quinta-feira, 24 de setembro de 2009

TAP - Um retrato autobiográfico

Uma hora e quinze minutos. É exactamente há quanto tempo aguardo na fila de reclamações da TAP para resolver o problema do meu voo das 07h05’ do Aeroporto Sá Carneiro para Paris que foi cancelado. Olho à volta, a fila ainda tem mais 20 pessoas à minha frente. As primeiras reuniões em Paris estão já perdidas mas convinha-me chegar, pelo menos, ao início da tarde. As únicas distracções são olhar para o placard dos voos e tentar adivinhar qual o próximo a ser cancelado e dar entrevistas para as rádios (só eu já falei para a Antena 1 e TSF) para tentar enganar o passar do tempo. Já agora, aproveito os meus 10 minutos de fama! É surpreendente como é que eu sabia do risco de cancelamento (levou-me a chegar ao aeroporto antes das 6h00’), os meios da comunicação social também, mas a Administração da TAP aparentemente foi surpreendida porque senão certamente teria reforçado o atendimento dos passageiros afectados (“… não, não, só pode mesmo resolver o seu problema nesse balcão; pois a fila é grande…; pois, tem de ter paciência…”, eram os comentários dos funcionários que tinham a má fortuna de circular perto da fila). Ligo para o meu anjo da guarda das viagens internacionais a solicitar auxílio. Passados 5 minutos ouço “Dr. Pedro Pinheiro”, era o enviado do meu anjo para tentar resolver o problema. “Dr. Pedro Pinheiro, a TAP não dá informações a ninguém, não sabemos quantos nem quais os voos que serão ainda cancelados”; “Então não tenho alternativa?”; “Se quiser posso tentar colocá-lo num voo da Transávia (uma “low cost”) que sai às 08h20’, custa é €205”; Dou mais um olhar de relance à fila… Já são 07h50’, não há tempo para aguardar até chegar a minha vez para descobrir qual a proposta aliciante que a TAP teria para me colocar em Paris até à hora do almoço… “Vamos lá” lancei eu ao enviado do anjo, enquanto murmurava impropérios contra a TAP e os seus pilotos (“malandros” é o único publicável num blog que não se pretende político). Previam-se ainda mais umas peripécias que envolveriam correrias, empurrões e favores dos seguranças para saltar as usuais barreiras de um aeroporto moderno, tudo completamente desnecessário para quem já havia saído da cama há 3 horas! O voo da Transávia sairia a horas e chegaria a horas a Paris. A Alice até compreende o conceito de direito à greve (embora prefira formas mais convencionais de luta para quem se acha mal pago como… procurar outro emprego melhor remunerado, por exemplo). Estranha, no entanto, a conveniência pré-eleitoral desta greve (pelo menos para algumas forças partidárias a quem a confusão aproveita sempre). O que a Alice não entende nem aceita é que a antecipação da Administração da TAP face à greve tenha sido nula (os voos iam sendo cancelados a conta gotas) e que o serviço de apoio a cliente tenha sido completamente desprezado. A Alice tem, por diversas vezes, chamado a atenção para a importância de coisas prosaicas como a facilidade de deslocação no desenvolvimento de negócios internacionais. Não se pode alardear aos 4 ventos que a solução para a nossa economia é a sua internacionalização e são as exportações e depois permitir que este tipo de coisas aconteça numa… transportadora pública!

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Um ano pós-Lehman Brothers

Analistas, jornalistas, políticos, empresários, e vários outros intervenientes são unânimes em considerar que “deixar falir a Lehman” foi um erro. As críticas são particularmente acintosas para com o Sr. Hank Paulson, principal responsável por “deixar cair” este Banco. As más línguas dizem inclusivamente que o facto de ter trabalhado e liderado um dos principais concorrentes da Lehman (a Goldman Sachs) terá toldado o seu raciocínio e comprometido a sua independência na análise e decisão sobre este dossier. Infelizmente nunca saberemos se assim foi. Não sabemos (mas gostava que alguém lhe perguntasse) se ele teria tomado a mesma decisão sabendo o que sabe hoje. Também nunca saberemos se estaríamos hoje melhor caso ele tivesse optado por “dar a mão à Lehman” embora, como disse no início, a maior parte das pessoas esclarecidas entende que estaríamos bem melhor! A Alice não concorda com esta visão. A percepção de que um Banco daquela natureza e dimensão pode ir à falência foi ou não disciplinadora do mercado? A noção de que existem empresas “too big to fail” foi ou não alterada? Podemos agora vir à posteriori regular o que quisermos no sistema financeiro e bancário, mas o facto isolado de uma falência daquela magnitude ter ocorrido coloca “em sentido” um vasto conjunto de intervenientes no mercado. Sabendo o que sabemos hoje (que, aparentemente, o mundo conseguiu dar a volta por cima não tendo entrado numa segunda grande depressão como alguns vaticinaram) não há nenhuma razão objectiva para considerar que a falência do Lehman foi uma má decisão. O facto de tanta gente pensar assim significa apenas que ainda não mudaram o “chip” para a nova realidade que temos entre mãos (ou, se preferirem, para a necessidade de encarar a realidade de forma diferente). Talvez faça falta mais uma falência ou duas?

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Sweet deals?

A recente oferta de compra da Kraft pela Cadbury reflecte que as Empresas (pelo menos as grandes) começam novamente a raciocinar numa óptica estratégica e estão a passar do modo de “sobrevivência” para o modo de “business as usual”. De acordo com o FT de hoje, o racional desta aquisição é tão forte que até impressiona como foi possível não ter acontecido antes: (i) complementaridade de mercados (Cadbury está bem implantada em mercados emergentes e a Kraft em mercados mais desenvolvidos); (ii) complementaridade de canais de distribuição (Cadbury no canal Horeca, a Kraft na grande distribuição); (iii) sinergias ao nível dos custos; etc. Um verdadeiro clássico! A valorização de 13x EV/Ebitda, apesar de distante dos 19x da aquisição da Wrigley pela Mars de 2008 (números do FT), já não envergonha ninguém! Provavelmente, poderá haver outros que queiram adoçar ainda mais o negócio para os accionistas da Cadbury. Um processo a acompanhar com muita atenção…

Os Financeiros não aprenderam a lição?

É com alguma estupefacção que a Alice tem notado que se mantêm em funcionamento em variados centros comerciais (não só em Portugal, note-se) “corners” a impingir cartões de crédito aos incautos transeuntes. Só nas semanas mais recentes identifiquei “corners” de 3 “marcas” diferentes, isto passado exactamente um ano da falência do Lehman e passados dois anos do início da crise financeira! Eu sei que as instituições financeiras são organizações grandes, mas não imaginei que a mensagem demorasse tanto tempo a chegar “cá abaixo”. O arrendamento destes espaços é caríssimo (mesmo com a recente queda do imobiliário estamos sempre a falar de alguns milhares de Euros por semana) e só é compatível com a obtenção de volumes de negócio muito expressivos. Desta forma, imagino que os objectivos (número de cartões emitidos) sejam concomitantemente significativos. Partindo do princípio de que estes cartões não são emitidos com plafond zero (ou perto disso), situação em que se poderia argumentar que esta era uma mera acção de marketing/charme e de angariação de “carne para canhão” (bases de dados), este método de angariação dificilmente assegura que as pessoas “encartadas” sejam as que o mereçam ser (um problema típico de “adverse selection”). Para além disso, parece-me de muito mau tom, num momento em que se discute o sobreendividamento dos agentes económicos, em especial das famílias, e o contributo das instituições financeiras para o mesmo, expor estes serviços tão despudoradamente no jardim da Eva. É o equivalente à Nestlé colocar um gigantesco expositor de chocolates e guloseimas no meio de um infantário. Será que eles não aprenderam mesmo a lição?

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Business Angels

Foi com muito agrado que registei a notícia do arranque do novo fundo público-privado de capital de risco para “business angels”. A Alice já tinha chamado a atenção para a importância da dinamização deste mercado no seu post de 2 de Agosto. Este fundo deve-se ao trabalho de um conjunto pequeno mas muito activo de pessoas que acreditam que o apoio e o “coaching” de empresários com créditos firmados a empresários em “nascença” e formação pode ser facilitador do aparecimento de novas empresas fortes e da redução da sua taxa de mortalidade nos primeiros anos de vida (que, como sabemos, é muito elevada). O Dr. Francisco Banha (http://gesbanha.blogs.sapo.pt/) tem sido um dos principais impulsionadores do movimento e está, por isso, de parabéns! Agora é necessário assegurar que este instrumento não é desvirtuado pelos agentes económicos. A Alice espera poder ver para breve conhecidas personalidades do meio empresarial a exercitar as suas capacidades de “Business Angels” numa Empresa perto de si.

Factores de Crescimento da Economia Portuguesa

A Alice recomenda vivamente a leitura do artigo de opinião do Prof. Avelino de Jesus no Jornal de Negócios de hoje (http://www.jornaldenegocios.pt/index.php?template=SHOWNEWS_OPINION&id=384896). Um texto simples, escorreito e directo (sem politica nem politiquice) que coloca em evidência os principais factores do crescimento da economia portuguesa, alguns dos quais a Alice também tem referido ao longo dos últimos tempos.