segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Sentimentos das eleições autárquicas


Depois de uma noite com as emoções à flor da pele, os principais sentimentos que a Alice viveu ao longo da mesma foram os seguintes:



Vitória – retumbante para Rui Moreira, quando há 6 meses uma franja de políticos, comentadores, iluminados e afins considerava que esta candidatura não tinha qualquer hipótese de sucesso; esperada para António Costa, que até o cenário da “coroação” já tinha montado ao detalhe; recompensadora para o PC, que “teima” em canalizar muito voto descontente à esquerda; silenciosa para Rui Rio, que ainda voltará para assombrar as elites políticas nacionais à direita (e, quem sabe, à esquerda).

Derrota – prevista para Pedro Passos Coelho, que não soube definir uma estratégia clara para estas eleições, a começar na selecção de candidatos (que ora podiam, ora não podiam candidatar-se) e a acabar no modo desajeitado com que andou a apanhar bonés no final de campanha; disfarçada para António José Seguro, que não conseguiu “descolar” em número de votos de PSD+PP e que não capitalizou politicamente com o aumento do número de câmaras conquistadas; estrondosa para o BE, que não consegue ser o partido da indignação e que demonstra gravitar num mundo tão carregado de ideais preconceituosos quanto distante da vida concreta das pessoas.

Preocupação – a abstenção continua a ser o verdadeiro cancro da democracia portuguesa. Mesmo no Porto, em que a luta foi muito acesa (e ao contrário do que a movimentação nas secções de voto denunciava), a abstenção subiu novamente (+/- de 43% para 47%). O vencedor teve pouco mais de 40.000 votos (menos de 20% dos eleitores registados). Qualquer dia, o estádio do Dragão cheio decide qual o próximo Presidente de Câmara…

Ridículo – a cobertura jornalística desta campanha, que não informou, não esclareceu e abdicou do seu papel de escrutinador de ideias e propostas dos candidatos mais relevantes, tudo justificado pelo cumprimento da lei. Por outro lado, a lei não evitou que alguns órgãos de comunicação social tenham tentado, ainda que de forma canhestra, míope e protegida por interesses obscuros, influenciar o resultado final das eleições.

Vergonha – para aqueles que acham que as candidaturas independentes serão agora o elixir sagrado para salvar a nossa democracia, Oeiras deu um triste exemplo do mal que uma candidatura independente do “vale tudo” pode fazer. Um observador menos conhecedor poderia argumentar que se tratou de um caso isolado, numa zona desterrada em que as pessoas não são formadas e que sentem desprezo face ao centralismo de um País macrocéfalo. Todos sabemos que nenhuma destas explicações colhe… Também há caciquismo nos “independentes”…

Orgulho – No Porto que elegeu Rui Moreira. Ficou quase tudo dito no brilhante discurso de derrota de Manuel Pizarro (que teve a hombridade de assumir que cumprirá o seu mandato), só por si motivo de grande orgulho para qualquer portuense! No Porto mandam os portuenses, contra todos os comentadores, políticos “nacionais”, cantos de sereia, interesses, etc., etc. Rui Moreira não tinha nada a provar a ninguém. Como se viu tinha até muito a perder, com as acusações sem fundamento nem culpa formada de que foi sendo alvo. Aguentou estoicamente até ao fim. Ontem pareceu fácil, mas só ele saberá o quanto não foi. A vitória é toda dele e dos principais artífices da sua campanha… e bem merecida!

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Alice vota Moreira


No dia 20 de Março de 2013, data de lançamento da candidatura de Rui Moreira à Presidência da Câmara Municipal do Porto, a Alice “impôs” as suas condições para o seu voto incondicional [ver aqui].

As condições eram sete e bastará ler o programa eleitoral do candidato para perceber que elas foram integralmente respeitadas (a Alice confirma que não teve qualquer intervenção na elaboração do dito).

Para além disso, Rui Moreira deu uma dimensão social ao seu programa, quer ao nível da coesão, quer ao nível da habitação, que é equilibrada, pragmática e inclusiva por pretender trabalhar no terreno com o que já existe (a célebre rede), maximizando os recursos disponíveis.

Mas não é só por isso que Rui Moreira tem o voto incondicional da Alice…

Também não é só pela proposta de criação de um fundo de solidariedade para auxílio imediato às famílias mais vulneráveis…

Também não é só pela criação do cargo de Provedor da Habitação Social e pela proposta de evitar a deslocalização e o desalojamento dos moradores dos bairros populares e ilhas da cidade…

Também não é só pelo facto de Rui Moreira pretender chamar a si o controlo directo e o acompanhamento da pasta da economia e do emprego, dando o corpo às balas numa área em que, reconheça-se, é muito difícil um Presidente de Câmara fazer a diferença…

Também não é só pela promessa da Construção do Centro de Congressos do Porto; da instalação em Campanhã do Pólo Logístico de Apoio a PME do Porto; da constituição, também em Campanhã, de um Centro de Reindustrialização; do estabelecimento, em conjunto com a Universidade do Porto e com a UPTEC, de parcerias para a instalação de empresas, etc…

Também não é só pelo Programa Mercator, que pretende dar uma nova vida e dinâmica ao comércio na cidade…

Também não é só pelo compromisso com a inovação, promovendo a instalação de “start ups” e reforçando a relação com a Universidade…

Também não é só pelas propostas concretas, quer em termos de educação, turismo, segurança e mobilidade, onde fica claro o conhecimento do candidato da SUA cidade e a existência de uma ideia e uma estratégia concreta para a mesma…

Tudo isto é obviamente muito importante, a Alice não o nega.

Mas a batalha de Rui Moreira e o significado do sufrágio autárquico no Porto vai muito para além disto.

No próximo Domingo, discute-se no Porto a real exequibilidade de fazer política à margem dos partidos e dos políticos de carreira. Dos cidadãos independentes poderem ambicionar a ser protagonistas da história da cidade e, quem sabe, do País. Terem a sua voz, pensarem pela sua cabeça e darem um passo sem terem de pedir licença a ninguém, a nenhum grupo de interesses, a nenhum partido.

No próximo dia 29 de Setembro dá-se oportunidade às pessoas de proclamarem que querem algo de diferente, uma forma responsável de fazer política e, acima de tudo, uns protagonistas diferentes. Porque há muita gente farta de ver as mesmas pessoas eternizarem-se nos mesmos lugares! A realidade é que a vida política foi capturada por uma geração que não quer abdicar do poder e das prebendas que o mesmo lhes concede.

A Alice deseja uma mudança.

É por tudo isto que a Alice vai votar Rui Moreira, sem hesitações…

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

O ovo de… Alice


O nosso Governo tem andado com paliativos e medidas temporárias, exame da Troika após exame da Troika, para conseguir os seguintes objectivos prioritários:

(i) Cortar a despesa do Estado;

(ii) Aumentar a competitividade da economia e a sua balança externa;

(iii) Reduzir (ou pelo menos conter) a dívida pública, resolvendo o problema de financiamento da economia.

Corte das prestações sociais, das pensões, quadros de mobilidade, redução da TSU, aumento horário de trabalho, redução dos dias de férias, encerramento de serviços públicos, privatizações, etc. são tudo medidas que se destinam a “atacar” estes problemas.

A uma forte oposição das corporações há muito instaladas em Portugal (disfarçadas de “sociedade civil”), acresce uma improdutiva luta corpo-a-corpo com o Tribunal Constitucional.

Como é que estes problemas se resolveram no passado? Como alertou Vitor Bento em artigo recente no Diário Económico, também houve austeridade e cortes salariais e pensões só que “em vez de transparentemente assumidos, foram feitos subrepticiamente através da inflação, explorando a ilusão monetária dos beneficiários, que, passando a receber realmente menos, foram levados pela aparência de receberem nominalmente mais, sem que ninguém se preocupasse com a sua legalidade”. Não consta que o tribunal constitucional tenha sido chamado a pronunciar-se sobre este ajustamento.

A Alice acrescentaria que as políticas de desvalorização da moeda, ajudaram ao resto, nomeadamente ao reforço da competitividade do País.

Infelizmente, hoje não temos nem política monetária nem cambial.

No entanto, há uma alternativa para deflacionar a economia e os factores de produção através da utilização de um outro mecanismo de “ilusão monetária” que não a inflação.

É simples: passar a pagar ao factor trabalho com dívida pública nacional.

O mecanismo funcionaria da seguinte forma:

- Os funcionários públicos, pensionistas e afins (incluindo funcionários de EP) passariam a receber uma componente do seu salário em obrigações de tesouro (OTs) a 20 anos com um juro simbólico (para não haver grandes discussões, à mesma taxa que a Troika nos cobra, p. ex.);

- Os de salário mais elevado receberiam uma maior componente de dívida (por exemplo 30% do seu salário), enquanto que os de salário mais baixo receberiam uma menor componente (5%) – todos receberiam para que a medida fosse apreendida por todos;

- As empresas privadas também seriam obrigadas a aderir a este esquema (a bem da sua constitucionalidade), sendo que teriam liberdade para fixar as percentagens de salário dos seus trabalhadores que seriam pagos em dívida pública (com tectos máximos iguais aos dos funcionários públicos) – da mesma forma todos receberiam, pelo menos, a percentagem mínima em OTs (os tais 5%);

- Enquanto ao Estado basta emitir dívida, as empresas terão de a comprar no mercado, assegurando, desde logo, liquidez suficiente para todos os que necessitem convertam as suas OTs em dinheiro (um “twist” adicional seria as Empresas poderem pagar os salários com a sua própria dívida, mas levava a considerações muito mais complexas e a equidade não seria garantida da mesma forma…);

- Claro que o truque aqui (a tal “ilusão”) é que uma obrigação deste género deverá cotar em mercado a 30% ou 40% de desconto face ao seu valor nominal (uma obrigação com um cupão de 3,85% com vencimento em 2021 está hoje cotada a 82,24% do seu valor nominal), permitindo ao Estado e às empresas uma verdadeira poupança em termos reais;

- O Estado seria obrigado a amortizar dívida (ou recomprar dívida) num montante equivalente à dívida emitida para pagamento de salários (assegurando que a dívida total não aumentaria);

- A Troika aceitaria que todos os pagamentos em OTs a funcionário públicos, pensionistas e afins não contassem para o deficit (embora, como é óbvio, contem para a dívida).

Este mecanismo permitirá atingir os três objectivos acima definidos:

(i) A despesa do estado reduziria na proporção da componente salarial que seria paga em OTs (em bom rigor, a verdadeira poupança seria a correspondente à desvalorização de mercado da dívida no momento da sua emissão);

(ii) As empresas poupariam na medida em que o custo do trabalho teria uma redução pela arbitragem entre o valor facial das OTs e o seu valor de mercado;

(iii) Resolver-se-ia (pelo menos parcialmente) o problema do financiamento da economia, por alargar substancialmente o número de compradores (ou, mais propriamente, tomadores) de dívida pública.

Note-se que este mecanismo é apenas de transição e de efeito de curto prazo, aliás como seria um surto inflacionista ou uma desvalorização cambial. Os problemas de base teriam de ser resolvidos à mesma (ineficiência do Estado, despesismo, etc.), sob pena de rapidamente estarmos outra vez numa situação insustentável.

Caso tudo corresse bem, num par de anos, o “rating” da república Portuguesa começaria a aumentar e o valor de mercado da dívida recuperaria para valores mais próximos do seu valor facial. Assim, seria reposto o poder de compra dos salários (da função pública e do sector privado) e recuperado o valor “perdido” nos primeiros anos (para aqueles que mantivessem as suas OTs).

Este mecanismo tinha a virtualidade acessória de promover a poupança e uma literacia financeira ímpar (pelo menos todos passariam a acompanhar a evolução das cotações das OTs e deixavam de pensar que dívida pública é o investimento mais seguro do mundo – até alguns banqueiros aprenderiam com esta lição!).

É provável que haja uns acertos a fazer ao modelo (contabilidade nacional e contabilidade pública nunca foram o forte da Alice), mas não será por causa dos contabilistas que não endireitamos o País…

A Alice sabe que a sua proposta é atrevida. Mas também sabe o buraco em que estamos metidos. E para grandes males, nada como grandes remédios…

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Eleições na Alemanha – momento de viragem?



Havia para aí muito boa gente que aguardava as eleições na Alemanha como o momento de viragem na posição Alemã face à crise e, por consequência, na política europeia de combate à mesma.

A Alice receia que a vitória (quase) esmagadora de Merkel não vá contribuir para tal. Nada na personalidade da senhora nos garante que ela aguardava por este momento para se revelar uma política diferente do que tem sido até hoje. Na lógica de alguns, mais “visionária” (o que quer que isso signifique!). E quem a pode censurar? Na cabeça dela “só” está a defender os seus concidadãos, os seus eleitores. Tomáramos nós ter políticos assim… Que defendessem os nossos interesses até às últimas consequências… Externamente e internamente, claro.

Em termos económicos tudo vai seguir como até aqui.

A Política de austeridade é para continuar, sobretudo se a coligação for com os “falcões” do SPD (sim, porque não é só a Merkel que é exigente…).

A Alice está hoje convencida de que a Alemanha nunca aceitará flexibilizar a sua política orçamental para ajudar os países em dificuldade, nem permitirá qualquer escorregadela da política monetária europeia que ameace de alguma forma a estabilidade dos preços e da moeda.

Perdões de dívida só em caso de última necessidade, e sempre com castigo concomitante para privados (bancos, empresas e povo).

“Eurobonds” só como piada em “cocktails” diplomáticos e “coffee breaks” de reuniões do Eurogrupo e do G20. Alguém alguma vez acreditou que Merkel iria aceitar que Alemães garantissem dívida de Gregos (ou Portugueses)?

Como diz Wolfgang Munchau na sua coluna de hoje no FT, o máximo que teremos como política europeia é “pretend and extend”. Em bom Português: “empurrar com a barriga”. Mais um financiamento aqui, mais uma prorrogação de prazos ali, mais uma redução de juros acoli… Os problemas reais subsistirão!

É uma política discutível? Com certeza que é! Mas é a política de Merkel e que os Alemães validaram nas urnas!

Ainda bem que já passaram as eleições Alemãs. Agora podemos cair na real e voltar a fazer pela vida. Enquanto não nos capacitarmos que temos que ser nós a resolver os nossos problemas, estaremos sempre à mercê dos ciclos eleitorais dos outros e das suas decisões políticas. A Alice prefere resolver os seus próprios problemas a esperar que outros os resolvam…

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Ser Espiritual


Comentário da Alice ao livro "Ser Espiritual - da evidência à ciência" de Luís Portela



É impossível não nutrir uma profunda admiração por Luís Portela – Empresário. O seu trabalho à frente da Bial é notável e deve inspirar todos os que ambicionam a construir projectos empresariais de sucesso e impacto na sociedade, no País e no Mundo.

O trabalho de formiguinha de décadas, amealhando os lucros, ano após ano paulatinamente, investindo cada vez mais em investigação, formando pessoas, apostando (numa lógica não muito diferente do capital de risco) em áreas científicas e produtos diversos, acabou por dar os seus frutos e conduzir a uma empresa Portuguesa inovadora e competitiva internacionalmente.

O sector específico em que a Bial se insere e se distinguiu não é próprio para cardíacos. Um produto (ou molécula), até estar pronto, demora anos e anos de investigação, testes, avanços e recuos; requer milhões de investimento e, no final, apenas uma pequena percentagem acaba por passar no crivo apertado das agências internacionais de aprovação dos mesmos e do mercado.

Se há 30 anos alguém dissesse que iríamos ter hoje uma empresa tão distinta neste sector de ponta, ninguém acreditaria! Arrisco que nem o próprio Luís Portela! Em todo o caso, o caminho faz-se caminhando, e caminhar (ou, mais propriamente, escalar) foi o que Luís Portela e a sua equipa fizeram, e muito bem.

O que nos traz aqui hoje é uma outra dimensão deste empresário, é o Luís Portela espiritual, uma faceta que estamos pouco habituados a conhecer em empresários.

O livro “Ser Espiritual da evidência à ciência” pretende levar-nos pelo percurso reflexivo de Luís Portela sobre o Ser e sobre vários temas de carácter espiritual.

Os temas em si não são novos.

Com efeito, para quem (como a Alice) está habituada a ler livros como os de Damásio, de Tal Bem-Shahar, do Dalai Lama e revistas como a Scientific American ou a SA Mind, os conceitos propostos neste livro não são propriamente novos.

O que é novo (para além da articulação e sistematização de conceitos que o autor constrói de uma forma única e brilhante) é o facto de ser uma pessoa como Luís Portela a explicá-los. Ganham logo uma outra dimensão e legitimação.

Com efeito, não é comum ver empresários de sucesso a falar sobre temas como harmonia, reincarnação, consciência, sexto sentido, intuição, meditação, transcomunicação (comunicar com os mortos), telepatia, psicocinese, etc. Estamos mais habituados a ver estes temas abordados por pessoas de currículo duvidoso!

A realidade é que a confiança de Luís Portela nesta sua matriz espiritual é tão grande que ele está disposto a, como dizem os Americanos, “put his money where his mouth is”. Foi nesse sentido que criou a Fundação Bial que já apoiou mais de 1500 investigadores de 27 países nas áreas da Psicofisiologia e da Parapsicologia.

A Alice está em crer que, dentro de 30 anos, Luís Portela poderá ser o Champalimaud da Parapsicologia, pondo Portugal numa posição de relevo nesta área que ganhará certamente grande preponderância científica.

“A realização de atos dignos e benéficos gera satisfação por proporcionar a sensação de progressão na autoestrada da trajetória evolutiva, que cada um de nós vai fazendo.”

E que trajetória?

“Trajetória de aproximação progressiva à Sabedoria Total, ao Absoluto.”

Ao revelar-nos as suas ideias, ao desvendar aquilo que foi o seu próprio percurso nesta “perseguição” permanente pelo saber, ajuda-nos também a definirmos o nosso próprio trajecto. Mesmo que não tenha sido essa a intenção do autor…

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Vícios Privados e Públicas Virtudes



O tema da reestruturação do Grupo Queiroz Pereira tem sido ampla e detalhadamente veiculado na imprensa. Infelizmente para todos os envolvidos, de forma pouco edificante.

Os factos reportam-se a 2011. Apenas agora se descobrem porque, já diz o povo, “zangam-se as comadres…” e os tribunais portugueses não são de confiança para resolver tão complexo assunto.

A história tem todos os ingredientes de um bom drama (lembram-se do Dallas?): família com tradições históricas, irmãos desavindos, bancos e banqueiros poderosos, dinheiro (muito dinheiro), etc.

No entanto, para a Alice esta história não teria grande interesse (além da curiosidade universal de espreitar quintal alheio) não fosse a empresa que está no centro desta trama ser cotada em bolsa e ter uma quantidade de accionistas institucionais e individuais não desprezível (disclosure: a Alice não tem acções da empresa em questão).

É que este facto muda completamente os contornos do problema. As questiúnculas familiares de PQP ganham dimensão pública pois o que está em causa é uma alteração de controlo de uma empresa cotada que, à luz da legislação do mercado (aqui e em todo o mundo civilizado, financeiramente falando), obriga a uma OPA (Oferta Pública de Aquisição) para dar oportunidade aos accionistas minoritários de venderem a sua posição.

Claro está que os accionistas de controlo preferem não ter de efectuar tal operação. Porquê gastar dinheiro a comprar a posição de uns senhores simpáticos que são donos da empresa sem chatearem muito e sem receberem grande coisa em troca?

A CMVM vai investigar, pedir contratos, actas, etc. e vai chegar à conclusão que foi tudo feito “by the book”, de acordo com a lei. E bem. O problema é que o princípio da forma está sempre à frente do princípio da substância. E os advogados (habilidosos) têm sempre vários instrumentos para “vergar” a lei.

A realidade é que, por muito que os políticos e os agentes económicos glorifiquem os mercados, as grandes operações na bolsa portuguesa são montadas e decididas atrás de portas bem fechadas e os seus contornos últimos são desconhecidos para a maioria dos intervenientes (os milhares de investidores anónimos que são a base para existir qualquer mercado) que, como tal, não podem agir ou tomar decisões informadas sobre as mesmas.

E os casos são muitos e variados.

Veja-se o caso Sonae.com e Zon, da Galp, da própria EDP, todas com uma alteração substantiva dos seus negócios e/ou dos seus accionistas sem que os minoritários tenham tido qualquer oportunidade de “participar” nas decisões sobre as respectivas operações.

Mesmo nos casos em que existiram OPA (Ofertas Públicas de Aquisição), nunca são operações completamente transparentes e isentas de dúvidas.

Cimpor e Brisa são um bom exemplo.

No caso da Cimpor foram alguns accionistas que decidiram vender (a CGD registou neste caso o recorde mundial de rapidez de resposta a uma proposta do género) a outros 2 accionistas que, subsequentemente, partilharam os activos da empresa.

No caso da Brisa, soube-se pela imprensa que a empresa irá distribuir uns dividendos extraordinários aos accionistas e que alguns destes já terão inclusivamente actualizado em alta o valor das suas acções.

Resta acrescentar que ambas continuam cotadas.

Os prémios pagos nestas operações (face às cotações vigentes antes das mesmas) são ridículos quando comparados com os prémios pagos por operações similares nos EUA, por exemplo.

Não há respeito pelos investidores minoritários. Não há vontade de fazer com que os investidores ganhem dinheiro e se sintam bem no mercado. As empresas só pensam nos investidores minoritários quando é necessário dispersar o capital em bolsa.

Apesar da competência e esforço da CMVM, as regras e a praxis dos agentes do mercado não são compatíveis com a transparência, rigor e exigência que se espera neste tipo de esferas.

Depois queixamo-nos de que não há mercado!

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Triste democracia temos



As televisões nacionais decidiram passar a cumprir uma lei já antiga que as obriga a tratar todas as candidaturas eleitorais por igual.

Compreende-se. As leis são para cumprir e o tempo em que a concorrência saudável entre elas levou a que, há uns anos, uma estação tenha revelado uma sondagem antes do encerramento das urnas terminou. Hoje as televisões não ganham para pagar as multas da CNE!

Com centenas de municípios e milhares de freguesias, é humana e materialmente impossível estar em todas. Com a proliferação de candidaturas independentes, então, a tarefa torna-se ciclópica e financeiramente ruinosa.

Todos sabemos da importância das televisões na informação e esclarecimento dos nossos concidadãos. Infelizmente, os jornais têm uma diminuta expressão e as redes sociais ainda são um anátema para o cidadão médio.

Acabar com esta fonte de informação é dar mais poder aos instalados, nomeadamente partidos e figuras públicas mais conhecidas, e aos ricos, com capacidade económica para financiar espectaculares campanhas publicitárias (quem disse que os políticos se vendem como sabonetes não foi o director de uma televisão?). É a ditadura democrática dos instalados e dos ricos.

Isto num contexto em que, pelo aparecimento de candidaturas independentes com fôlego político (no Porto, por exemplo), estavam criadas as condições para que estas eleições fossem as mais interessantes de sempre.

Com efeito, a Alice considera que estas eleições têm suscitado mais debate (local, mas também nacional) e são mais interessantes do que quaisquer outras realizadas nos últimos 10 anos. Claro que a “tourada” dos candidatos “dinossauros” ajudou, mas o fenómeno dos candidatos independentes (mais ou menos dependentes) acrescentou alguma frescura e novidade à contenda.

A busca cega pela igualdade dá nisto. Ficamos todos mais iguais e todos mais mal informados. Espero que tal não signifique que tomemos decisões erradas para o País!

terça-feira, 10 de setembro de 2013

O combate na Educação Militar


A Alice pouco percebe de militares, guerras e sobre o seu ensino e metodologias pedagógicas.

No entanto, não alinha no populismo fácil daqueles que criticam os passeios a cavalo e as aulas de esgrima.

Tampouco faz sentido centrar o debate no custo anual por aluno que, diz-se, anda pelos €9.000/ano; quanto custará um aluno de medicina ou um dos alunos que frequentam os vários cursos que têm meia dúzia de discentes (sim, porque os há, como também há 66 cursos sem alunos: qual é o custo por aluno destes cursos?…)?

Se acreditamos que é necessário ter forças armadas (e a Alice acredita que sim), também temos que acreditar que é necessário ter uma educação de qualidade da sua elite. A carne para canhão é importante, mas não ganha guerras!...

O que realmente faz confusão à Alice é a forma que o debate sobre as reestruturações no ensino militar tem assumido. Não é muito comum que esse debate seja feito através de dispendiosos anúncios publicitários.

A Associação de Antigos Alunos do Colégio Militar não concorda com as reestruturações e então decidiu colocar nas televisões um anúncio em que várias personalidades (ex-alunos) perguntam: ”Porquê?”. Os anúncios não são nada elucidativos sobre o que se passa no Colégio Militar, porque é que os ex-alunos estão contra a reestruturação e quais as suas propostas para o ensino militar.

Apesar do respeito que a Alice tem por todos os protagonistas do anúncio (muito em particular pelo grande Adriano Moreira) esta forma de protesto pouco contribui para esclarecer os cidadãos (e, mais importante, os contribuintes) e nada acrescenta de valor à discussão. Deixa no espectador o sabor amargo de estar a assistir a (essa coisa tão portuguesa) uma tentativa de um grupo de interesse de influenciar decisões políticas (ou decisões de políticos).

Tanto quanto a Alice percebeu, a tal reestruturação passa por fundir o Colégio Militar com o Instituto de Odivelas e com o Instituto dos Pupilos do Exército. Isto levará a alterar o regime de ensino (interno vs. Interno), passar a ter meninas (o Instituto de Odivelas é feminino) e mais algumas alterações que a Alice não tem capacidade de alcançar.

A Alice não sabe se estas mudanças são para melhor ou não. Mas tem um desafio a propor à Associação de Antigos Alunos do Colégio Militar. Em vez de fazerem anúncios incompreensíveis para destinatários duvidosos, porque não proporem ao Estado assumir a gestão de todo o ensino militar? Poderiam contratualizar com o Estado um determinado nível de apoios (que, obviamente, teria que incorporar as poupanças que o Estado necessita) e exigir total autonomia pedagógica para gerir o sistema de ensino militar.

Os cidadãos, os contribuintes, os militares e os políticos agradeceriam. O que o País precisa é que os que criticam se responsabilizem e comprometam com soluções, sobretudo quando fazem parte da elite nacional…

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Silly Rentrée?


Terminaram-se as férias. Mas será que acabou a "Silly Season"?



Este ano a Alice optou por uma dieta rigorosa. O consumo de imprensa (escrita, radiofónica e televisiva), blogs e redes sociais foi eliminado. Em contrapartida, abusou de livros, reflexão e convívio com família e amigos.

Foi libertador! Os níveis de ansiedade e de stress foram reduzidos ao mínimo. O corpo alijou as suas habituais maleitas à força de muita corrida, futebol e ténis de praia. A mente pairou nas nuvens e ganhou umas tonalidades doiradas.

Ok! Confesso que este devaneio foi por diversas vezes interrompido pelos amuos, gritos e birras daqueles que, pela sua idade, ainda não alcançam a vertente mais contemplativa da condição humana. Mas até esses momentos foram delirantemente idílicos!

Citando Haruki Murakami, esse mago das palavras e eterno candidato ao Nobel da Literatura, no seu romance “1Q84”, a propósito do seu personagem Tengo: “Deixara de ler jornais. O mundo avançava sem ele”.

Ao contrário do personagem de Murakami, a Alice acha que o mundo não avançou. Está tudo na mesma. Os mesmos problemas, os mesmos actores, as mesmas questões que marcavam a actualidade antes das férias (e no ano passado, e no anterior…).

No palco nacional, as últimas decisões do TC só demonstram que passamos da “Silly Season” para a “Silly Rentrée”. No plano internacional, o putativo ataque à Síria deixa-nos hesitantes entre "pôr fim a uma atrocidade que já dura há quase dois anos" e o "que é que nós temos com isso; eles que se entendam".

Será que o problema é da realidade em si ou dos mensageiros? A este propósito André Macedo, director do Dinheiro Vivo, escreveu um excelente artigo de opinião (ver aqui) em que reflecte sobre o tema do jornalismo e do seu papel neste mundo que se move sem aparentemente se mover.

Diga-se, em abono da verdade jornalística, que o modelo económico dos media, tal como existe hoje, está ameaçado. Como é possível ter bons jornais quando os seus proprietários perdem dinheiro? Como é possível ter bons jornalistas se eles são cada vez pior remunerados?

Talvez a única boa notícia das férias tenha sido a compra do Washington Post por Jeff Bezos, dono da Amazon. A sua mensagem para o staff do jornal foi “Coloquem o cliente primeiro (notem que não disse leitor), inventem e sejam pacientes”. Estamos todos a torcer para que seja bem sucedido e que altere o modelo dos jornais (e, se possível, dos media) para melhor.

Já agora, se pudesse também alterar o mundo (ou Portugal, pelo menos) agradecíamos.