terça-feira, 30 de julho de 2013

Políticos vs. Políticas - Debate de pessoas ou de ideias?



Ben Bernanke, o Presidente da Reserva Federal Americana, foi há duas semanas ao Senado cumprindo a sua obrigação habitual de responder às perguntas dos Senadores sobre as decisões tomadas pela instituição a que preside.

Os últimos anos foram os mais duros de sempre para ocupar o lugar que Ben Bernanke assumiu com grande coragem. É hoje unânime que os EUA muito lhe devem e que o seu desempenho ajudou a evitar uma espiral recessiva que ameaçava atirar o País novamente para uma depressão tão ou mais grave do que a vivida nos anos 30 do século passado.

No entanto, a sua presença no Senado revelou-se, como habitualmente, serena, humilde, sincera e esclarecedora. Sem ninguém ao seu lado, com poucos papéis, respondeu tranquilamente às perguntas que lhe colocaram, por mais ridículas, repetidas e enfadonhas que fossem.

Pese embora a sua clara superioridade intelectual, sabe bem que é um funcionário do Estado e que, como tal, deve respeito máximo à mais elevada assembleia política da nação.

Esse respeito foi retribuído. Pedindo a palavra, o Senador do Tenessee disse-lhe simplesmente: “Obrigado, Sr. Bernanke”. E acrescentou qualquer coisa do género: “Estive muitas vezes em desacordo consigo ao longo dos seus mandatos, mas sei que é um patriota e que todas as decisões que tomou foram para o bem desta nação”. Este Senador não foi tão longe quanto a dizer que Ben Bernanke teve, provavelmente, mais vezes razão do que ele próprio mas, depois do que disse, também não era necessário que o fizesse.

Que diferença para o que se passa na Assembleia da República portuguesa e nas chamadas comissões de inquérito.

O clima é fratricida, a animosidade sente-se nos olhares, as discussões são pejadas de adjectivos pejorativos. Raramente se discutem políticas. Amiúde se discutem os políticos. Substitui-se o debate de ideias pelo debate sobre as pessoas. Confunde-se assertividade com agressividade; o essencial com o acessório.

Para além deste estado de coisas só contribuir para uma degradação da política e da democracia Portuguesa, no final ninguém fica esclarecido quanto ao que realmente interessa, quanto ao âmago das questões.

Aqueles que querem começar uma nova fase, uma refundação da democracia, devem começar por aqui. Deveria ser o mais fácil pois não precisamos da autorização de nenhuma troika. Just do it…

sábado, 27 de julho de 2013

A Guerra dos Tronos


A Alice acabou agora de ver a primeira temporada da séria da HBO (a produtora Americana de séries de sucesso como “Sex and the city” e “The Sopranos”) “Game of Thrones”, ou “A guerra dos tronos” em Português.



A série é baseada nos livros de fantasia “A song of ice and fire” de George R. R. Martin e passa-se num mundo imaginário de 7 reinos onde os verões e os invernos podem demorar gerações (esta primeira série passa-se toda no verão). As poderosas famílias dos 7 reinos defrontam-se numa batalha pelo Trono de Ferro e pela liderança dos 7 reinos.

A série tem uma qualidade sem paralelo. Os argumentos e a realização são fabulosos (os argumentistas e os realizadores vão variando de episódio para episódio). O “casting”, as “locations”, o guarda-roupa são incríveis e contribuem para que a série seja verdadeiramente viciante. Pela força (e investimento, diga-se) que tem, esta série não fica nada a dever a qualquer filme.

Mas não é só pela qualidade cinematográfica que a Alice está viciada na série… É pela metáfora que a mesma encerra da realidade Portuguesa (a HBO tem certamente um Português na equipa de argumentistas que inspira o que se passa na série)

Na série existe um norte gélido e um sul ameno. Um norte que é de gente trabalhadora e que erigiu uma muralha gigantesca para proteger o reino das forças obscuras; e um sul pérfido e conspirador, onde está o trono de ferro que senta o Rei dos 7 Reinos!

O Rei é uma figura que gosta de boa vida (mulheres e vinho) e que se deixa manipular pela sua mulher, herdeira da casa Lannister, a mais poderosa e rica dos 7 Reinos. Quando o Rei percebe que está metido numa grande embrulhada, chama o seu fiel servidor Ned Stark (o tal do Norte) para lhe vir dar uma ajuda a gerir o reino (enquanto ele continuava na sua vida de excessos, claro).

A primeira decisão que o Ned Stark teve de tomar por instruções do Rei (apesar de se opor a ela pois o reino estava já sem dinheiro e com avultadas dívidas à casa Lannister) foi fazer um grande torneio medieval à séria para alegrar as hostes reais.

Como seria previsível, o Ned Stark teve muitas dificuldades em gerir o reino, uma vez que o seu Conselho Real (o Conselho de Ministros lá do sítio) é composto por 4 elementos que têm as suas próprias agendas e vão gerindo os seus apoios em função do que cada uma das casas dos 7 reinos lhes permite obter em termos de poder, influência ou dinheiro (a ordem dos factores é arbitrária). Um dos conselheiros é o proprietário de todos os prostíbulos da capital (o melhor negócio para saber dos segredos sórdidos dos homens do reino) e outro é eunuco.

O Ned Stark acaba sem cabeça (claro!) e o seu filho mais velho, para o vingar, junta todos os reinos do Norte, autoproclamando-se “Rei do Norte” e vai lutar contra a rainha que, entretanto, matou o Rei e colocou no Trono De Ferro o seu filho ilegítimo (que nasceu do relacionamento com o seu irmão Jaime).

Confusos? Infelizmente a metáfora não é só essa!...

A Alice está ansiosa por ver a segunda temporada e confirmar se o Rei do Norte dá cabo da Rainha rica, assassina, incestuosa e infiel.


quinta-feira, 25 de julho de 2013

Estabilidade Governativa


A Alice tem muitas dificuldades em perceber a ânsia que existe em Portugal pela alternância governativa.

Uma decisão mal tomada, uma comunicação infeliz ou o simples cheiro do sentimento da “rua” desfavorável ao Governo instalado, logo se levantam as vozes a pedir a demissão do mesmo e a argumentar com a sua falta de “legitimação democrática” (como se fosse a “rua” que a desse).

Isto vale para os Governos e oposições de todas as cores embora impressione mais negativamente a forma despudorada como o PS se sentiu no direito de reclamar por eleições ainda nem a tinta com que assinou o acordo com a Troika tinha secado!

Meus amigos, a dura realidade é esta: o prazo de validade de um político em Portugal é mais ou menos equivalente ao prazo de validade de um telemóvel (cerca de dois anos, de acordo com a minha experiência). Ao fim deste período, ou abandonam o cargo perante a incapacidade de arcar com a tarefa ciclópica que é governar este País, ou são escorraçados porta fora pela tal turba tonitruante a que se convencionou chamar “rua” (ou, pior, pelas manobras obscuras dos interesses instalados nos corredores do poder).

A dura realidade dos números é esta:

- França teve 25 presidentes desde 1848;

- EUA teve 44 presidentes desde 1789;

- Portugal teve 118 primeiros-ministros desde 1834; 18 dos quais desde 1974 (e convém não esquecer que Salazar “estraga” a primeira média e Cavaco “estraga” a segunda!

Convém reflectirmos se andar constantemente a trocar de Governantes ajuda ou não a resolver os nossos problemas. A Alice considera que nem é preciso discutir nomes ou pessoas específicas…

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Uma nova época se aproxima


A Alice sente-se como os adeptos de alguns clubes de futebol (sobretudo os sedeados na capital, com vista para a 2ª circular).

Não interessam as humilhações recentes infligidas pelo maior clube do País. Pouco contam os “fait-divers” que opuseram árbitros a jogadores, jogadores a treinadores, treinadores a dirigentes, etc., etc. Nada valem as estatísticas, que não mentem e que teimam em apontar probabilisticamente para o mesmo vencedor do costume (tristemente os adeptos dos clubes de futebol e os Portugueses em geral nunca foram muito bons a matemática).

O começo de uma nova época traz sempre renovadas esperanças. São as promessas dos treinadores e dirigentes; são as contratações milionárias; são as exibições internacionais contra equipas cirurgicamente seleccionadas para garantir o brilho inicial; são, em suma, desejos e boas intenções prontos a serem estilhaçados pelo choque com a dura realidade que se aproxima.

A Alice sente-se assim em relação ao novo Governo de Portugal.

Contratações de luxo. Compromissos de redenção. Promessas de compromissos. Tudo vai ser diferente e a diferença vai ser tudo!

A Alice torce para que assim seja e acredita com a mesma força da esperança dos tais adeptos futebolistas…

Chama, em todo o caso, a atenção para três questões que determinarão, em muito pouco tempo, o destino deste Governo;

1. Liderança: à semelhança do futebol, uma equipa sem liderança nem com o Cristiano Ronaldo e o Messi lá chega! Alguém tem de distribuir jogo, marcar as metas e assegurar que todos trabalham para o mesmo objectivo;

2. Avaliação da Troika: a próxima avaliação terá que passar também por uma renegociação das condições que estão actualmente estipuladas. Temos que passar a falar de reestruturação a sério e não de cortes a direito; o défice tem de ser a consequência e não a causa de todas as políticas; a dívida tem de ser financiada até o País ter condições para começar a pagar de volta; a fiscalidade tem de ter uma estratégia clara e potenciar a atracção de investimento.

3. Orçamento Estado: tem de reflectir o que for acordado com a Troika; as pessoas têm, acima de tudo, que sentir que os seus sacrifícios começam a valer a pena; não há outra forma que não seja reduzir a carga fiscal das pessoas.

E é tudo. Parece pouco mas, na realidade, é tanto! Conseguir ou não conseguir terá como consequência, respectivamente, sermos campeões de inverno ou descermos definitivamente de divisão antes do Natal.