sexta-feira, 24 de maio de 2013

Vítor Gaspar e a Heroína


Heroin, be the death of me
Heroin, it's my wife and it's my life
Because a mainer to my vein
Leads to a center in my head
And then I'm better off than dead
Because when the smack begins to flow
I really don't care anymore
About all the Jim-Jim's in this town
And all the politicians makin' crazy sounds
And everybody puttin' everybody else down
And all the dead bodies piled up in mounds 

Heroin, Velvet Underground 

Este é mais um dia triste para a Alice. Concluiu que o seu Governo está viciado. Dependente de medidas temporárias. Agarrado a concepções utilitárias da política e a opções económicas que se destinam exclusivamente a obter um fluxo imediato de sensações inebriantes e atingir o zénite do prazer desmedido e imediato. 

O Governo anda a dar na heroína! 

Essa droga que alivia, mas não cura. Dá prazer, mas é seguida da ressaca. Anestesia, mas corrompe. Inebria, mas cobra o seu preço. 

O Governo não conseguiu aguardar pelo resultado do trabalho, que a Alice imagina estar a ser desenvolvido com seriedade e rigor, da comissão liderada por Lobo Xavier. A expectativa é que este abrisse caminho, ainda que longo e sinuoso, para uma maior competitividade fiscal do País, colocando-o em posição de ombrear com os seus congéneres Europeus que mais se distinguem neste capítulo. 

Preferiu, antes, a injecção no braço. Novamente a navegação à vista, devido à preocupação com o cumprimento dos números para o final do ano. Quando toda a gente avisou, em devido tempo, que as previsões do PIB eram impossíveis de cumprir, eis a medida certa para ainda tentar provar que os velhos do restelo não tinham razão. 

Quem investir até 31 de Dezembro de 2013 pode deduzir na sua factura fiscal 20% do valor investido. Até um máximo de €5 milhões de investimento. Despachem-se senhores empresários, que o tempo já está a contar… 

Já tínhamos o corte temporário de salários dos funcionários públicos, a contribuição extraordinária de solidariedade, só faltava mesmo o crédito fiscal com prazo de validade… de 6 meses… 

Alguém acredita que as Empresas são tão incompetentes quanto o Governo? Alguém julga que uma Empresa vai agora fazer um investimento à pressa para ter acesso a um “super” crédito fiscal? Alguém crê que uma Empresa faz um investimento desconhecendo o restante quadro fiscal em que se movimentará nos anos que se seguem? 

Claro que algumas empresas aproveitarão esta medida. Todas aquelas que já tinham equacionado investimentos para o segundo semestre e que os fariam independentemente de terem crédito fiscal ou não. Resultado: o crédito fiscal apenas conduzirá… à redução das receitas fiscais.

No entanto, não conduzirá a investimento adicional por parte das Empresa que não tinham qualquer um previsto, muito menos servirá de argumento para atrair qualquer tipo de investimento novo por parte de Empresas estrangeiras (quem julga que sim, é ingénuo ou incompetente).

A Alice fica à espera, não muito pacientemente, da próxima rodada de substâncias alucinógenas. 


quinta-feira, 23 de maio de 2013

A Bolsa é a nossa salvação?



O Ministro da Economia anunciou ontem a aposta na Bolsa para reforçar o capital das Empresas, com especial destaque para as PMEs. É uma decisão no bom sentido e sinal de que o Governo começa a levantar cabeça. 

A Alice já vem falando deste tema desde Agosto de 2009 (ver aqui), que considera de importância fulcral para o crescimento da economia. Não é demais recordar que o último período da nossa história em que o crescimento foi mais acentuado coincidiu com o período de grande desenvolvimento da Bolsa Nacional (ainda se recordam das célebres 7 OPVs da SONAE em 1987? 

Na altura, a Alice prometeu desenvolver o tema um pouco mais e daí este post que foca em especial o mercado Alternext. 

Enquadramento 

As Empresas Portuguesas enfrentam severos constrangimentos ao desenvolvimento da sua actividade, dos quais a insuficiência de capitais é um dos mais importantes. 

Assim, nesta matéria, assiste-se genericamente a: 

  • Deficiente capitalização das Empresas (fundos próprios dos promotores / accionistas insuficientes); 
  • Dificuldade de acesso a crédito bancário (bancos também com problemas de capitalização e liquidez) ou a fontes de financiamento alternativas (mercado de capital de risco exíguo); 
  • Nalguns sectores, como por exemplo no caso das Empresas de base tecnológica ou de Empresas baseadas em conhecimento que não dispõem de activos tangíveis, esta dificuldade é ainda mais aguda. 

Por outro lado, o Estado encontra-se também circunscrito no tipo de ajudas que pode facultar às Empresas que sofrem das limitações acima referidas: 

  • Critérios comunitários que fundamentam os apoios (muito direccionados para PMEs e para áreas geográficas delimitadas); 
  • Sobrecarga do erário público; 
  • Maior escrutínio dos apoios concedidos e dos seus destinatários; 

O mercado Alternext 

O mercado Alternext encontra-se integrado na NYSE / Euronext e foi desenhado especificamente para acolher PMEs. Não abdicando do essencial para garantir a protecção dos investidores e assegurar a liquidez do mercado, tem regras de admissão mais simples e de menor custo para as Empresas do que o mercado dito tradicional. 

Este mercado foi lançado em Maio de 2005 e conta actualmente com cerca de 200 Empresas cotadas nas praças de França, Bélgica e Holanda. Dos sectores mais representativos destacam-se o Tecnológico e o Industrial. 

Estão catalogados mais de 200 investidores institucionais de 30 países diferentes que se especializam neste mercado, sendo que cerca de 50% são Franceses. Existem alguns investidores de dimensão considerável que prestam uma atenção particular a este segmento de mercado, sendo de destacar: Allianz, Axa, Natixis, Rothchild, JP Morgan, etc. 


O Alternext em Portugal – Dificuldades de implementação 

Pese embora o esforço de divulgação feito ao longo dos últimos 7 anos pela equipa da Euronext de Lisboa, apenas existe uma Empresa cotada no mercado Alternext em Portugal (a ISA - Intelligent Sensing Anywhere, S.A., que foi para o mercado no ano passado). 

As principais razões para este facto são as seguintes: 

  • Dificuldade em demonstrar junto das potenciais Empresas a colocar no mercado os benefícios da cotação; 
  • Falta de massa crítica numa fase inicial para que entre rapidamente em velocidade cruzeiro; 
  • Falta de interesse por parte dos intermediários financeiros em promover este mercado; 
  • Não existem em Portugal investidores especializados neste tipo de activos (nem aparecerão enquanto o mercado não existir…). 

Enquanto não se quebrar o ciclo vicioso de não há Empresas, … não há intermediários, … não há investidores, … não há mercado, não há Empresas …, o mercado Alternext terá dificuldade em arrancar em Portugal. 

Benefícios para a Economia 

A criação de mecanismos alternativos para a capitalização das Empresas, nomeadamente via Alternext, é fundamental para apoiar os desígnios estabelecidos para a Economia Portuguesa de: (i) criação de Emprego; (ii) internacionalização das Empresas; (iii) apoio às PMEs; (iv) melhoria qualitativa do tecido empresarial; e (v) aumento da transparência do tecido Empresarial. 

O enquadramento destes novos mecanismos deverá ter em conta o seguinte: 

  • A capitalização adequada das Empresas, sobretudo das PMEs, é fundamental ao seu crescimento sustentável, com geração de Emprego e melhoria do seu posicionamento competitivo, interno e externo; 
  • É fundamental existirem mecanismos alternativos que permitam e promovam esta capitalização, atendendo a que os mecanismos actualmente existentes têm-se revelado exíguos; 
  • Estes mecanismos alternativos deverão funcionar independentemente dos intermediários financeiros instalados no mercado e, desejavelmente, do sector público; 
  • Ainda que haja alguma participação pública, num momento inicial, esta deverá ter como principal objectivo a indução do aparecimento desses mesmos mecanismos alternativos, garantindo a total transparência de métodos de actuação e de critérios de decisão; 

Formato para a Implementação em Portugal 

Há fundamentalmente duas restrições que urge resolver para que o mercado Alternext possa arrancar em Portugal: 

  • Reunir um conjunto de Empresas para avançar simultaneamente para cotação no mercado Alternext (assegurando um mínimo de massa crítica deste o momento de arranque do mercado); 
  • Reunir um conjunto de investidores disponíveis para investir nas primeiras emissões deste novo mercado. 

Relativamente ao primeiro ponto, a questão essencial será seleccionar e desafiar um conjunto de Empresas (num mínimo de 10) credíveis, que se constituam como “Empresas modelo” do seu sector e do tecido empresarial Português, com um percurso que interesse valorizar (ex. crescimento do Emprego, aposta em I&D, internacionalização da sua actividade, tecnológicas, etc.). Estas Empresas seriam “Pioneiras” deste mercado e a pertença a este clube restrito constituíria, só por si, uma distinção. Em todo o caso, importaria haver um apoio a este conjunto de Empresas, seja pela via fiscal, seja pela comparticipação nos custos desta acção.

Relativamente ao segundo ponto, sem prejuízo da captação de investidores privados, sempre essenciais a que um mercado deste género funcione de uma forma saudável, haverá necessidade de canalizar um conjunto de fundos públicos que assegure a primeira fase de dinamização do mercado. Assim, seria essencial: 

  • Do lado do investimento privado: incentivos fiscais para trazer investidores para este mercado; 
  • Do lado do investimento público: criação de um fundo autónomo para investimentos exclusivos no mercado Alternext, desejavelmente de gestão privada; a ser complementado por fundos semelhantes geridos por duas ou três entidades públicas com vocação para este tipo de investimentos, como por exemplo a CGD ou o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social. 

A título meramente exemplificativo do potencial de indução deste modelo, podemos considerar que um Fundo autónomo de apenas cerca de €30 milhões, complementado com alocações semelhantes de mais 2 entidades públicas permitiria ter disponíveis cerca de €100 milhões para arrancar com este mercado, o que seria suficiente para financiar a cotação de cerca de 25 Empresas (considerando que a colocação média de OPV é de cerca de €4 milhões e o conjunto dos Fundos públicos não deveriam tomar mais de metade do valor da colocação).

A Alice entende que há poucas medidas com a capacidade de mudar atitudes, consciências e práticas tão eficazes como estas que aqui se apresentam. Esperemos que, ao fim de 7 anos, seja o momento para as colocar em prática.

terça-feira, 21 de maio de 2013

O Fisco ganha à comissão


A Alice não podia ser mais favorável à introdução de mecanismos de avaliação e de prémios na administração pública em geral e na autoridade tributária em particular. É isso que tem defendido neste blog. No entanto, entregar como bónus aos funcionários dos impostos 5% da receita da cobrança coerciva em 2012 é uma medida que falha claramente o alvo. 

A primeira questão passa por saber se a cobrança coerciva mede, ainda que aproximadamente, o desempenho da autoridade tributária. Não é preciso reflectir muito para perceber que não. 

A cobrança coerciva decorre de arrecadar impostos que os contribuintes se atrasaram a entregar ao Estado ou que não entregaram por estarem em litígio com o próprio Estado. Em alturas de crise, é perfeitamente natural que os atrasos e os litígios aumentem e a cobrança coerciva aumente proporcionalmente. Em suma, os funcionários do fisco estão a beneficiar da crise. 

Este facto é agravado pelo facto das taxas e coimas terem aumentado brutalmente em 2012. Os valores a cobrar aumentam pelo efeito das maiores taxas e, quando há incumprimento, os valores em falta são provavelmente maiores, aos quais acrescem coimas maiores. Neste caso, os colaboradores da autoridade tributária estão a beneficiar das decisões políticas de aumentar taxas e coimas, decisões que, obviamente, não dependem do seu desempenho. 

A realidade é que a actividade tributária é muito mais vasta do que a mera cobrança coerciva. Bastaria analisar a percentagem de colaboradores do fisco que estão ligados à cobrança coerciva (a Alice não tem o número mas desconfia que é muito baixa) para perceber que a cobrança coerciva nunca poderia servir para compensar o desempenho de todo o fisco. 

A segunda questão passa por perceber se este mecanismo de bónus estimula os comportamentos adequados nos trabalhadores da autoridade tributária. Com este sistema, o ideal é que os contribuintes não cumpram as suas obrigações fiscais. Só assim é que se gerará uma oportunidade para cobrar coercivamente. 

Em vez de se estimular a cobrança em “situações normais”, está-se a estimular a cobrança "em incumprimento". Não seria saudável que os fiscais do Estado, em vez de virem a posteriori controlar o que foi mal feito, viessem a anteriori aconselhar as Empresas sobre o tratamento fiscal a dar a certas questões mais controversas? 

Para além disso, haverá um esforço de cobrança a todo o custo, sem qualquer preocupação com a legitimidade do valor cobrado (sabe-se que, não raros casos, não existe) ou qualquer consideração quanto à capacidade de pagamento do contribuinte. 

Todos os colaboradores do fisco que não estejam directamente ligados com a cobrança coerciva não vão sentir grande estimulo para melhorar o seu desempenho. Afinal de contas, a sua capacidade de influenciar os prémios é nula! 

Já nem vamos comentar a necessidade de medir e controlar custos, medir e controlar qualidade dos serviços e minimizar erros, tudo matérias importantes que faria sentido integrar num sistema de incentivos a sério. 

Finalmente, a terceira questão prende-se com a ética ligada a esta medida, quer na relação de funcionários públicos com os contribuintes, quer na relação dos próprios funcionários públicos entre si. 

Com efeito, está na mão de um conjunto pequeno de cidadãos a capacidade e os instrumentos para decidirem em causa própria e no seu interesse (aumentar prémios) contra um conjunto de outros cidadãos. Para além disso, o poder que a autoridade tributária tem (para gerar prémios) é desproporcional face a qualquer outro colaborador da administração pública. 

A Alice considera que este sistema de remuneração variável não mede desempenho, não incentiva comportamentos adequados e distingue cidadãos e funcionários públicos entre si. É um sistema injusto e ineficaz. É mais uma área que exige a célebre reestruturação (ou é refundação?) do Estado! 

segunda-feira, 20 de maio de 2013

A Taxa Tobin


A introdução desta taxa tem sido amplamente discutida ao longo dos últimos anos. Para os menos familiarizados, esta taxa incidirá sobre as transacções financeiras de mercado, sendo que existirão taxas diferenciadas para vários tipos de instrumentos.

Os argumentos habitualmente utilizados pelos seus proponentes baseiam-se, essencialmente, na necessidade de domesticar os temíveis especuladores internacionais, impondo-lhes custos de transacção mais elevados e de controlar mais de perto o fluxo de transacções.

Os seus detractores defendem que a estrutura de mercado será negativamente afectada pela diminuição de liquidez, que se traduzirá num aumento de custos de transacção, muito para além do valor da taxa. Subsidiariamente, a introdução de tal taxa poderá penalizar o movimento de capitais, prejudicando obviamente os países mais frágeis no contexto financeiro internacional (como Portugal).

Aos primeiros, a resposta da Alice é a de que, ao contrário do que é crença corrente, os especuladores são muito necessários (tomam risco que mais ninguém toma, trazem liquidez ao mercado, etc.) e, ao contrário do que imaginam, a maioria dos especuladores não chegará a pagar verdadeiramente esta taxa (as comissões que os grandes fundos pagam para transaccionar no mercado são um verdadeiro mistério, sendo que a Alice não se surpreenderia que a maior parte dos bancos devolvessem, via "kickbacks", qualquer taxa que a CE decida cobrar). A verdade é que, no final do dia, quem pagará esta taxa serão sempre os mesmos: os clientes individuais pequenos e médios e os clientes empresariais.

Aos segundos, a Alice responde com os vários estudos académicos que têm sido desenvolvidos sobre esta matéria, cujos resultados apontam para que o impacto da introdução de uma taxa deste tipo dependa... da dimensão da taxa (que surpresa)! Não vale a pena dramatizar a sua introdução, desde que a taxa seja comedida.

Deixemos-nos de ingenuidades, a Comissão Europeia está a salivar por ter uma fonte de receita para alimentar os egos e as ideias despesistas dos seus dirigentes, sempre limitados na sua acção visionária pelos rigorosos ditames dos países que são contribuintes líquidos para o orçamento da Comunidade. Os "mercados" e os "especuladores", essa amálgama de agentes mal definida que serve sempre de saco de pancada e de justificação para todas as imposições que se pretendem fazer aos bancos e às transacções financeiras, procuram, como é óbvio, pagar sempre o mínimo possível pelas transacções que têm que fazer (quer exista taxa, quer não). Continuarão a transaccionar independentemente dos custos, desde que antevejam... que vão ganhar dinheiro!

Tendo em conta estas considerações, a questão que se impõe é: porquê agora? (deixando para segundas núpcias outra igualmente pertinente de: para quê o dinheiro?) Num momento em que a Europa precisa desesperadamente de todos os pequeninos pontos de produtividade que consiga reunir para competir com outros gigantes (falem na China ou nos EUA em impor uma taxa desta natureza e ouvirão a resposta que levam), qualquer incremento da estrutura de custos conta e qualquer factor que potencialmente diminua o apetite dos investidores globais para virem para a Europa é um tiro no pé.

Como tem sido hábito, a Europa brinda-nos com políticas erradas em momentos errados. Se a Europa fosse um clube de futebol, a Alice devolvia o seu cartão de sócio!


sexta-feira, 17 de maio de 2013

Pai nosso que estais em Belém

Pai nosso que estais em Belém
Santificada seja a Vossa reforma
Venha a nós o Vosso pleito
Alguém pague a Vossa vaidade
Tanto na Europa como no Algarve

O pão nosso que o Gaspar nos tira hoje
Perdoai-nos vivermos acima das nossas pertenças
Assim como nós perdoamos a quem nos tem oprimido
E não nos deixeis cair em ostentação
E livrai-nos do ócio até à fase terminal

Ámen

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Pensões - E que tal começar de novo?


O Jornal de Negócios de ontem dedicou alguns artigos ao tema da segurança social.

Já todos sabemos, de alguns anos a esta parte, que o sistema da segurança social caminha para a insustentabilidade. No entanto, atendendo à sensibilidade do tema, os políticos optaram sempre por ir adiando a sua resolução, contando sempre que, quando a bomba estourasse, já seriam outros a ter de arcar com as consequências.

A última revisão digna de nota foi sob a égide de Vieira da Silva durante o Governo Sócrates que mais não fez do que alterar a fórmula de cálculo das pensões, baixando-as, obviamente, para garantir a sustentabilidade do sistema por mais vinte ou trinta anos. Como a fórmula tinha um efeito diluído no tempo, a reforma passou sem protestos de maior.

O problema é que a crise que vivemos agravou as contas da Segurança Social (menos contribuições e mais subsidios de desemprego). A Alice não vai maçar os seus leitores com grandes desenvolvimentos sobre taxas de natalidade, taxas de actualização, contribuições definidas, insuficiências de provisões, etc. Até porque basta utilizar algum bom senso para perceber o problema.

Independentemente de eventuais considerações sobre a qualidade da gestão do dinheiro que foi feita ao longo do tempo, a grande razão para a insuficiência de fundos actualmente existente é a incompatibilidade entre os valores que as pessoas descontaram para a segurança social durante a sua carreira contributiva e aqueles que receberam ou esperam receber, a título de todo o tipo de subsídios e reformas.

Com efeito, várias distorções foram sendo introduzidas no sistema, quer através de cálculos de pensões demasiado generosos (o esquema de contar o último salário auferido ou mesmo o dos melhores 10 anos dos últimos 15 quando, na esmagadora maioria dos casos, estes não têm correspondência possível com os 25 anteriores), quer através de vários estímulos (no privado e no público) às reformas antecipadas.

Tal conduziu-nos a um sistema profundamente injusto, no qual os contribuintes actuais estão a pagar para o sistema os montantes necessários para que este honre as suas responsabilidades com desempregados e reformados, sem qualquer garantia de que, quando chegar a sua vez, alguém estará disponível para suportar os seus encargos.

A solução que tem sido adoptada pelo actual Governo de reduzir pensões, introduzir taxas sobre taxas, alterar fórmulas e outras propostas, estão a indignar, compreensivelmente, os pensionistas que se sentem espoliados de um valor para o qual andaram uma carreira a contribuir. Tal pode ou não ser verdade, embora a Alice admita que, na maior parte dos casos, não será bem assim. Aquilo que a Alice tem a certeza é que alguns pensionista sairão muito prejudicados (os que, de facto, tiveram uma carreira contributiva "rica" e descontaram na proporção do que estão agora a receber), outros sairão muito beneficiados (porque, pelas fórmulas de calculo enviesadas, descontaram proporcionalmente menos do que o que estão agora a receber). A Alice também tem outra certeza: mesmo com todas estas reduções, todos estão beneficiados face aos contribuintes actuais, pois esses nem sabem se haverá dinheiro para lhes pagar a reforma quando lá chegarem!

A Alice entende que este não é o caminho. Enquanto as pessoas não perceberem para o que descontam, quanto, com que frequência e para receberem quando, quanto e como, estas injustiças não serão sanadas.

É aqui que entra o modelo sueco, tão bem explicado no Jornal de Negócios de ontem. Este modelo é constituído da seguinte forma: há um primeiro pilar para baixos rendimentos no qual os seus beneficiários têm direito a uma pensão mínima a partir de 65 anos e financiado pelo orçamento de Estado; o segundo pilar é dividido em duas tranches. Uma de 16% que é creditada numa conta corrente "ficcionada" de cada trabalhador, à qual é aplicada uma taxa anual que segue o crescimento médio da remuneração da população activa. A mensalidade a receber posteriormente é obtida pela soma de descontos dividida pelo número de anos de esperança de vida à data de aposentação. A segunda tranche de 2,5% pode ser aplicada discricionariamente por cada um em fundos privados. Uma nota importante, após os 61 anos qualquer um se pode reformar. Já sabe que quanto mais cedo se reformar menos receberá de reforma porque menos tempo contribuirá.

Isto é, o que o contribuinte sueco ambiciona a receber do "sistema" corresponde exactamente ao que nele meteu. É uma lógica de mealheiro que qualquer um, por mais parcos conhecimentos financeiros que tenha, perceberá facilmente. É a responsabilização máxima dos contribuintes e cidadãos, sem perder a tónica da preocupação social que estará sempre garantida pela pensão mínima.

A Alice gostaria que um sistema deste tipo fosse aplicado em Portugal. Já que estamos a pegar no tema porque é que, em vez de reduzir indiscriminadamente as pensões a todos, como se fossem todos iguais, não alteramos o esquema para um modelo semelhante ao Sueco? Certamente que seria mais fácil explicar às pessoas que a sua pensão vai ser reduzida pois o que descontou não suporta o que hoje recebe, do que dizer-lhes que são imposições da Troika! Obviamente, respeitando a necessidade de existirem pensões mínimas e de haver um ajustamento gradual no tempo.

Seria um sistema muito mais justo, muito mais fácil de explicar a todas as pessoas e permitiria dar uma esperança aos contribuintes actuais de que estão a pagar para algum dia receberem. É importante que as pessoas tenham a noção de que o que contribuem tem um retorno e de que receberão mais se descontarem mais.

É altura de decisões arrojadas e inovadoras. Quanto mais tarde implementarmos as alterações necessárias mais pobre e podre estará o "sistema" e menos confiança as pessoas terão nele.

Lisboa eleita pela Entrepreneur


Lisboa foi eleita pela prestigiada revista Americana Entrepreneur como uma das nove cidades do mundo mais interessantes para lançar Empresas tecnológicas. São excelentes notícias para quem precisa de captar investimento e atenção do mundo dos negócios.

As restantes seleccionadas foram: Amsterdão, Bangalore, Bogotá, Dublin, Nairobi, São Petersburgo, Estocolmo e Toronto.

No sentido de reforçar o posicionamento de Lisboa nesta lista e, quem sabe, tentar colocar mais algumas cidades Portuguesas no "radar" (o meu Porto, pelo menos) importa reflectir sobre as razões que precederam a estas escolhas.

1.População qualificada / Ligação a Universidades
É o caso de Bangalore que atrai todas as pessoas tecnologicamente qualificadas na India e que querem seguir carreiras em Start-ups de tecnologia. No campo da ligação às Universidades temos ainda São Petersburgo (University of telecommunications), Estocolmo (Stockholm School of Entrepreneurship) e Toronto (Institute of Quantum Computing).

2. Acesso a Fundos de Investimento (especialmente internacionais) e incubadoras/aceleradoras
Neste campo a oferta nestas cidades é muito vasta. Temos um bom exemplo em Bangalore (Kyron Accelerator), alicerçado em investidores internacionais e em Toronto (Communitech), onde já se financiaram mais de 1000 Empresas que vieram a gerar receitas de $30Bi. Outro exemplos: iHub e NaiLab em Nairobi, Ontario Emerging Technology Fund, também em Toronto e a Incubator Ingria (São Petersburgo).

3. Fiscalidade
Dublin leva o pódio nesta matéria (IRC de 12,5%), que lhe permite atrair multinacionais como a Google, LinkedIn, Facebook, Yahoo, etc. que, por sua vez, necessitam de quadros qualificados e de outras Empresas de tecnologia à sua volta. Amsterdão também classifica bem nesta variável.

4. Pouca burocracia e baixos custos
Bogotá é a campeã da região no tempo necessário para criar Empresas, cerca de metade da média de toda a América Latina e Caraíbas! Também oferece custo de vida baixo, para Empresas e seus quadros. Amsterdão, Nairobi e Bogotá também classificam bem nesta variável.

5. Eventos/Instituições que promovem o empreendedorismo
Este tipo de iniciativas contribuem para atrair pessoas qualificadas e posicionar as cidades como "Business Friendly". Start-up Festival (Bangalore) e Web Ready Conference (São Petersburgo) são excelentes exemplos de eventos. Associações não-lucrativas como a Appsterdam (Amsterdão) e a Câmara de Comércio de Bogotá têm também um contributo importante na atractividade das respectivas cidades.

Lisboa integrou a lista pelo tempo e pela comida (claro!) mas também mereceu um grande destaque a existência da Start-up Lisbon, uma incubadora criada pelo Município de Lisboa, pelo Montepio e pelo IAPMEI que tem conseguido captar um leque de Empresas muito interessante e a Portugal Ventures (que não é só para Lisboa, mas os Americanos não sabem...), com Fundos de Investimento que totalizam €600M (embora a maior parte esteja já investido).

Se já temos o mais difícil (bom tempo e boa comida não se criam por decreto nem se compram com dinheiro), podemos criar condições para sermos muito atractivos para Start-ups. O velho sonho de sermos o Sillicon Valley da Europa é alcançável. A Alice sugere as seguintes áreas de actuação prioritária:

- Fiscalidade, fundamental para atrair multinacionais e quadros qualificados;
- Programas que potenciem a passagem de "know-how" das Universidades para as Empresas e "Spin-offs" Universitários;
- Redução da burocracia nos primeiros anos de vida das Empresas;
- Busca de uma área de especialização científica que possa servir como pólo de atracção internacional (à semelhança do que já hoje é a Fundação Champalimaud na sua área).

Tudo coisas que exigem apenas determinação, foco e alguma sensibilidade para aquilo que estas Empresas necessitam. Está ao nosso alcance!

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Rui Moreira – A aquecer as turbinas


A semana passada foi uma semana importante para a candidatura de Rui Moreira. No Sábado ocorreu a apresentação da lista de mandatários e na Sexta-feira um evento de discussão sobre o vector económico do programa para a Câmara.


As personalidades que se têm vindo a juntar ao “nosso partido é o Porto” contribuem para o fortalecimento da posição do candidato Rui Moreira a Presidente da Câmara. “Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és” é, diz o povo, um barómetro eficaz. Goste-se ou não se goste de Rui Moreira ou do seu estilo, é agora claro que conseguiu reunir um conjunto de nomes de valor e qualidade inquestionáveis. 

São os suspeitos do costume, dirão os cínicos. Não é verdade. A Comissão de Honra está recheada de nomes sonantes da elite Portuense, como não podia deixar de ser. No entanto, os mandatários da candidatura, aqueles que vão trabalhar activamente e imprimir o seu cunho na campanha e, espera-se, no programa e estratégia a ser implementada na condução da gestão da Câmara, têm uma composição bastante equilibrada. 

Com efeito, para além de todos terem competência e qualificações ímpares, há um saudável equilíbrio entre a experiência grisalha e a força da juventude. Se temos Valente de Oliveira como mandatário-geral, também temos nomes como Francisco Ramos e Ana Teresa Lehman. A Alice será suspeita para falar pois conhece os dois pessoalmente, mas os seus CVs não são suspeitos e falam por si. Estes nomes representam o que de melhor o Porto tem para contribuir para uma candidatura independente. O primeiro já com uma longa experiência política, a segunda a ver-se nestas lides pela primeira vez, mas ambos profissionais de primeira água nas suas respectivas profissões.

O desafio lançado no Sábado por Francisco Ramos, estendido a todas as candidaturas, de uma campanha poupada e comedida em termos de meios e gastos é genuíno e atesta a vontade desta candidatura fazer as coisas de um modo diferente, num enquadramento nacional e local que é, também ele, diferente. 

Na passada sexta-feira, Ana Teresa Lehman liderou um painel sobre economia, onde se começaram a desenhar os primeiros contornos do que será o programa de Rui Moreira nesta área, que será um dos três pilares da sua estratégia para a cidade, a par da coesão social e a cultura. 

Não fazer promessas mirabolantes de investimentos e realizações faraónicas. Não desconfiar do sector privado, antes tentar estabelecer plataformas de colaboração que permitam fazer mais com menos. Neste sentido, trabalhar em rede com o que a cidade tem de melhor: universidades, agentes culturais, associações locais, etc. Aproveitar o que o Estado já faz em áreas importantes para a cidade (por exemplo, atracção de investimento estrangeiro), não duplicando esforços nem desperdiçando recursos. Intervir activamente junto do Governo central para contribuir para que o processo legislativo seja virtuoso para a cidade. Envolver-se directamente nas negociações fundamentais no campo Europeu (fundos QREN). Promover externamente o Porto, como destino para as artes, o turismo e o investimento. Mexer na fiscalidade para alinhar os interesses de cidadãos e cidade, nomeadamente no que diz respeito ao património (IMI, por exemplo). 

Apesar de a Alice ser céptica quanto ao contributo que a Câmara pode dar, por si só, para o crescimento económico, não haja dúvida de que se pode fazer melhor e de que a promessa de Rui Moreira de tornar a cidade mais "business friendly" é o caminho para se construir uma cidade aberta às Empresas e ao Empreendedorismo, com oportunidades para todos, honrando o legado histórico da cidade.

Foi uma sessão animada em que a assistência teve oportunidade de esclarecer algumas dúvidas e de trocar impressões com o candidato. Infelizmente apenas os presentes, os seguidores da candidatura nas redes sociais e, agora, os leitores da Alice terão conhecimento do que aí se passou e foi discutido. O evento não contou com a presença de qualquer representante da imprensa. 

A Alice entende que os órgãos de comunicação social tenham as suas simpatias políticas. A Alice compreende até, na esteia da melhor tradição anglo-saxónica, que os media assumam e defendam veementemente as suas posições políticas. O que não se admite e é profundamente lamentável é que os jornalistas se demitam de informar, abdiquem do contraditório e prescindam de uma fatia importante da realidade. Sobretudo quando se discutia um tema importante para a candidatura e para a cidade.

Rui Moreira, tendo conhecimento desta parcialidade, tem de ser mais habilidoso na organização destes eventos. Porventura trazendo mais alguns nomes sonantes da sua Comissão de Honra ajude a arrastar os media… 

Em todo o caso, ao não marcarem presença nestes eventos, os jornalistas fazem um péssimo serviço à cidade, à profissão e a si próprios. Ainda vão a tempo de emendar a mão. A Alice deseja que o façam. 


quarta-feira, 8 de maio de 2013

CGD – Tudo que vem à rede é peixe?


A Alice tem seguido com atenção a novela do processo de insolvência da Pescanova na vizinha Espanha. 

A história é rocambolesca porque envolve manobras contabilísticas pouco claras, projectos megalómanos, participadas em vários países, CEO a vender acções meses antes da bomba explodir e dificuldade em saber exactamente de quanto é a dívida bancária do Grupo. As acções da Empresa encontram-se suspensas na Bolsa de Madrid e a CMVM Espanhola está a investigar o caso à séria. 

Qual não é o espanto da Alice ao saber pela imprensa da especialidade que a nossa CGD (sim, porque ela também é um pouco minha) só será o quarto maior credor da Pescanova (disseram bem, 4º?) e o maior credor internacional (?), com uma exposição estimada de €120 milhões. Autch! Não é “swap”, mas dói na mesma! 

Porque será que, quando se fala em Bancos cá dentro a ganhar dinheiro à grande e à nossa custa, com os swaps, são sempre os Goldman Sachs, os JP Morgans e os Deutche Banks que aparecem e quando se fala em Bancos lá fora a perder dinheiro à grande e à nossa custa são sempre as CGDs e BPNs e outros que tais? 

Será isto o fado? Se não é, pelo menos existe! E é triste!

A Alice já questionou aqui (CGD na alta finança internacional) as histórias muito mal contadas da exposição internacional da CGD. É os financiamentos em Espanha (a próxima bomba será a La Seda), as PPPs na Grécia, o banco no Brasil e, certamente, muitas outras mais que hoje desconhecemos. Onde e quando será que isto vai parar? 

Há três considerações importantes a fazer: 

(i) Já não deu para perceber que esta gente é completamente incompetente para gerir operações internacionais (e as nacionais tenho algumas dúvidas…)? 

(ii) Qual a razão para, num momento de aperto de liquidez no País, termos tanta exposição internacional num banco como a CGD, supostamente para apoiar a economia nacional? 

(iii) Como é que alguém ainda pode querer criar mais um banco ou uma agência, ou o que quer que seja? 

Consta que um deputado do PSD enviou uma carta ao Ministro das Finanças com um conjunto de considerandos e questões sobre estes financiamentos. Infelizmente, já vai tarde. O que a Alice julga ser importante saber é a dimensão, natureza e contrapartes da exposição internacional que a CGD tem. E dar-lhes até ao fim do ano para se desfazerem de tudo. Se for preciso encerrar Bancos no estrangeiro, então seja… Manter esta vergonha é que é inaceitável!... E caro!… 

quinta-feira, 2 de maio de 2013

O fim dos Bancos como os conhecemos?


Não, hoje a Alice não vai falar de Swaps, para variar.

Foi hoje anunciado que a Google investiu numa Empresa de financiamentos online, a Lending Club. Esta Empresa, apesar de recente e de dimensão ainda pequena, já tem sido notícia pelas contratações que fez para o seu “board”: Mary Meeker (ex-Morgan Stanley), Larry Summers (ex-Secretário do Tesouro Americano) e John Mack (ex-CEO da Morgan Stanley). 

A transacção avaliará a Empresa em $1,55bn e, atendendo a que tem já “cash-flow” positivo, este investimento da Google será o suficiente até ao IPO que está previsto para 2014. 

O interesse da Google nesta Empresa reside no facto de acreditar que a tecnologia pode reduzir significativamente os custos e aumentar a transparência do funcionamento do sector financeiro. 

A Google refere-se ao sector financeiro como indústria de financiamento. Com razão. Ao contrário do que muitos imaginam ou querem fazer crer, esta é uma indústria como outra qualquer. 

É também um facto que usa quantidades extraordinárias de informação para tentar tomar decisões correctas sobre: a quem, quando, quanto e por quanto deve emprestar dinheiro. 

Para além disso, o dinheiro é todo verde e os Bancos, como marcas, estão já completamente desacreditados. Ninguém melhor do os peritos em algoritmos do Google para desenvolverem ferramentas que conduzam a financiamentos mais criteriosos, a baixos custos. 

Claro que se perde o “glamour” da Banca que estamos habituados a conhecer, com as suas personalidades gigantescas, com poder imenso de fazer e desfazer Empresas e Empresários, proprietários e empregados. Tudo por detrás de portas bem fechadas ou pelos sinuosos corredores do poder. 

Em contrapartida, teremos certamente mais alternativas de financiamento, bancos mais pequenos, mais leves e a trabalhar com mais transparência. Tudo coisas boas para o sistema financeiro, para os países e para as pessoas. Menos para os Bancos, tal como os conhecemos, claro.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Não


Não (“NO”, na versão original) é o título de um filme magnífico do realizador chileno Pablo Larrain e que tem como actor principal Gael García Bernal, que faz um papel extraordinário. 

O filme conta uma histórica verídica sobre a campanha para um referendo realizado no Chile em 1988. Depois de 15 anos de ditadura opressiva no Chile, o temido General Augusto Pinochet enfrentava forte pressão internacional para legitimar o seu regime. 

O Governo decidiu promover um referendo em que o povo podia votar “Sim” ou “Não” a manterem Pinochet por mais oito anos no poder. 

O referendo parecia ganho à partida. O povo acreditava que Pinochet ganharia inevitavelmente, de forma legal, se possível, ou manipulando os resultados eleitorais, se necessário (sempre difícil atendendo à presença de observadores internacionais). 

O Povo tinha receio de votar e previa-se uma abstenção elevadíssima. Tal era especialmente notório na faixa dos jovens e dos idosos. Como convencer grupos soció-demográficos tão distintos como estes? 

É aqui que entra Saavedra, um publicitário formado nos EUA e com ideias muito radicais para o Chile à época. Radicais, mas eficazes… 

Acede a colaborar com a campanha do NÂO e tem de travar uma luta acesa para levar as suas ideias por diante. 

Os seus correligionários queriam povoar os tempos de antena com imagens lúgubres e de desespero do Povo, lembrando todas as coisas negativas da ditadura do regime de Pinochet. Basicamente, uma campanha virada para o passado. 

Saavedra, por seu turno, entendia que era preciso dar ao Povo algo de novo, olhar para o futuro com uma perspectiva diferente. Ele considerava que era preciso aliviar o ambiente, dar alegria às pessoas para que estas deixassem o medo de lado e fossem às urnas votar. 

Utilizou todas as modernas (na altura) técnicas de marketing. Fez um logotipo alegre (um arco-íris), um jingle, filmes publicitários espampanantes e uma assinatura até: “a alegria está a chegar”. 

O resto é história… 

A nós, em Portugal, também já nos fazia falta um pouco de alegria… Talvez vá começando a ser tempo de dizer NÃO à crise. Enfiarem-nos a crise pelos olhos dentro todos os dias não vai fazer com que consigamos sair dela melhor, nem mais rápido! Nem tudo são inevitabilidades, nem todos os combates estão ganhos à partida. São as grandes lições que a Alice retirou deste filme.