sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

A crise faz bem à saúde!

De acordo com a Fortune de Novembro, a subida de um ponto percentual na taxa de desemprego conduz uma descida da taxa de mortalidade da população em 0,5%!!! (investigação de Christopher Ruhm, economista da Universidade da Carolina do Norte). As razões são as seguintes: (i) menos acidentes de trânsito mortais (as pessoas conduzem menos); (ii) os fumadores reduzem o consumo; (iii) os mais ociosos passam a ter tempo para ir ao ginásio; (iv) as pessoas comem menos e de uma forma mais regrada; e (iv) os desempregados dormem mais… A Alice está contente. É sempre bom encontrar um lado positivo da crise!

Código Contributivo R.I.P.

Foi com muito agrado que a Alice recebeu a notícia do enterro, ainda que temporário, do novo código contributivo. Este código apenas iria aumentar os custos do trabalho (novamente…), onerar as contas de exploração das Empresas (sobretudo daquelas que têm uma maior rotação de pessoas e que, por isso, são mais susceptíveis de contratar mais frequentemente e de aceitar pessoas mais jovens) e, inevitavelmente, contribuir para a manutenção de uma elevada taxa de desemprego, mesmo após uma hipotética recuperação da economia. Tudo isto numa conjuntura em que países como Espanha assumem compromissos de introduzir mais flexibilidade no mercado de trabalho (isto num País em que para despedir um trabalhador basta pagar-lhe o requerido pela Lei, 1 ou 2 salários por ano trabalhado…). Façamos algumas contas rápidas para uma Empresa de retalho típica, com uma taxa de rotação de trabalhadores que é da ordem dos 60% por ano (e que, por isso, nunca pode ter a maioria de trabalhadores como efectivos). Esta Empresa veria os seus custos com o pessoal agravados em 1,4% (60% * 3% - 40% * 1%) apenas pelo efeito de ter de ter contratados a prazo. Consideremos que esta Empresa, por privilegiar uma remuneração aos seus trabalhadores (vendedores de loja) com uma elevada componente variável, paga como salário de base o mínimo nacional (acrescido de mais uns quantos subsídios de €100), que também será sujeito a um aumento que se estima em 4,5% (€25/€550). Se incluirmos ainda algumas das restantes parcelas da retribuição que passarão a ser abrangidas pelas contribuições para a Segurança Social, o agravamento ainda será maior em cerca de 4,5% ((100 * 60% * 26,75% + 100 *40% * 22,75%)/€550). Qual seria o aumento dos custos com o pessoal desta Empresa para 2010 caso o Código Contributivo fosse por diante? Sem grandes preocupações matemáticas (afinal de contas estamos no País das Maravilhas em que até a matemática pode ser distorcida até ao limite…) temos um total global de 1,4% + 4,5% + 4,5% = 10,4%... Alguém, alguma vez fez estas contas? Qual vai ser a reacção desta Empresa, atendendo a que está num sector que tem sido particularmente afectado pela crise, com quedas de facturação em 2008 e 2009 da ordem dos 10% por ano? A Alice espera que este exemplo sirva para enterrar de vez o Código Contributivo…

A aposta da Fortune em Detroit

A revista Fortune comprou uma casa em Detroit. Cito o artigo de cor, mas julgo que pagaram cerca de $100.000 por uma moradia numa boa zona da cidade, com 3 ou 4 quartos, duas salas e jardim. Ainda assim, pagaram um preço bem superior à média de mercado da zona! E porque o fizeram? Porque assumiram que tinham a responsabilidade, como todos os outros Americanos, de contribuir para a recuperação do que consideram ser o berço e coração de uma América com uma tradição industrial inigualável. Assim, propõem-se a, durante um ano, ter repórteres a viver lá, contactar com as forças vivas da região (num estilo muito Americano, deram logo uma “dinner party” para as pessoas mais importantes da zona anunciando a sua chegada), e fazer reportagens regulares sobre a forma como tecido económico, humano e social está a dar a volta à crise. É este sentido de missão que faz da América uma grande nação. A Alice também gostava de ver o Diário Económico ou o Expresso a comprar uma casa no Vale do Ave para poder acompanhar localmente o desenrolar da crise e, mais importante, da recuperação. Infelizmente é mais fácil (dá menos trabalho...) receber e reproduzir e-mails da Presidência da República ou cópias dos processos “Face Oculta”…