quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

"The Power of Full Engagement" - ou faça mais com menos...


Comentário da Alice ao Livro "The Power of Full Engagement de Jim Loehr e Tony Schartz


O mestre da Vinci disse uma vez a um patrocinador seu: "Os maiores génios por vezes atingem mais quando trabalham menos". Esta afirmação foi certamente proferida quando tentava explicar o atraso nalguma pintura encomendada pelo seu interlocutor. 

A Alice confessa, desde já, o seu gosto especial por livros de auto-ajuda. Apesar de tudo, este foi considerado um BS pelo New York Times e tem lições que a Alice entende como bastante importantes para todos os Portugueses. 

Todos sabemos, sobretudo após a rábula videográfica elaborada por Marcelo Rebelo de Sousa, que os Portugueses trabalham longas horas, mais do que os Alemães até. 

A tese central deste livro é de que não é o tempo que conta mas sim a energia e este é o nosso recurso mais precioso. 

Começa por dar o exemplo dos atletas de alta competição, que passam 90% a treinar e apenas 10% a competir. A maior parte de nós leva a vida (profissional e pessoal) como se estivesse a competir 100% do tempo. Trabalhamos 8, 10 ou 12 horas seguidas, dias a fio, constantemente a reagir ao ambiente exterior e às crises imediatas e muito pouco tempo a tomar decisões pensadas e guiadas pelo que é verdadeiramente importante. 

A tese base do livro é de que temos que balançar o consumo de energia com a sua renovação. 

Já estou a ver os calões a utilizar indevidamente este post da Alice para justificar ao chefe sair mais cedo do trabalho. Desenganem-se, não é disso que se trata. Gerir a energia e a sua renovação não quer dizer que não nos devemos esforçar ou, até, ultrapassar os nossos limites físicos, emocionais e mentais. Aliás, é exactamente esse esforço extra que permite melhorarmos o nosso desempenho, exactamente como fazem os atletas de elite. A energia tanto diminui por uso excessivo como por pouco uso. 

O segredo está em balancear (o que os autores apelidam de "oscillatory rythms") entre o "stress" e a exposição a situações de desconforto de curto-prazo, seguido de recuperação adequada. 

O livro explica que há 4 fontes de energia separadas mas relacionadas: física, emocional, mental e espiritual. 

A energia física é a mais fácil de domar e envolve hábitos de alimentação saudável, sono, exercício, pausas de trabalho a cada 90 minutos, etc. Basicamente, o contrário do almoço à secretária, o jantar pesado e o serão em frente à televisão (com uma cerveja ou whisky na mão). 

A energia emocional é mais difícil de apreender e de gerir, no entanto é aquela que pode ter mais impacto individual e colectivo (a energia negativa propaga-se). Para estar no seu melhor é necessário ter emoções agradáveis, positivas e há "músculos" específicos que podem e devem ser trabalhados (como se fossem músculos físicos) como, por exemplo, a paciência, a empatia a confiança, o diálogo, etc. 

A energia mental tem que ver com a forma como abordamos os problemas e as situações. Num teste efectuado a vendedores de uma companhia de seguros, concluiu-se que os que estavam na metade mais optimista vendiam 37% mais do que estavam na metade mais pessimista. Reforçando ainda mais esta tese, os que estavam no top10% de optimismo venderam 88% mais do que os que estavam no top10% de pessimismo. 

Os pensamentos negativos podem ser absolutamente fulcrais quando necessitamos de orientar a nossa atenção urgente para uma necessidade importante que não vemos suprida - comida, perigo, descanso, etc. O optimismo realista (não é o americano), isto é ver o mundo tal qual ele é e trabalhar de forma positiva para atingir um resultado ou uma solução, é a melhor arma para a maioria dos desafios que enfrentamos. 

Voltando a da Vinci e ao seu tratado de Pintura: "De vez em quando é boa ideia relaxar um pouco ... quando se regressa ao trabalho a capacidade de avaliação ("judgement") vai ser mais certa, uma vez que ficar constantemente a trabalhar causará a perda do poder de avaliação." 

O quarto vector diz respeito à energia espiritual (não confundir com religiosa) e refere-se à ligação com um conjunto de valores profundos e com um fim para além do nosso interesse próprio. Citando o jogador de ténis Arthur Ash (na lingua original por soar melhor): "From what we get in life, we make a living. From what we give, we make a life." 

O resto do livro prende-se com ajudar o leitor, através de alguns exercícios, na construção do seu "ecosistema" pessoal que lhe permitirá atingir os objectivos do livro. Como, por exemplo, na definição de sentido ("purpose") em termos mais latos (para além das tarefas em mãos), na identificação de como o leitor está a gerir a energia hoje, no poder dos rituais positivos, etc. 

Em resumo, um bom livro com um excelente guia para nos tornarmos mais produtivos em todas as dimensões da nossa vida. A Alice atreve-se a sugerir distribuir este livro por todos os Portugueses como forma de começar a melhorar a produtividade do País. Seria mais eficaz do que decretá-la por aumento de horas de trabalho ou por redução de feriados.

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