o Luís Portela espiritual, uma faceta que estamos pouco habituados a conhecer em empresários.

O livro “Ser Espiritual da evidência à ciência” pretende levar-nos pelo percurso reflexivo de Luís Portela sobre o Ser e sobre vários temas de carácter espiritual.

Os temas em si não são novos.

Com efeito, para quem (como a Alice) está habituada a ler livros como os de Damásio, de Tal Bem-Shahar, do Dalai Lama e revistas como a Scientific American ou a SA Mind, os conceitos propostos neste livro não são propriamente novos.

O que é novo (para além da articulação e sistematização de conceitos que o autor constrói de uma forma única e brilhante) é o facto de ser uma pessoa como Luís Portela a explicá-los. Ganham logo uma outra dimensão e legitimação.

Com efeito, não é comum ver empresários de sucesso a falar sobre temas como harmonia, reincarnação, consciência, sexto sentido, intuição, meditação, transcomunicação (comunicar com os mortos), telepatia, psicocinese, etc. Estamos mais habituados a ver estes temas abordados por pessoas de currículo duvidoso!

A realidade é que a confiança de Luís Portela nesta sua matriz espiritual é tão grande que ele está disposto a, como dizem os Americanos, “put his money where his mouth is”. Foi nesse sentido que criou a Fundação Bial que já apoiou mais de 1500 investigadores de 27 países nas áreas da Psicofisiologia e da Parapsicologia.

A Alice está em crer que, dentro de 30 anos, Luís Portela poderá ser o Champalimaud da Parapsicologia, pondo Portugal numa posição de relevo nesta área que ganhará certamente grande preponderância científica.

“A realização de atos dignos e benéficos gera satisfação por proporcionar a sensação de progressão na autoestrada da trajetória evolutiva, que cada um de nós vai fazendo.”

E que trajetória?

“Trajetória de aproximação progressiva à Sabedoria Total, ao Absoluto.”

Ao revelar-nos as suas ideias, ao desvendar aquilo que foi o seu próprio percurso nesta “perseguição” permanente pelo saber, ajuda-nos também a definirmos o nosso próprio trajecto. Mesmo que não tenha sido essa a intenção do autor…