sexta-feira, 24 de maio de 2013

Vítor Gaspar e a Heroína


Heroin, be the death of me
Heroin, it's my wife and it's my life
Because a mainer to my vein
Leads to a center in my head
And then I'm better off than dead
Because when the smack begins to flow
I really don't care anymore
About all the Jim-Jim's in this town
And all the politicians makin' crazy sounds
And everybody puttin' everybody else down
And all the dead bodies piled up in mounds 

Heroin, Velvet Underground 

Este é mais um dia triste para a Alice. Concluiu que o seu Governo está viciado. Dependente de medidas temporárias. Agarrado a concepções utilitárias da política e a opções económicas que se destinam exclusivamente a obter um fluxo imediato de sensações inebriantes e atingir o zénite do prazer desmedido e imediato. 

O Governo anda a dar na heroína! 

Essa droga que alivia, mas não cura. Dá prazer, mas é seguida da ressaca. Anestesia, mas corrompe. Inebria, mas cobra o seu preço. 

O Governo não conseguiu aguardar pelo resultado do trabalho, que a Alice imagina estar a ser desenvolvido com seriedade e rigor, da comissão liderada por Lobo Xavier. A expectativa é que este abrisse caminho, ainda que longo e sinuoso, para uma maior competitividade fiscal do País, colocando-o em posição de ombrear com os seus congéneres Europeus que mais se distinguem neste capítulo. 

Preferiu, antes, a injecção no braço. Novamente a navegação à vista, devido à preocupação com o cumprimento dos números para o final do ano. Quando toda a gente avisou, em devido tempo, que as previsões do PIB eram impossíveis de cumprir, eis a medida certa para ainda tentar provar que os velhos do restelo não tinham razão. 

Quem investir até 31 de Dezembro de 2013 pode deduzir na sua factura fiscal 20% do valor investido. Até um máximo de €5 milhões de investimento. Despachem-se senhores empresários, que o tempo já está a contar… 

Já tínhamos o corte temporário de salários dos funcionários públicos, a contribuição extraordinária de solidariedade, só faltava mesmo o crédito fiscal com prazo de validade… de 6 meses… 

Alguém acredita que as Empresas são tão incompetentes quanto o Governo? Alguém julga que uma Empresa vai agora fazer um investimento à pressa para ter acesso a um “super” crédito fiscal? Alguém crê que uma Empresa faz um investimento desconhecendo o restante quadro fiscal em que se movimentará nos anos que se seguem? 

Claro que algumas empresas aproveitarão esta medida. Todas aquelas que já tinham equacionado investimentos para o segundo semestre e que os fariam independentemente de terem crédito fiscal ou não. Resultado: o crédito fiscal apenas conduzirá… à redução das receitas fiscais.

No entanto, não conduzirá a investimento adicional por parte das Empresa que não tinham qualquer um previsto, muito menos servirá de argumento para atrair qualquer tipo de investimento novo por parte de Empresas estrangeiras (quem julga que sim, é ingénuo ou incompetente).

A Alice fica à espera, não muito pacientemente, da próxima rodada de substâncias alucinógenas. 


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