Luke Johnson fez ontem na sua coluna no FT (ver link abaixo), uma lista de ingredientes necessários para criar um País Empreendedor (ou de Empreendedores). A Alice pega na lista e classifica Portugal em cada um dos itens.
1. Sistema Legal
L.J.: Honesto, simples, tempestivo, com contratos executáveis ("enforceable").
A.: Começamos mal... Aqui apenas nos dizem que a "justiça tarda mas não falha"... para o efeito não chega!
2. Universidades
L.J.: Instituições de classe mundial, investigação de ponta, boa colaboração empresarial, "spin-offs".
A.: Aqui começamos a ver resultados, com universidades de gestão a entrarem nos rankings mundiais (Católica , Nova) e com outras especializadas em investigação de ponta (UMinho nos biomateriais e UAveiro nas telcos) a darem cartas internacionalmente.
3. Imigração
L.J.: Fronteiras abertas para estudantes, executivos e empreendedores.
A.: Não temos tido nenhuma política específica para esta área mas a realidade é que temos recebido um crescente número de alunos internacionais (Erasmus) e que somos consideramos como um povo geralmente receptivo a novas pessoas e ideias.
4. Ética de Trabalho e Sucesso
L.J.: Uma cultura que vê com bons olhos o trabalho e a ambição, celebra o sucesso e não é avessa à criação de riqueza.
A.: Precisamos de resolver a atitude habitual de olhar com desconfiança o enriquecimento de pessoas empreendedoras.
5. Fortes Centros Regionais
L.J.: Várias cidades com comunidades locais vibrantes.
A. : A macrocefalia da capital, tem dificultado o aparecimento de outros centros fortes. No entanto, temos zonas com potencial, nomeadamente as ligadas às Universidades.
6. Advogados sob controlo
L.J.: Países com muita litigância não promovem as empresas e levam a estagnação. Os advogados têm de servir a comunidade de negócios e não vice-versa.
A.: Quanto a esta a Alice não se pronuncia por receio de levar com um processo por difamação.
7. Fornecedores de Financiamento
L.J.: Alternativas de crédito para "start-ups" que ajudem a reduzir as necessidades de fundo de maneio e formas alternativas de financiamento como "business angels", leasing e factoring. Mais tarde, capital de risco, bolsa de valores, Bancos, etc.
A.: Há muitos fundos comunitários para financiar o arranque de "start-ups". Onde provavelmente não há financiamento é naquelas empresas que precisam de dar "o próximo salto". Não me parece que em Portugal o problema do financiamento das start-ups seja muito pior do que no resto dos países. Quanto ao resto, pode-se fazer melhor, sobretudo no que ao capital de risco público diz respeito.
8. Talento e experiência técnica
L.J.: Bons quadros com vontade de se juntarem a "start-ups" e não ao Estado ou às grande empresas.
A.: Aqui não será o problema, tanto jovem bem educado no desemprego e tão pouco Estado e grande empresa a recrutar que não haverá alternativa...
9. Propriedade Intelectual
L.J.: sistema de patentes, marcas que protejam as Empresas, motivem investidores a investirem e a compra e venda destes activos.
A.: O nosso sistema está integrado no sistema Europeu e nas convenções internacionais pelo que funciona bem.
10. Infraestruturas
L.J.: Boas estradas, boas comunicações, escritórios, fábricas e armazéns.
A.: Neste campo, também não ficamos a dever grande coisa aos restantes países com que ambicionamos ombrear.
11. Corrupção
L.J.: A corrupção, no sector público ou privado, desincentivam o empreendedorismo.
A. : Nesta variável direi apenas que provavelmente estamos piores do que os anglo-saxónicos e os norte Europeus, mas não devemos classificar muito mal relativamente aos restantes.
12. Impostos
L.J. Um sistema fiscal suportável, que encoraja o esforço e não penaliza invejosamente aqueles que assumem riscos e trabalham muito.
A. : Pois...
13. Mercados Livres
L.J.: Um Governo que não faça "crowd-out" do sistema Privado, limita as fronteiras e a interferência estatal no comércio. Práticas restritivas ou monopolistas devem ser proibidas.
A.: O Estado continua a estar presente em demasiados sectores, suga financiamento da economia privada e não tem uma posição de regulador forte e clara nos sectores que devia.
14. Modelos e Exemplos de Sucesso
L.J.: Muitos exemplos de empreendedores de sucesso, "self made" e "high achievers".
A.: Quando pensamos em modelos e exemplos, chegamos invariavelmente às mesmas respostas: Belmiro de Azevedo, Américo Amorim, etc. Precisamos de exemplos mais recentes, exemplos com os quais os nossos jovens se pudessem identificar.
15. Regras de Insolvência
L.J.: Sistema que facilite aos falhanços honestos começar de novo. É importante que as pessoas sejam perdoadas em vez de condenadas por falhanços empresariais.
A.: Aqui muito foi feito no último ano. A aprovação do PER, é um exemplo de uma boa medida para preservar Empresas e Emprego, retirando (ou atenuando) o estigma negativo da insolvência.
16. Leis de Trabalho
L.J.: Facilidade de contratar e despedir de uma forma justa sem receito de consequências desproporcionadas.
A.: Também já tem sido feito algum caminho a este respeito. Falta fazer a pedagogia junto de sindicatos e trabalhadores. Nenhum empresário gosta de despedir trabalhadores. A maioria das vezes despede porque não tem negócio para suportar o posto de trabalho.
17. Confiança
L.J.: Acreditar que é possível e ter a coragem de o fazer.
A.: Tem que ver com os modelos, com a atitude e com o que se transmite às pessoas. Algum trabalho tem ainda de ser feito nesta área.
18. Burocracia
L.J.: Uma nível de burocracia gerível e que não desencoraje a energia das pequenas empresas e empresários.
A.: Depois de ter sido feito um bom trabalho no Governo anterior com o "simplex" este ímpeto soçobrou um pouco. O actual MEconomia já repegou no tema (promessa de licenciamento zero, por exemplo) pelo que se podem esperar desenvolvimentos para breve.
E estes são os principais pontos.
A Alice entende que não estamos assim tão mal. De todos os dezoito pontos elencados, há 7 que necessitamos mesmo de melhorar. Atendendo a que não se pode ambicionar a resolver tudo em simultâneo e a que alguns destes itens estão inter-relacionados, a Alice sugere que se ataque os seguintes 3, com especial ferocidade:
1. Sistema Legal e Impostos
4. Ética de Trabalho e Sucesso
5. Fortes Centros Regionais
Se Governo, Municípios, Empresas, Empresários e Trabalhadores conseguissem resolver estes três problemas estaríamos bem mais perto de ter um País verdadeiramente empreendedor.
Link para o artigo do FT: http://www.ft.com/intl/cms/s/0/71645fc8-7c4c-11e2-91d2-00144feabdc0.html#axzz2M6bZF3UV