quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

A arma final chama-se inflação


A Alice não quer assumir a postura de uma marca de produtos de emagrecimento e afirmar peremptoriamente: "quer resolver a crise... pergunte-me como". No entanto, estamos a chegar ao ponto em que já tudo foi tentado e... nada resultou.

Assim sendo, a Alice propõe que se recorra a um conceito que os economistas conhecem bem e que os políticos também deviam conhecer. Chama-se inflação e é o pânico de alguns políticos europeus, em especial os Alemães.

Quais são as vantagens desta solução?

- Reduz o valor real da dívida do Estado, das Empresas e das Pessoas;
- Através do impacto negativo na moeda, melhora a competitividade do País;
- Facilita o aumento de vendas das Empresas, seja por via da melhoria da competitividade, seja pelo aumento natural dos preços de venda;
- Facilita o ajustamento dos custos das Empresas, na medida em que o seu aumento não acompanhe a taxa de inflação;
- Melhora o perfil de custos do Estado, pelo mesmo mecanismo que melhora o das Empresas.

Quais são as desvantagens?
A inflação tem uma mania, algo desagradável, de se tornar facilmente incontrolável. Uma espiral inflacionista é tão má quanto uma espiral recessiva (embora, os efeitos na vida da maioria das pessoas sejam equivalentes: o poder de compra do seu salário diminui).

Como se faz?
Como em muita coisa em economia: basta um comunicado e mais alguma liquidez. Se Draghi disser o que o Banco de Inglaterra disse há duas semanas, que irá tolerar uma maior inflação para ajudar ao crescimento, será suficiente. Depois convém reforçar com uma maior injecção de liquidez no mercado. E terá feito magia... 


quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Ingredientes para um País Empreendedor


Luke Johnson fez ontem na sua coluna no FT (ver link abaixo), uma lista de ingredientes necessários para criar um País Empreendedor (ou de Empreendedores). A Alice pega na lista e classifica Portugal em cada um dos itens.

1. Sistema Legal
L.J.: Honesto, simples, tempestivo, com contratos executáveis ("enforceable").
A.: Começamos mal... Aqui apenas nos dizem que a "justiça tarda mas não falha"... para o efeito não chega!

2. Universidades
L.J.: Instituições de classe mundial, investigação de ponta, boa colaboração empresarial, "spin-offs".
A.: Aqui começamos a ver resultados, com universidades de gestão a entrarem nos rankings mundiais (Católica , Nova) e com outras especializadas em investigação de ponta (UMinho nos biomateriais e UAveiro nas telcos) a darem cartas internacionalmente.

3. Imigração
L.J.: Fronteiras abertas para estudantes, executivos e empreendedores.
A.: Não temos tido nenhuma política específica para esta área mas a realidade é que temos recebido um crescente número de alunos internacionais (Erasmus) e que somos consideramos como um povo geralmente receptivo a novas pessoas e ideias.

4. Ética de Trabalho e Sucesso
L.J.: Uma cultura que vê com bons olhos o trabalho e a ambição, celebra o sucesso e não é avessa à criação de riqueza.
A.: Precisamos de resolver a atitude habitual de olhar com desconfiança o enriquecimento de pessoas empreendedoras.

5. Fortes Centros Regionais
L.J.: Várias cidades com comunidades locais vibrantes.
A. : A macrocefalia da capital, tem dificultado o aparecimento de outros centros fortes. No entanto, temos zonas com potencial, nomeadamente as ligadas às Universidades.

6. Advogados sob controlo
L.J.: Países com muita litigância não promovem as empresas e levam a estagnação. Os advogados têm de servir a comunidade de negócios e não vice-versa.
A.: Quanto a esta a Alice não se pronuncia por receio de levar com um processo por difamação.

7. Fornecedores de Financiamento
L.J.: Alternativas de crédito para "start-ups" que ajudem a reduzir as necessidades de fundo de maneio e formas alternativas de financiamento como "business angels", leasing e factoring. Mais tarde, capital de risco, bolsa de valores, Bancos, etc.
A.: Há muitos fundos comunitários para financiar o arranque de "start-ups". Onde provavelmente não há financiamento é naquelas empresas que precisam de dar "o próximo salto". Não me parece que em Portugal o problema do financiamento das start-ups seja muito pior do que no resto dos países. Quanto ao resto, pode-se fazer melhor, sobretudo no que ao capital de risco público diz respeito.

8. Talento e experiência técnica
L.J.: Bons quadros com vontade de se juntarem a "start-ups" e não ao Estado ou às grande empresas.
A.: Aqui não será o problema, tanto jovem bem educado no desemprego e tão pouco Estado e grande empresa a recrutar que não haverá alternativa...

9. Propriedade Intelectual
L.J.: sistema de patentes, marcas que protejam as Empresas, motivem investidores a investirem e a compra e venda destes activos.
A.: O nosso sistema está integrado no sistema Europeu e nas convenções internacionais pelo que funciona bem.

10. Infraestruturas
L.J.: Boas estradas, boas comunicações, escritórios, fábricas e armazéns.
A.: Neste campo, também não ficamos a dever grande coisa aos restantes países com que ambicionamos ombrear.

11. Corrupção
L.J.: A corrupção, no sector público ou privado, desincentivam o empreendedorismo.
A. : Nesta variável direi apenas que provavelmente estamos piores do que os anglo-saxónicos e os norte Europeus, mas não devemos classificar muito mal relativamente aos restantes.

12. Impostos
L.J. Um sistema fiscal suportável, que encoraja o esforço e não penaliza invejosamente aqueles que assumem riscos e trabalham muito.
A. : Pois...

13. Mercados Livres
L.J.: Um Governo que não faça "crowd-out" do sistema Privado, limita as fronteiras e a interferência estatal no comércio. Práticas restritivas ou monopolistas devem ser proibidas.
A.: O Estado continua a estar presente em demasiados sectores, suga financiamento da economia privada e não tem uma posição de regulador forte e clara nos sectores que devia.

14. Modelos e Exemplos de Sucesso
L.J.: Muitos exemplos de empreendedores de sucesso, "self made" e "high achievers".
A.: Quando pensamos em modelos e exemplos, chegamos invariavelmente às mesmas respostas: Belmiro de Azevedo, Américo Amorim, etc. Precisamos de exemplos mais recentes, exemplos com os quais os nossos jovens se pudessem identificar.

15. Regras de Insolvência
L.J.: Sistema que facilite aos falhanços honestos começar de novo. É importante que as pessoas sejam perdoadas em vez de condenadas por falhanços empresariais.
A.: Aqui muito foi feito no último ano. A aprovação do PER, é um exemplo de uma boa medida para preservar Empresas e Emprego, retirando (ou atenuando) o estigma negativo da insolvência.

16. Leis de Trabalho
L.J.: Facilidade de contratar e despedir de uma forma justa sem receito de consequências desproporcionadas.
A.: Também já tem sido feito algum caminho a este respeito. Falta fazer a pedagogia junto de sindicatos e trabalhadores. Nenhum empresário gosta de despedir trabalhadores. A maioria das vezes despede porque não tem negócio para suportar o posto de trabalho.

17. Confiança
L.J.: Acreditar que é possível e ter a coragem de o fazer.
A.: Tem que ver com os modelos, com a atitude e com o que se transmite às pessoas. Algum trabalho tem ainda de ser feito nesta área.

18. Burocracia
L.J.: Uma nível de burocracia gerível e que não desencoraje a energia das pequenas empresas e empresários.
A.: Depois de ter sido feito um bom trabalho no Governo anterior com o "simplex" este ímpeto soçobrou um pouco. O actual MEconomia já repegou no tema (promessa de licenciamento zero, por exemplo) pelo que se podem esperar desenvolvimentos para breve.

E estes são os principais pontos.

A Alice entende que não estamos assim tão mal. De todos os dezoito pontos elencados, há 7 que necessitamos mesmo de melhorar. Atendendo a que não se pode ambicionar a resolver tudo em simultâneo e a que alguns destes itens estão inter-relacionados, a Alice sugere que se ataque os seguintes 3, com especial ferocidade:
1. Sistema Legal e Impostos
4. Ética de Trabalho e Sucesso
5. Fortes Centros Regionais

Se Governo, Municípios, Empresas, Empresários e Trabalhadores conseguissem resolver estes três problemas estaríamos bem mais perto de ter um País verdadeiramente empreendedor.

Link para o artigo do FT: http://www.ft.com/intl/cms/s/0/71645fc8-7c4c-11e2-91d2-00144feabdc0.html#axzz2M6bZF3UV

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Porque não uma POFTA para além da TAFTA?



Obama surpreendeu o mundo durante o seu discurso inaugural com o anúncio das conversações para a TAFTA (Transatlantic Free Trade Area) iniciadas com a UE. A Alice entende que uma POFTA (Portuguese Free Trade Area) serviria bem melhor as aspirações dos Portugueses.

A TAFTA beneficiará certamente os EUA e os países Europeus de maior dimensão e que mais transacionam com os EUA. Estima-se que o comércio bilateral possa crescer 50%. Este crescimento beneficiará até mais a Europa do que os EUA, na medida em que a Europa tem tido uma balança comercial positiva vis-a-vis os EUA.

Como as trocas com os EUA têm um peso diminuto nas nossas trocas comerciais, o benefício de Portugal acabará por ser mais indireto do que direto. Resta acrescentar que o protagonismo de Portugal nas negociações para a constituição da TAFTA será diminuta, para ser simpático.

Porque não, então, avançar com a constituição da POFTA?

Uma área de comércio internacional livre com os PALOPs seria bem mais vantajosa para Portugal. O potencial de alavancagem das trocas já existentes seria muito maior. O protagonismo de Portugal numa negociação tripartida com os PALOPs e com a UE seria muito maior. A probabilidade de angariar mais investimento para o País num papel de pivot da TAFTA seria bem maior do que como primeiro País no caminho dos EUA para a UE (veja-se o sucedido com a base das Lajes).

Claro que os adeptos da postura do bom (e obediente) aluno dirão, a medo, que tal terá que ser negociado previamente com a UE. À Alice não constou que a UE tenha negociado previamente com Portugal a eventual constituição da TAFTA.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Reforma do IRC - Em defesa de Lobo Xavier


Não é usual a Alice discordar de Pedro Santos Guerreiro, Director do Jornal de Negócios. Na semana passada defendeu que Lobo Xavier não deveria liderar a comissão para reformar o IRC por ter conflitos de interesses.

A Alice não vai recorrer a uma comparação fácil com os "hackers" de sistemas informáticos que acabam invariavelmente por ser recrutados pelas autoridades fiscalizadoras ou pelas principais Empresas do sector, a troco de penas reduzidas, no primeiro caso, e de salários chorudos, no segundo. A realidade é que, ao contrário destes "hackers", Lobo Xavier não cometeu nenhum crime e, que se saiba, nunca aconselhou nenhum cliente seu ou sociedade por si administrada a cometer nenhum crime.

Quando muito limitou-se, dentro dos limites legais vigentes em Portugal, na Europa e no Mundo, a sugerir aos seus constituintes formatos que permitissem garantir uma maior estabilidade fiscal, assegurar melhores fontes de financiamento e, porventura, ter uma factura fiscal menos onerosa.

Partindo do pressuposto que não irá sugerir na reforma de IRC qualquer aplicação retroactiva da Lei, a Alice não vislumbra em que é que as actuais tarefas colidem com as suas restantes funções.

Quanto ao passado, estamos esclarecidos.

Relativamente ao futuro, o que irá ele (mais concretamente a comissão que ele lidera) sugerir que possa ser aproveitado pelos seus constituintes em detrimento de todas as restantes Empresas? Ou o que irá ele (a comissão) propor que seja aproveitado pelos seus constituintes em detrimento de todos os outros contribuintes?

Porventura irá sugerir uma taxa de IRC preferencial para os sectores em que tem alegadamente “interesses”? Será que vai propor que o IRC passe para zero, por contrapartida de um aumento de IRS?

A Alice está em crer que não será esse o caso.

A nomeação de Lobo Xavier e da comissão foi mais técnica do que política. Partindo de uma aferição comparativa dos regimes fiscais para as Empresas na UE, como poderá Portugal garantir a fixação das Empresas cá e a atracção de novas Empresas e Investimento? Se esta pergunta for respondida desapaixonadamente caberá depois aos políticos (e não à comissão nem a Lobo Xavier) tomas decisões.

Para além disso, há um conjunto de questões, que vai muito para além das taxas de imposto, que são também merecedoras de revisão. É o caso das tributações autónomas, incentivos fiscais, retenções na fonte, pagamentos por conta, tributação consolidada, regime simplificado, etc (ver http://aliceemportugal.blogspot.pt/2013/02/reforma-do-irc-ideias-de-jaime-carvalho.html). A Alice espera que tudo isto seja também revisto, a bem da simplificação da vida das Empresas.

A Alice ficaria muito feliz se o resultado final deste trabalho fosse aquele que Pedro Santos Guerreiro imagina, em jeito de manchete sensacionalista em jornal Holandês: "Escândalo: família Soares dos Santos deslocaliza sede fiscal para Portugal".

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Realidade Alternativa


Entremos numa Realidade Alternativa por momentos. Um universo paralelo em que o nosso País teria evoluído de uma forma diferente nos últimos 10 anos…

...Victor Constâncio ainda é Governador do Banco de Portugal…

… João Rendeiro é agora presidente do BCPP, após fazer o “reverse take-over” do BCP pelo BPP…

… a carteira de crédito e os activos do BCPP atingem crescimentos astronómicos, com aplicações em terrenos agrícolas valiosíssimos, em obras de arte de reputados artistas pseudo-neo-ultra-realistas e em participações em metade das Empresas do PSI e do IBEX…

… Joe Berardo, alavancado pelo crescimento artificial em bolsa do BCPP, faz uma oferta para comprar a Tate Galery em Londres e, após comprar a Sogrape, lança uma OPA sobre a Constellation Brands, a maior Empresa de vinho do mundo. Dá de garantia aos Bancos que financiam a operação as acções do BCPP, da Sogrape e da Tate (que ainda não comprou)…

… Oliveira e Costa ameaça reformar-se em breve, mas o Governador do Banco Portugal pede para que haja um plano de sucessão cuidadoso e detalhado (consta que terá enviado uma carta há meses que ainda não mereceu resposta). Afinal de contas, lidar com a sucessão no maior Banco Português e com accionistas de várias proveniências internacionais (o Insular em Cabo Verde, o Peninsular em Macau, o Transinsular no Brasil, o Quadrinsular em Angola, etc.) não é tarefa de somenos importância…

… José Socrates ainda é Primeiro-Ministro e Teixeira dos Santos Ministro das Finanças…

… José Sócrates re-inaugura, por estes dias, o Estádio de Futebol de Leiria depois de uma profunda remodelação do mesmo no âmbito do programa Parque Estádios. Este foi implementado após os bem sucedidos: Parque Escolar, Parque Hospitais, Parque Câmaras e Juntas de Freguesias, Parque Florestas, etc….

… O Desemprego não dá sinais de diminuir. Encontra-se teimosamente nos 10%, sendo que 15% da população activa está agora empregue na construção…

… A dívida atinge os 300% do PIB…

… Passos Coelho, na oposição, diz que Sócrates nada tem feito pela economia. De acordo com os seus cálculos seria necessário haver investimento público de mais €4 mil milhões para colocar a economia a crescer mais rápido…

… José Sócrates e António Mexia anunciam um novo investimento estruturante para a EDP, depois de conquistar a América o objectivo é agora conquistar a China, pelo que a EDP compra uma posição minoritária (mas significativa) na Three Gorges, uma das maiores Empresas chinesas de Energia…

… Para financiar a operação, o Estado torna-se novamente accionista maioritário na EDP…

… Eduardo Catroga é convidado para ser Administrador da China Three Gorges em representação da EDP (há coisas que nunca mudam)…

… A ascensão de figuras Portuguesas a altos cargos internacionais foi determinante para a escolha do próximo Presidente do BCE, Victor Gaspar, um prestigiado quadro saído dos corredores de Bruxelas que goza de grande reputação internacional…

… Victor Gaspar convoca Teixeira dos Santos para uma reunião em que lhe comunica que o BCE não continuará a financiar os desvarios em Portugal, caso o Governo não tome medidas correctivas imediatas, ele próprio assumirá o comando das Finanças Públicas do País…

Bem, a Alice presume que sejam capazes de imaginar o resto da história…

É reconfortante voltar à dura realidade não é? E imaginar que as coisas poderiam ser bem piores!...

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Importância do Capital de Risco


A Alice considera o capital de risco, em todas as suas vertentes (desde o “Business Angel” ao “Private Equity”), fundamental para o crescimento de qualquer País e, por maioria de razão, de Portugal que tão necessitado está de investimento.

Não queria que os dois últimos “posts” dessem a entender o contrário.

No site da EVCA (www.evca.com), a associação europeia de capital de risco, encontrarão estudos nesse sentido. A Alice destaca apenas os seguintes factos resultantes de estudos académicos efectuados:

Crescimento: As empresas PME (SME em inglês) apoiadas por capital de risco evidenciam maior crescimento em vendas, activos e emprego do que as não apoiadas por capital de risco [fonte: Boucly et al, Journal of Financial Economics (2011)]

Financiamento: Posteriormente a um investimento maioritário de uma capital de risco numa Empresa, esta tem condições para aumentar o seu investimento e tornar-se mais lucrativa do que os seus concorrentes [fonte: Boucly et al, Journal of Financial Economics (2011)]

Risco: Empresas apoiadas por capital de risco tiveram menor probabilidade de entrar em cumprimento durante a recessão europeia de 2008-2009 (3% vs. 6%) [Fonte: Thomas (2010), SSRN Working Paper]

Eficiência: Empresas que têm investimento maioritário de uma capital de risco, evidenciam crescimento nas margens operacionais, produtividade e rentabilidade dos capitais investidos [Fonte: Strömberg, SSRN Working Paper (2009)]

Produtividade: Investimentos de capital de risco em Empresas Europeias de grande dimensão melhoraram a sua produtividade em 7% por ano [Fonte: Ernst and Young (2012)]

A Alice é, por isso, uma grande adepta do capital de risco. Convém, no entanto, lembrar que nem todos os operadores de capital de risco têm condições para obter os resultados virtuosos mencionados, nem todas as empresas têm condições para ser apoiadas pelo capital de risco. Era essa a mensagem que a Alice pretendia fazer passar com os dois últimos posts.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Criar Empresas sem dinheiro


A Alice acha que a discussão do financiamento às Empresas e aos Empreendedores tem sido excessivamente focalizada nos bancos e no capital de risco. Num enquadramento de liquidez limitada, temos que aprender a criar Empresas e Empreendedores sem dinheiro.

É óbvio que investimentos capital-intensivos requerem financiamento pesado (indústria, estradas, minério, etc.) mas, como a Alice tem vindo a defender aqui, há outro tipo de projectos que são também relevantes, potencialmente de elevado valor acrescentado e que, em certos casos, não necessitam de elevado investimento, pelo menos no seu arranque.

É sobre este tema que o professor John Mullins da LBS tem estado a investigar. Ele argumenta que o conceito generalizado ensinado nas escolas de gestão de como uma Empresa se cria é fundamentalmente errado. Se um Empreendedor quiser construir um negócio de sucesso não tem, necessariamente, de seguir os passos tradicionais: ter uma grande ideia, escrever um plano de negócios, levantar fundos, executar o plano e ficar rico em poucos meses.

O truque é financiarem-se nos seus clientes, vendendo algo. Esta é, se pensarmos bem, a forma mais poderosa de financiamento pois, em simultâneo, estará a validar a ideia de negócio (se nem os clientes consegue interessar, então para quê existir?).

Mullins identifica 5 modelos diferentes:

1. “Matchmaker model”: é o modelo do intermediário em que a Empresa apenas intervém na facilitação de uma transação. Não necessita de investir em fundo de maneio e pode funcionar com um nível de financiamento muito baixo. Apenas tem de juntar compradores e vendedores. Exemplos deste modelo são o eBay, a Airbnb ou a Expedia ou qualquer corretora financeira.

2. “Pay-in-advance model”: é utilizado por consultores, advogados e arquitectos há séculos. Estas entidades vão trabalhando à medida que lhes vão fazendo “adiantamentos” ou “provisões” para pagar o seu trabalho. Uma Empresa que deseje trabalhar numa área de investigação pode abordar clientes potenciais e “vender-lhes” a ideia que pretendem a troco de compra adiantada dos seus produtos e serviços.

3. ”Subscription model”: habitualmente utilizado por jornais e revistas que vendem assinaturas dos seus produtos. O autor dá o exemplo de uma Empresa Indiana, a www.tutorvista.com que providencia explicações “on-line” a estudantes do secundário. Os alunos pagam uma mensalidade e têm acesso remoto ilimitado às explicações das disciplinas que integram o site.

4. “Scarcity-based model”: está relacionado com a noção de exclusividade ou de oferta limitada que gera impulso de compra imediato. É o caso de Empresas como a Zara (com produtos de alta rotação e vida em prateleira muito reduzida) e da “vente-privee” ou “clubfashion” em que os clientes têm um número limitado de dias para “aproveitar as ofertas”.

5. “Service-to-Product model”: começar com uma Empresa prestadora de serviços a terceiros, serviços esses que venham a permitir a criação de um produto que depois será vendável por si e independentemente dos serviços anteriormente prestados. É o caso típico dos “spin-offs” universitários ou de Empresas de consultoria que aproveitam o seu “know-how” acumulado para oferecer qualquer coisa mais. Mullins dá o exemplo de uma Empresa de mapas na Índia que começou a vender serviços de mapeamento à Coca Cola (aparentemente há 10 anos não existiam mapas, tal como os conhecemos, naquele País) e hoje são líderes na produção de mapas na Índia e dominam a navegação GPS.

Cinco modelos diferentes para fazer omeletes sem ovos, i.e. Empresas e Empreendedores sem dinheiro.

De que estão à espera? A falta de financiamento já não pode servir de desculpa…

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

O Capital de Risco Público


Antes do mais, a devida declaração de interesses: o autor deste Blog tem, desde longa data, relacionamento comercial com Empresas de capital de risco Públicas.

Assistiu, por isso, a todas as transmutações que o sector teve praticamente desde a sua criação. É chegada a altura de tirar conclusões sobre a eficácia dos vários modelos adoptados ao longo do tempo.

Vem este tema a propósito de uma magnífica entrevista dada pelo Prof. Paulo Soares Pinho ao Público (em http://www.publico.pt/economia/noticia/houve-durante-muito-tempo-excesso-de-dinheiro-facil-para-as-empresas-1584147) que, a certa altura, afirma: “O modelo que se seguiu em Portugal foi entregar os fundos comunitários ao capital de risco público e foram entregues pequenas quantias aos privados. Temos um problema no capital de risco público: praticamente não há histórias de sucesso para contar. É a falta de disciplina, o facto de o principal operador ser o Estado (que não se envolve nas empresas em que investe), a falta de parcerias com empresas internacionais...”.

O arranque do capital de risco público foi marcado pela criação de duas Sociedades de Capital de Risco (SCRs), com base regional, aquando da chegada do Programa PEDIP que foi, recorde-se, o primeiro programa de apoio à indústria Portuguesa da Comunidade Europeia. Estas SCRs chamavam-se Norpedip e Sulpedip. Como o nome bem indica, uma dedicada ao Norte do País e outra dedicada ao Sul. Qualquer uma delas, respeitando o programa que lhes deu origem, focadas na indústria.

Após esta primeira “vida”, entendeu-se que a especialização geográfica não seria adequada e que faria mais sentido ter um instrumento destinado aos grandes projectos e um outro mais focado nos pequenos projectos. Foi assim que passamos a ter a PME Capital (focada nos pequenos projectos) e a PME Investimentos (nos grandes projectos). Deixo ao leitor o desafio de adivinhar qual se transformou em qual (pista: o “capital” no nome da primeira não se refere à capital do País).

Houve também uma “vida” em que se considerou que a especialização não deveria ser nem geográfica nem de dimensão, mas sim sectorial. E, assim, nasceu a Inovcapital – antiga PME Capital - (para se focar em projectos de tecnologia e inovadores) e manteve-se a PME Investimentos (para os projectos ditos “tradicionais”).

A filosofia de actuação também foi sofrendo alterações de percurso, com a organização destas Empresas a alternar a sua lógica de funcionamento entre o investimento directo e o investimento indirecto, através da gestão de fundos de Investimento.

Pelo meio houve, entretanto, outros Fundos: FACCE (para a concentração de Empresas), Finova (para Fundos de capital de risco); Fundo de Turismo (para o Turismo) e outros, mais ou menos obscuros, certamente todos com objectivos válidos e estratégicos para a economia Nacional.

E A Alice não se vai aqui alongar com outras participações estatais, quer por via da presença da Caixa Geral de Depósitos no sector (Caixa Capital), quer pela intervenção directa no capital e/ou Fundos geridos por entidades Privadas.

Esta foi, em resumo, a história do capital de risco público nos últimos 25 anos. Resta acrescentar que a todas as alterações relatadas correspondeu um igual número de mudanças de Governo (ou de tutela), cada um com uma nova visão estratégica para o sector.

O actual Governo, por seu turno, decidiu proceder a uma nova (à sua) reincarnação do capital de risco Público, sob uma lógica de racionalização que integra (quase) todos os instrumentos ao seu dispor sob um mesmo tecto: a Portugal Ventures. Assim, juntou a PME Investimentos, InovCapital, PME Investimentos, Fundo de Turismo e FACCE, criando uma mega sociedade, com fundos sob gestão de €600 milhões e 180 participadas.

Os efeitos positivos desta mudança seriam, sobretudo: (i) uma abordagem integrada de toda a intervenção Pública através do instrumento capital de risco; (ii) maior facilidade em definir a estratégica de actuação e os objectivos a alcançar; (iii) capacidade de “fogo” mais elevada para fazer a diferença; (iv) possibilidade de promover a consolidação sectorial em Empresas participadas.

Infelizmente, a Alice teme que estes efeitos positivos não estejam a ser atingidos e que a dimensão desta nova entidade esteja a dificultar a sua gestão. Com efeito, não se conhecem, até hoje, consequências práticas desta integração, quer ao nível da estratégia de actuação, quer ao nível das Empresas participadas e dos sectores intervencionados (actuais ou futuros).

A Alice entende que a intervenção Pública no capital de risco, após vários modelos testados, tem de ser repensada.

Como podemos maximizar o valor para a Economia (e, consequentemente, para os contribuintes) da capacidade Pública instalada que temos neste sector (em competências e dinheiro)?

Provavelmente, a resposta é a de que não faz sentido continuar a ter intervenção Pública no capital de risco, por muito duro que seja assumir este facto. Os vários modelos fracassaram e a Alice não vê nenhum que possa vir a conduzir a resultados significativamente diferentes dos que foram obtidos no passado.

A solução passará por privatizar a gestão dos Fundos em conformidade com as regras de gestão internacionalmente aceites para o sector. Esta privatização poderia ser feita por todo ou numa lógica de agregação de participadas (sectorial, dimensão, tecnologia, etc.) em fundos especializados.

Estaria aberta a operadores nacionais e internacionais e, porque não, aos próprios gestores das entidades actualmente existentes. Afinal de contas são estes que melhor conhecem o portfolio dos Fundos, têm mais experiência de investimento no seu âmbito, e que estão perfeitamente familiarizados com os mecanismos de “Management Buy-Out”.

Esta medida, devidamente articulada com a intervenção de organismos internacionais (por exemplo o FEI), poderia inclusivamente potenciar o volume de fundos disponíveis para o sector.

Provavelmente, é altura do capital de risco Público provar um pouco do seu próprio remédio e dos seus gestores se tornarem também empresários.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Luis Filipe Menezes - Confrontação de Propostas



Luís Filipe Menezes (LFM) tem vindo a brindar-nos com as suas propostas fulgurantes, ambiciosas e estruturantes para a cidade do Porto.

A Alice destaca as 3 principais e sugere uma alternativa viável para a oposição a LFM (já se sabe que para populista, populista e meio…).

1. Transformar o Porto numa pequena Barcelona

Esta proposta demonstra alguma tacanhez e até algum provincianismo. Para quê transformar o Porto numa pequena Barcelona? Para estar sistematicamente a alcandorar-se a um falso pedestal de existir “contra” ou “apesar de” alguém (neste caso Lisboa)?

No mundo actual, conectado mas cada vez mais individualizado, movido pela arte que cada um põe no que faz, o Porto tem de se afirmar por ser quem é, na sua essência e transcendência… Tem de existir por si, pelos seus cidadãos e para os seus cidadãos. Neste contexto, a ambição do Porto deverá ser com que Barcelona se queira vir a transformar num grande Porto!

2. Prémios Porto de Arquitectura e Porto de Engenharia

Provavelmente, a proposta mais demagógica! Tem a virtude evidente de tirar partido da proeminência da Universidade do Porto e das respectivas faculdades. Os prémios, cujo valor LFM diz já estarem financiados, serão “suculentos e substantivos”, inferiores ao Nobel mas superiores ao Pritzker.

A Alice entende que há um prémio bastante mais importante e antropologicamente mais adequado para uma cidade como o Porto. Sem dúvida que teria que ser um Prémio de “stand up comedy”. A “stand up comedy” tem, segundo a Wikipedia, as suas origens em variadas tradições do entretenimento popular americano do final do século XIX, incluindo o vaudeville e monólogos humorísticos. Há anos que o Porto dá ao mundo o que tem de melhor na área de “stand up comedy”, sobretudo desde o programa “Levanta-te e Ri” na SIC. Desde o histórico Óscar Branco, até aos mais recentes Fernando Rocha e Francisco Menezes. Com o mesmo nível de prémios que LFM promete, teríamos certamente os melhores comediantes do mundo!

3. Fusão Porto / Gaia

A Alice não é alheia ao desígnio mal disfarçado de tentar implementar uma sofisticada engenharia financeira que se destina a equilibrar as contas de Gaia através da consolidação da sua dívida nas contas do Porto. O preceito está já testado no domínio Empresarial mas, também aqui, tem demonstrado eficácia duvidosa. Não é, de todo, aconselhável resolver o problema da dívida de Gaia com a probidade do Porto.

A Alice considera que a oposição deveria contra-propor com a Fusão Porto / Matosinhos. Esta contraproposta tem várias virtudes. Primeiro, evita a necessidade de fazer o investimento estruturante, também já anunciado por LFM, de nada mais nada menos do que duas pontes rodoviárias, uma pedonal e um túnel!!!.  Segundo, faz muito mais sentido do ponto de vista do ordenamento do território. Não há rio pelo meio e a circunvalação é bem mais fácil de “galgar”.

Com vêem não é assim tão difícil lutar contra os argumentos de LFM, desde que se use argumentos ao nível dos seus!

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Rui Moreira - Resposta da Alice a Joaquim Jorge


Joaquim Jorge, fundador do Clube dos Pensadores, escreveu um artigo de opinião no Público de 12/02/2013 sobre a candidatura de Rui Moreira à Câmara Municipal do Porto.

Apesar de o artigo ser até genericamente favorável para a persona de Rui Moreira, que o autor conhece pessoalmente há vários anos (ao contrário da Alice), contém um conjunto de pressupostos e opiniões que são fantasiosos e que deturpam aquilo que é a vivência livre e plena da democracia pelos cidadãos em geral e por Rui Moreira em particular.

Ninguém duvida, julgo que nem Joaquim Jorge, que Rui Moreira tem um pensamento político, emite opiniões políticas e exerce política todos os dias da sua vida e em todos os “palcos” que o autor enumera.

Avançar para uma candidatura à Câmara do Porto é não cair na demagogia daqueles que fazem política sob um pretenso manto diáfano de membros da “sociedade civil” e de “não políticos”. Ir a jogo é um acto de coragem por isso mesmo; é discutir as suas ideias abertamente, sujeitar-se ao escrutínio do público em vez de se remeter aos comentários em surdina nos corredores obscuros do poder.

Joaquim Jorge alega que a candidatura de Rui Moreira será financiada por Artur Santos Silva (presidente do BPI). Não conheço pessoalmente Rui Moreira mas conheço relativamente bem o Dr. Artur Santos Silva (trabalhei no BPI). Sem prejuízo do apoio ou simpatias partidárias do mesmo, nunca o vi (nem a ele nem ao BPI) a financiar campanhas políticas, quaisquer que elas sejam, locais, regionais, nacionais ou de outro âmbito.

Diz ainda, de forma exageradamente paternalista, que a candidatura de Rui Moreira tem condições para ter um bom desempenho, mas não para ganhar. Nas suas palavras terá “um score à volta 10%, tirando votos a L.F.M…”. Nesta linha de raciocínio, alega que as elites não chegam, que é preciso muito povo.

A ver vamos… Ninguém se deve arrogar da capacidade de vislumbrar ou sentir mais a pulsação do povo do que os demais (não raras vezes enganam-se). O povo vai demonstrar a sua capacidade de avaliação. No entanto, a Alice não resiste a recordar o desprezo com que a primeira candidatura de Rui Rio foi recebida e o vaticínio semelhante a que foi remetida por alguns ilustres pensadores da cidade.

Agora, se toda a gente se candidatasse a cargos políticos para ganhar e se acobardasse quando as probabilidades de vitória são desfavoráveis teríamos um regime unívoco sem direito a contraponto e a um equilíbrio mínimo de poderes (a oposição, ou a parte derrotada, também faz parte dos “checks and balances” de que qualquer democracia necessita para viver).

Seguindo esse raciocínio, nunca teríamos candidatos do PCP, do BE e de outros a nada, nunca teríamos candidatos Presidenciais a lutar contra Presidentes em exercício, etc. Quantas vezes é que Francisco Sá Carneiro perdeu em política (até dentro do seu próprio partido)? Quantas vezes travou batalhas perdidas à partida? Será preciso relembrar o que é que ele ia fazer ao Porto no dia do fatídico acidente? Ia participar num comício de apoio à candidatura presidencial da Soares Carneiro, um candidato que todos davam como derrotado!...

Dos vários “óbices evidentes” que aponta apenas parece ressaltar o facto de poder “obstar a que L.F.M. tenha o maior número de votos possível”. Parece-me que faz sentido e que é um óbice muito menor do que o óbice fundamental que L.F.M. exibe: o de não saber se a sua candidatura é legal ou ilegal.

O autor do referido artigo acha que Rui Moreira já tem palco e mediatização que chegue, como se toda a gente estivesse na política pelo palco que possa ter! A Alice entende que o que faz falta na política é precisamente haver pessoas que não precisam dela para ter palco, pessoas que já são bem sucedidas por si e pelo seu percurso pessoal e profissional e que se dedicam ao serviço público como forma de servir o próximo, a sua cidade e o seu País.

Teme o autor que Rui Rio desperdice o capital político, social e humano que alcançou. A Alice não vislumbra porque o perderá. Perder eleições não é perder o carácter. Não lutar pelos seus ideais, pelo seu povo e pela sua cidade é.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

"The Power of Full Engagement" - ou faça mais com menos...


Comentário da Alice ao Livro "The Power of Full Engagement de Jim Loehr e Tony Schartz


O mestre da Vinci disse uma vez a um patrocinador seu: "Os maiores génios por vezes atingem mais quando trabalham menos". Esta afirmação foi certamente proferida quando tentava explicar o atraso nalguma pintura encomendada pelo seu interlocutor. 

A Alice confessa, desde já, o seu gosto especial por livros de auto-ajuda. Apesar de tudo, este foi considerado um BS pelo New York Times e tem lições que a Alice entende como bastante importantes para todos os Portugueses. 

Todos sabemos, sobretudo após a rábula videográfica elaborada por Marcelo Rebelo de Sousa, que os Portugueses trabalham longas horas, mais do que os Alemães até. 

A tese central deste livro é de que não é o tempo que conta mas sim a energia e este é o nosso recurso mais precioso. 

Começa por dar o exemplo dos atletas de alta competição, que passam 90% a treinar e apenas 10% a competir. A maior parte de nós leva a vida (profissional e pessoal) como se estivesse a competir 100% do tempo. Trabalhamos 8, 10 ou 12 horas seguidas, dias a fio, constantemente a reagir ao ambiente exterior e às crises imediatas e muito pouco tempo a tomar decisões pensadas e guiadas pelo que é verdadeiramente importante. 

A tese base do livro é de que temos que balançar o consumo de energia com a sua renovação. 

Já estou a ver os calões a utilizar indevidamente este post da Alice para justificar ao chefe sair mais cedo do trabalho. Desenganem-se, não é disso que se trata. Gerir a energia e a sua renovação não quer dizer que não nos devemos esforçar ou, até, ultrapassar os nossos limites físicos, emocionais e mentais. Aliás, é exactamente esse esforço extra que permite melhorarmos o nosso desempenho, exactamente como fazem os atletas de elite. A energia tanto diminui por uso excessivo como por pouco uso. 

O segredo está em balancear (o que os autores apelidam de "oscillatory rythms") entre o "stress" e a exposição a situações de desconforto de curto-prazo, seguido de recuperação adequada. 

O livro explica que há 4 fontes de energia separadas mas relacionadas: física, emocional, mental e espiritual. 

A energia física é a mais fácil de domar e envolve hábitos de alimentação saudável, sono, exercício, pausas de trabalho a cada 90 minutos, etc. Basicamente, o contrário do almoço à secretária, o jantar pesado e o serão em frente à televisão (com uma cerveja ou whisky na mão). 

A energia emocional é mais difícil de apreender e de gerir, no entanto é aquela que pode ter mais impacto individual e colectivo (a energia negativa propaga-se). Para estar no seu melhor é necessário ter emoções agradáveis, positivas e há "músculos" específicos que podem e devem ser trabalhados (como se fossem músculos físicos) como, por exemplo, a paciência, a empatia a confiança, o diálogo, etc. 

A energia mental tem que ver com a forma como abordamos os problemas e as situações. Num teste efectuado a vendedores de uma companhia de seguros, concluiu-se que os que estavam na metade mais optimista vendiam 37% mais do que estavam na metade mais pessimista. Reforçando ainda mais esta tese, os que estavam no top10% de optimismo venderam 88% mais do que os que estavam no top10% de pessimismo. 

Os pensamentos negativos podem ser absolutamente fulcrais quando necessitamos de orientar a nossa atenção urgente para uma necessidade importante que não vemos suprida - comida, perigo, descanso, etc. O optimismo realista (não é o americano), isto é ver o mundo tal qual ele é e trabalhar de forma positiva para atingir um resultado ou uma solução, é a melhor arma para a maioria dos desafios que enfrentamos. 

Voltando a da Vinci e ao seu tratado de Pintura: "De vez em quando é boa ideia relaxar um pouco ... quando se regressa ao trabalho a capacidade de avaliação ("judgement") vai ser mais certa, uma vez que ficar constantemente a trabalhar causará a perda do poder de avaliação." 

O quarto vector diz respeito à energia espiritual (não confundir com religiosa) e refere-se à ligação com um conjunto de valores profundos e com um fim para além do nosso interesse próprio. Citando o jogador de ténis Arthur Ash (na lingua original por soar melhor): "From what we get in life, we make a living. From what we give, we make a life." 

O resto do livro prende-se com ajudar o leitor, através de alguns exercícios, na construção do seu "ecosistema" pessoal que lhe permitirá atingir os objectivos do livro. Como, por exemplo, na definição de sentido ("purpose") em termos mais latos (para além das tarefas em mãos), na identificação de como o leitor está a gerir a energia hoje, no poder dos rituais positivos, etc. 

Em resumo, um bom livro com um excelente guia para nos tornarmos mais produtivos em todas as dimensões da nossa vida. A Alice atreve-se a sugerir distribuir este livro por todos os Portugueses como forma de começar a melhorar a produtividade do País. Seria mais eficaz do que decretá-la por aumento de horas de trabalho ou por redução de feriados.