quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Ingredientes para um País Empreendedor


Luke Johnson fez ontem na sua coluna no FT (ver link abaixo), uma lista de ingredientes necessários para criar um País Empreendedor (ou de Empreendedores). A Alice pega na lista e classifica Portugal em cada um dos itens.

1. Sistema Legal
L.J.: Honesto, simples, tempestivo, com contratos executáveis ("enforceable").
A.: Começamos mal... Aqui apenas nos dizem que a "justiça tarda mas não falha"... para o efeito não chega!

2. Universidades
L.J.: Instituições de classe mundial, investigação de ponta, boa colaboração empresarial, "spin-offs".
A.: Aqui começamos a ver resultados, com universidades de gestão a entrarem nos rankings mundiais (Católica , Nova) e com outras especializadas em investigação de ponta (UMinho nos biomateriais e UAveiro nas telcos) a darem cartas internacionalmente.

3. Imigração
L.J.: Fronteiras abertas para estudantes, executivos e empreendedores.
A.: Não temos tido nenhuma política específica para esta área mas a realidade é que temos recebido um crescente número de alunos internacionais (Erasmus) e que somos consideramos como um povo geralmente receptivo a novas pessoas e ideias.

4. Ética de Trabalho e Sucesso
L.J.: Uma cultura que vê com bons olhos o trabalho e a ambição, celebra o sucesso e não é avessa à criação de riqueza.
A.: Precisamos de resolver a atitude habitual de olhar com desconfiança o enriquecimento de pessoas empreendedoras.

5. Fortes Centros Regionais
L.J.: Várias cidades com comunidades locais vibrantes.
A. : A macrocefalia da capital, tem dificultado o aparecimento de outros centros fortes. No entanto, temos zonas com potencial, nomeadamente as ligadas às Universidades.

6. Advogados sob controlo
L.J.: Países com muita litigância não promovem as empresas e levam a estagnação. Os advogados têm de servir a comunidade de negócios e não vice-versa.
A.: Quanto a esta a Alice não se pronuncia por receio de levar com um processo por difamação.

7. Fornecedores de Financiamento
L.J.: Alternativas de crédito para "start-ups" que ajudem a reduzir as necessidades de fundo de maneio e formas alternativas de financiamento como "business angels", leasing e factoring. Mais tarde, capital de risco, bolsa de valores, Bancos, etc.
A.: Há muitos fundos comunitários para financiar o arranque de "start-ups". Onde provavelmente não há financiamento é naquelas empresas que precisam de dar "o próximo salto". Não me parece que em Portugal o problema do financiamento das start-ups seja muito pior do que no resto dos países. Quanto ao resto, pode-se fazer melhor, sobretudo no que ao capital de risco público diz respeito.

8. Talento e experiência técnica
L.J.: Bons quadros com vontade de se juntarem a "start-ups" e não ao Estado ou às grande empresas.
A.: Aqui não será o problema, tanto jovem bem educado no desemprego e tão pouco Estado e grande empresa a recrutar que não haverá alternativa...

9. Propriedade Intelectual
L.J.: sistema de patentes, marcas que protejam as Empresas, motivem investidores a investirem e a compra e venda destes activos.
A.: O nosso sistema está integrado no sistema Europeu e nas convenções internacionais pelo que funciona bem.

10. Infraestruturas
L.J.: Boas estradas, boas comunicações, escritórios, fábricas e armazéns.
A.: Neste campo, também não ficamos a dever grande coisa aos restantes países com que ambicionamos ombrear.

11. Corrupção
L.J.: A corrupção, no sector público ou privado, desincentivam o empreendedorismo.
A. : Nesta variável direi apenas que provavelmente estamos piores do que os anglo-saxónicos e os norte Europeus, mas não devemos classificar muito mal relativamente aos restantes.

12. Impostos
L.J. Um sistema fiscal suportável, que encoraja o esforço e não penaliza invejosamente aqueles que assumem riscos e trabalham muito.
A. : Pois...

13. Mercados Livres
L.J.: Um Governo que não faça "crowd-out" do sistema Privado, limita as fronteiras e a interferência estatal no comércio. Práticas restritivas ou monopolistas devem ser proibidas.
A.: O Estado continua a estar presente em demasiados sectores, suga financiamento da economia privada e não tem uma posição de regulador forte e clara nos sectores que devia.

14. Modelos e Exemplos de Sucesso
L.J.: Muitos exemplos de empreendedores de sucesso, "self made" e "high achievers".
A.: Quando pensamos em modelos e exemplos, chegamos invariavelmente às mesmas respostas: Belmiro de Azevedo, Américo Amorim, etc. Precisamos de exemplos mais recentes, exemplos com os quais os nossos jovens se pudessem identificar.

15. Regras de Insolvência
L.J.: Sistema que facilite aos falhanços honestos começar de novo. É importante que as pessoas sejam perdoadas em vez de condenadas por falhanços empresariais.
A.: Aqui muito foi feito no último ano. A aprovação do PER, é um exemplo de uma boa medida para preservar Empresas e Emprego, retirando (ou atenuando) o estigma negativo da insolvência.

16. Leis de Trabalho
L.J.: Facilidade de contratar e despedir de uma forma justa sem receito de consequências desproporcionadas.
A.: Também já tem sido feito algum caminho a este respeito. Falta fazer a pedagogia junto de sindicatos e trabalhadores. Nenhum empresário gosta de despedir trabalhadores. A maioria das vezes despede porque não tem negócio para suportar o posto de trabalho.

17. Confiança
L.J.: Acreditar que é possível e ter a coragem de o fazer.
A.: Tem que ver com os modelos, com a atitude e com o que se transmite às pessoas. Algum trabalho tem ainda de ser feito nesta área.

18. Burocracia
L.J.: Uma nível de burocracia gerível e que não desencoraje a energia das pequenas empresas e empresários.
A.: Depois de ter sido feito um bom trabalho no Governo anterior com o "simplex" este ímpeto soçobrou um pouco. O actual MEconomia já repegou no tema (promessa de licenciamento zero, por exemplo) pelo que se podem esperar desenvolvimentos para breve.

E estes são os principais pontos.

A Alice entende que não estamos assim tão mal. De todos os dezoito pontos elencados, há 7 que necessitamos mesmo de melhorar. Atendendo a que não se pode ambicionar a resolver tudo em simultâneo e a que alguns destes itens estão inter-relacionados, a Alice sugere que se ataque os seguintes 3, com especial ferocidade:
1. Sistema Legal e Impostos
4. Ética de Trabalho e Sucesso
5. Fortes Centros Regionais

Se Governo, Municípios, Empresas, Empresários e Trabalhadores conseguissem resolver estes três problemas estaríamos bem mais perto de ter um País verdadeiramente empreendedor.

Link para o artigo do FT: http://www.ft.com/intl/cms/s/0/71645fc8-7c4c-11e2-91d2-00144feabdc0.html#axzz2M6bZF3UV

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