quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Kentuckys Forever


(Declaração de interesses: eu não fumo)

Vem este título a propósito da sugestão das luminárias da CIP para substituir a redução da TSU pelo aumento do imposto sobre o tabaco.

Esta sugestão começa por traduzir uma ignorância confrangedora relativamente ao impacto que certas medidas no comportamento dos consumidores e, consequentemente, na receita fiscal adicional gerada. Mas a minha desilusão com as associações empresariais já vem de longe e supera largamente a minha desilusão com as centrais sindicais (sabemos sempre com o que contar).

A pergunta que tem de ser feita (e que aconselho a que todos façam quando estivermos a falar sobre estas matérias) é: QUEM PAGA?

- presumo que haja muitos empresários que fumem, mas também não haverá trabalhadores que fumem?
- certamente que há muitos proprietários que têm imóveis e vastas propriedades, mas não estarão a maior parte dos imóveis nas mãos de um vasto número de trabalhadores que suportam mensalmente um financiamento para deles usufruírem para habitação?
- imagino que muitos capitalistas detenham património sob a forma de acções, outros títulos e depósitos, mas não haverá muitos trabalhadores que mantêm as suas parcas poupanças nestes instrumentos?
- os mercados movimentam milhões em transacções financeiras, mas no final não serão os trabalhadores (como clientes dos Bancos, gestoras de Fundos, etc.) que vão acabar por pagar qualquer taxa sobre transacções financeiras que o Governo decida instituir?

Enquanto não percebermos de uma vez por todas que, para este efeito, a figura do Trabalhador, do Empresário e do Capitalismo se confundem andaremos sempre a despender tempo e energias num exercício fútil de "passar a batata quente".

A realidade é que aumentar TSU, aumentar imposto sobre o tabaco, aumentar IMI, aumentar imposto sobre mais valias, criar novas taxas sobre transacções financeiras corresponde tudo à mesma face da moeda: aumentar impostos sobre a sociedade.

Para piorar o problema, a realidade tem demonstrado que este aumento de impostos não conduz necessariamente a aumento de receitas (como o comportamento do IVA bem tem demonstrado).

Se não se começar a olhar a sério para o lado da despesa não vamos lá. Por este caminho acabamos todos a fumar Kentuckys (eu inclusive).

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Um Plano para Portugal


"Would you tell me, please, which way I ought to go from here?"
"That depends a good deal on where you want to get to," said the Cat.
"I don’t much care where--" said Alice.
"Then it doesn’t matter which way you go," said the Cat.
"--so long as I get SOMEWHERE," Alice added as an explanation.
"Oh, you’re sure to do that," said the Cat, "if you only walk long enough."
(Alice's Adventures in Wonderland, Chapter 6) 


A citação acima referida é, por vezes, abreviada para "se não sabes para onde vais qualquer caminho serve... Mas vais ter muito que andar...".

A sensação que eu tenho é que Portugal tem sido gerido precisamente desta forma. Os próximos anos têm uma visibilidade muito difusa, apesar de termos a certeza que, inevitavelmente, teremos que pagar todos mais para manter o País "à tona". Para além disso,  sente-se um grande vazio de ideias, de convicções e de propostas inovadoras.

Eu percebo que atravessamos um momento muito difícil em que a "navegação à vista" e as urgencias do dia-a-dia se sobrepõem a grandes considerações estratégicas. No entanto, pelo menos um esboço de um plano nós precisamos de concretizar.

Temos, como um povo, que acreditar que depois da tempestade vem a bonança, que com a bonança vem um arco-íris e, de preferência, com um pote de ouro no final (ok, esqueçam o delírio, o arco-íris mesmo sem pote de ouro já seria bom!).

Ora, infelizmente, o Orçamento não é suficiente para este efeito. As Grandes Opções do Plano (as ultimas aprovadas para o período 2012-2015) poderiam ser um instrumento mais adequado se o seu prazo não fosse tão curto (para o efeito que se pretende e para a situação do País, 4 anos não chegam). Para além disso, o Governo assumiu-o como um exercício de retórica (para ser simpático e não dizer que tem 129 páginas das habituais baboseiras) em que não apresenta um único número para além de 2012!!!

O que eu gostaria de ver era um plano a 10 anos com metas quantificáveis e que fosse muito claro relativamente a um conjunto de variáveis que, quer se queira quer não, farão a diferença na vida de todos nós. Nomeadamente seria importante perceber:

- quando e quanto o país começará a crescer?
- quais os serviços que estarão a cargo do Estado? (RTP, Educação, Saúde, Defesa, CGD?)
- como será a organização do Estado? (desde o número de deputados e número de funcionários Públicos, ao número de freguesias, etc.)- quantos desempregados vamos ter?
- quanto será necessário cobrar de impostos e em que tipo de impostos (mais IVA, mais IRS, mais Património?)
- qual será a evolução do défice e da dívida pública?

Em resumo, qual o retrato que se pretende para o País nos próximos 10 anos. Tudo isto sem profissões de fé, sem estados de espirito ou de alma. Notem que eu não disse sem Política, porque é disso mesmo que se trata, fazer opções Políticas. A ideia não é a de que o Governo deve ser assumido por tecnocratas apolíticos que "... só se preocupam com números...".

Já ouço o canto das sereias a argumentar:

1. "Os Planos saem sempre furados." e "...eu nem sei o que me vai acontecer amanhã, quanto mais daqui a 10 anos...".

Bem, se é assim também não podemos saber que "... para o próximo ano já teremos inversão do ciclo..."; ou que "... A reposição dos subsídios ocorrerá no fim do programa de ajustamento...", etc. Ou nos contam a história toda ou não adianta contar aos bocadinhos...

Os planos são isso mesmo... Planos. São susceptíveis de ser revistos, alterados, melhorados, etc. (poderão, porventura, até ser modulados, mas isso eu já não sei como se faz). O facto de ser difícil acertar não é razão para não o fazer.

2. "Não depende só de nós pois estamos demasiado expostos internacionalmente" e, a última moda, "A despesa acertamos pois depende de nós, a receita já não controlamos" (ele disse mesmo esta pérola?...).

Até posso (com algum esforço) perceber estes argumentos no curto prazo. A dez anos há estratégias que se podem seguir e decisões que se podem tomar que alterem o rumo dos acontecimentos. Afinal de contas (ainda) somos um País.

3. "Não faz sentido fazer planos a 10 anos quando a legislatura é só de 4 anos".

Confesso que, por vezes, até acho que é só de 2 anos. Os últimos 2 são para preparar as eleições seguintes...

Novamente sublinho que Planos são isso mesmo, planos. Servem para explicitar (e explicar) quais serão os efeitos a longo prazo de decisões que se tomam hoje. Se alguém vier pelo meio e decidir apresentar um novo plano, tudo bem! Desde que seja sufragado em eleições e que o novo Governo tenha essa vontade de o fazer, não vejo dificuldade nenhuma em alterar. Até poderia ser um instrumento de disputa eleitoral. Pelo menos contribuiria de uma vez por todas para acabar com esta mania desagradável de se prometer uma coisa para eleições e fazer-se outra no dia imediatamente a seguir (ok, perdoem lá mais este delírio... Eles vão continuar nessa senda com ou sem plano).

4. "Isso é uma ideia muito economicista, querer definir tudo já em números..."

Para evitar ser deselegante com algumas cores politicas e algumas classes profissionais vou abster-me de rebater este comentário tão recorrente que funciona como o "canivete suíço" dos políticos ineptos quando ficam sem argumentação possível.


Acho que já todos demonstrámos ao longo dos últimos anos que temos, como Povo, uma razoável capacidade de encaixe (até ao dia...). Conquistámos o direito a saber para onde vamos.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

CGD na alta finança internacional


Soube hoje pelo jornal Público que vamos perder €50 milhões (de uma exposição total de €122 milhões em risco) em PPPs de auto-estradas na Grécia e em Espanha fruto do envolvimento do Banco Estatal em consórcios internacionais de financiamento.

Já não bastava o desvario nacional com as nossas PPPs (sim, a quota de mercado da CGD no financiamento das concessionárias nacionais é de 10%, a maior claro), ainda temos que ir pagar as dos outros. Só para recordar, quem paga a factura final dos erros e asneiras da CGD somos todos nós.

A isto se somam imparidades sobre crédito (sobretudo imobiliário) na ordem dos €483 milhões. Como eu bem me recordo do discurso destes senhores: "A Caixa só está disposta a financiar com garantias de activos reais ou então com avais pessoais". Agora amanhem-se com os magníficos imóveis... Sempre podem transformar-se em imobiliária...

Não deixemos de fora ainda os €246 milhões em menos valias devidas, quase exclusivamente, a 3 Empresas cotadas: PT, BCP e La Seda. Ainda resquícios de bravatas antigas para controlar o poder económico em Portugal. Mas que diabo, já não passou mais de um ano sobre a mudança de poder? Estas não são Empresas cotadas? Porquê a demora em, pura e simplesmente, vender estas posições? Eu sei, eu sei, custa vender a perder... Mas qualquer investidor em bolsa minimamente informado sabe que "cut the losses" é habitualmente a estratégia mais acertada... Sobretudo para quem não tem dinheiro para aguentar posições (cada vez mais) perdedoras...

Pois é... é triste chegar à conclusão que eu que, como investidor individual, nunca investi em auto-estradas, desde há 3 anos que reduzi o meu investimento em acções praticamente a zero e nem casa própria tenho... Afinal estou altamente investido em todas estas classes de activos... Pago a factura (como todos os Portugueses) das perdas mas suspeito que, se algum dia estas posições especulativas ganhassem dinheiro (pouco provável com as luminárias que têm gerido aquela casa), nunca veria os merecidos proventos do risco assumido.

E, por agora, não vou falar da Cimpor, Fino, Berardo, das perdas em Espanha e no Brasil, e outras que tais, porque o tema dá pano para mangas e não teria aqui espaço suficiente (terei certamente oportunidade de cá voltar).

Alguns entendidos da alta finança argumentarão que é o mercado e que todos os Bancos têm registado muitas perdas e imparidades. O problema é que nem a Caixa é (ou não devia ser) um operador de mercado (outro tema que nos tomaria horas), nem é verdade que é de agora: uma sugestão, não olhem para os Resultados Líquidos históricos, olhem para os aumentos de capital...

Vender 40%? Façam-nos um favor, vendam tudo!

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Negócios para lucrar com a crise


A Alice abomina as duas frases que mais se têm ouvido no contexto da actual crise e que se destinam, de forma algo pueril, a elevar os espíritos mais cépticos e a motivar os seus ouvintes para uma atitude mais positiva perante a dita crise.

A primeira é a ladainha de que em Chinês a palavra crise significa também oportunidade. Pode ser... O batalhão (milhões) de chineses do interior que trabalham na agricultura e nas fabricas têxteis e que, provavelmente, nunca terão a oportunidade de sequer sair da "terra", comprar uma casa ou sequer uma televisão certamente que percebem as nuances e subtilezas da dualidade ambígua da (mal)dita palavra. A Alice está convicta de que alguém que se desse a esse inútil trabalho certamente encontraria uma língua no mundo em que a palavra crise significa também m***a, aquilo que verdadeiramente é, aqui ou na China.

A segunda é a de que é na crise que se vêem os verdadeiros gestores. Acho muito bem que as pessoas se preocupem com a construção do caractér, com o treino e com o desenvolvimento das capacidades dos gestores. Mas e os trabalhadores que perdem o seu emprego tanto mais depressa quanto os verdadeiros (e alguns falsos) gestores têm de por em pratica medidas para sobrevierem? E quantos falsos (e alguns verdadeiros) vão, entretanto, ser varridos do mapa? Se me perguntam a mim, eu preferia era estar na década de 80 do século passado e continuar a ser um falso ou mau gestor...

Em todo o caso, a Alice decidiu juntar-se aos periódicos nacionais que habitualmente cavalgam até à exaustão os temas do momento e compilou de uma lista de negócios com grande futuro no contexto da actual crise. Afinal de contas, este Blog também necessita da sua dose de sensacionalismo para ter êxito.

Então os seleccionados são:

1. Grades metálicas de proteção: daquelas que se usam em concertos e manifestações... A julgar pela de Sábado passado e tendo em conta que os Gregos fazem, no mínimo, duas por semana, este será certamente o negocio da década... E com grande potencial de internacionalização...

2. Roullotes de bifanas, coiratos e afins: aproveitando a mesma macrotendencia da anterior, grandes concentrações implicam sempre grandes necessidades logísticas de subsistência e de alimentação a preços controlados...

3. Pasteis de Belém: não são os do Álvaro... Mas hoje ouvi na radio que uma pastelaria de Belém previa triplicar a venda dos ditos pasteis devido à vigília montada à porta do palácio para acompanhar o CdE...

4. Loja de bicicletas: na Grécia, as vendas de bicicletas têm crescido acima dos 30% ao ano e já são centenas de milhar vendidas todos os anos...

5. Lojas de tendas: a malta que vai ter de entregar as casas aos Bancos tem de viver em algum lado...

6. Lingerie sempre!!!: quando as pessoas deixarem de ir de ferias, sair para jantar ou ir ao cinema, não tiverem dinheiro para a televisão, a única coisa que vai sobrar para entreter é... a cama... É o vá para fora cá dentro, versão crise...

E pronto... O debate está lançado... A Alice fica à espera que os pacientes leitores sugiram mais grandes oportunidades...

Crescimento pelas Exportações - O céu é o limite?


Até quando conseguiremos sustentar o excelente desempenho registado recentemente nas nossas Exportações? E como é que este desempenho interage com o crescimento do Produto?

A criação de riqueza num País (PIB) depende das seguintes variáveis: (i) Consumo Privado; (ii) Consumo Público; (iii) Investimento Privado; (iv) Investimento Público; Exportações Líquidas (de Importações). Quando se fala em crescer, fala-se no crescimento do agregado destas variáveis todas.

Quanto ao Consumo e Investimento Público estamos conversados...

O excessivo endividamento das Empresas e Famílias (agravado pela redução do rendimento disponível ditado pelo aumento da factura fiscal) tem limitado muito o Consumo e o Investimento Privado.

É neste enquadramento que o nosso governo tem feito uma forte aposta no crescimento das Exportações e (começará em breve) a apologia da substituição de Importações.

Até aqui o tecido empresarial tem respondido bem, até bastante melhor do que seriam as expectativas iniciais dadas pelos modelos económicos utilizados pelos nossos governantes.

Com efeito, os empresários Portugueses, à falta de clientes cá dentro, pegaram na mala de cartão e foram vender lá para fora.

Para além disso houve um conjunto de investimentos de dimensão muito significativa e com actividade eminentemente exportadora que começaram a dar os seus frutos muito recentemente: (i) nova refinaria da Galp em Sines e reconversão da refinaria de Matosinhos (por si só estimava-se um impacto de €400M/ano na balança comercial); (ii) Nova máquina de papel da Portucel que só em 2011 atingiu a sua utilização máxima de capacidade; Fábrica de PTA da Artland em Sines que só começou a produzir em 2012, etc. (note-se que todos estes são investimentos efectuados em tempos de maior abundância de recursos... hoje, com grande probabilidade, não seriam feitos!).

Voltando à questão do início deste post: até que ponto podemos continuar a contar com o crescimento das exportações para colmatar as quedas registadas nas outras variáveis (sobretudo consumo)?

Infelizmente, na minha opinião, não muito mais tempo. Aliás o crescimento tem registado alguma desacelaração. De +11,5% no 1º Trimestre passamos para +6,8% no 2º Trimestre. Julgo que esta desacelaração se vai continuar a registar e que, no próximo ano andaremos em valores bem mais reduzidos (entre +2% a +4%). Atrevo-me a fazer esta previsão sem conhecer o que dizem os modelos macroeconómicos do nosso Governo mas julgo que não andarei muito longe do que será a realidade.

As razões para este menor crescimento das Exportações tem que ver com o seguinte:

  1. O modelo "miraculoso" de aumento de exportações / substituição de importações está a ser seguido por muitos países no mundo (aliás este é um mantra do FMI há décadas). Ora, como ainda, ninguém exporta para Marte andamos todos a vender mais uns aos outros e a comprar menos uns dos outros. Está bem de ver que esta equação não quadra...
  2. Os grandes investimentos que suportaram grande parte do crescimento das exportações recentemente estão a atingir a sua velocidade cruzeiro e, consequentemente, o seu contributo para o crescimento passará a ser marginal.
  3. Atendendo a que o investimento das Empresas tem sido muito reduzido (e continuará a ser enquanto o clima não mudar) há muitas indústrias em que a capacidade produtiva já estará muito próximo da utilização plena, pelo que só com investimentos adicionais poderá crescer. Neste campo excepção seja feita ao Turismo onde ainda haverá margem para crescer (farei um post exclusivamente sobre isto).
Em conclusão, as Exportações têm tido um contributo fantástico para o crescimento nos últimos 2 anos mas dificilmente conseguirão colmatar as quedas nos outros indicadores económicos pelo que, quase garantidamente teremos queda do Produto em 2013 (e provavelmente 2014 também).

Como dizem os ingleses ser um "one trick poney" não chega. Não vamos lá só pela via das Exportações...

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Crescimento e Emprego; A César o que é de César


O crescimento da economia e o aumento do emprego em Portugal tem de passar obrigatoriamente pelas Empresas e pelas Pessoas.


Parte-se do princípio que o Estado tem as mãos atadas e não pode contribuir com medidas contra-cíclicas (uma discussão a que voltarei) pelo que resta às Empresas, na sua busca incessante pelo lucro, promover o crescimento e o emprego.


Esqueçam incentivos fiscais, esqueçam QRENs, esqueçam profissões de fé mais ou menos sinceras por parte dos políticos sobre "melhoria da produtividade", "aposta nas exportações", "criação de postos de trabalho", etc.


Soubemos em artigo do FT de segunda-feira (http://www.ft.com/cms/s/0/39e3abac-00ce-11e2-8197-00144feabdc0.html) que alguns economistas calculam que o consumo motivado pelo lançamento do novo iPhone5 poderá impulsionar o crescimento do PIB americano no 4ª Trimestre em  até 0,5 p.p.!



O iPhone5 não foi lançado porque o Estado Americano decidiu conceder subsídios para Empresas inovadoras ou exportadoras, nem porque baixou a TSU, nem sequer pela sua conhecida política de gestão "inteligente" da taxa de câmbio do USD! Fê-lo movido exclusivamente pela vontade de melhorar os seus lucros (face aos cerca de $40Bi obtidos no ano passado) e porque a concorrência assim obriga (embora isto seja uma segunda derivada do primeiro objectivo).


Claro que os velhos do restelo já estão a argumentar: "mas isso vale em mercados inovadores e para Empresas tecnológicas..."

Não é necessariamente assim. Num estudo bem documentado pela Mckinsey (The Wall Mart Effect) demonstrou-se que o Wal Mart (indústria tradicional de retalho) foi, por si só, um dos maiores contribuidores para o aumento da produtividade do trabalho nas Empresas Americanas no final da década de 90.

Razões? Acertaram, nada que ver com o apoio do Estado Americano. Razão n.º1: Concorrência; Razão n.º2: Boas práticas de gestão.

Por muito que custe aos políticos assumir isto, a criação de emprego por parte das Empresas e o seu crescimento pouco tem que ver com "Política Económica" ou "Política Fiscal". Infelizmente o contrário é verdadeiro, i.e. estas políticas (e, sobretudo, as suas constantes oscilações, recuos e avanços, etc.) podem condicionar de uma forma negativa e irremediável o próprio crescimento e criação de Emprego.

Em resumo, é o esforço agregado de todas as Empresas que contribui para o crescimento da Economia (assumindo que as restantes variáveis não se podem mexer). Da mesma forma, é o esforço agregado de todos os accionistas, gestores e trabalhadores que faz com que as Empresas cresçam. Sem trabalhadores, gestores, accionistas e Empresas não há crescimento e não há aumento de Emprego.

Sei que não temos Apples, mas temos WeDos, TimWes, Zippys e Fly Londons. É com estas que temos que nos desenvencilhar.

É com esta ideia de partida, de que a resolução do problema de crescimento e do emprego passa pelas Empresas e pelas Pessoas, que temos que equacionar a intervenção do Estado e as soluções Macro. Mais sobre este tema nos próximos posts...