Terminaram-se as férias. Mas será que acabou a "Silly Season"?
Este ano a Alice optou por uma dieta rigorosa. O consumo de imprensa (escrita, radiofónica e televisiva), blogs e redes sociais foi eliminado. Em contrapartida, abusou de livros, reflexão e convívio com família e amigos.
Foi libertador! Os níveis de ansiedade e de stress foram reduzidos ao mínimo. O corpo alijou as suas habituais maleitas à força de muita corrida, futebol e ténis de praia. A mente pairou nas nuvens e ganhou umas tonalidades doiradas.
Ok! Confesso que este devaneio foi por diversas vezes interrompido pelos amuos, gritos e birras daqueles que, pela sua idade, ainda não alcançam a vertente mais contemplativa da condição humana. Mas até esses momentos foram delirantemente idílicos!
Citando Haruki Murakami, esse mago das palavras e eterno candidato ao Nobel da Literatura, no seu romance “1Q84”, a propósito do seu personagem Tengo: “Deixara de ler jornais. O mundo avançava sem ele”.
Ao contrário do personagem de Murakami, a Alice acha que o mundo não avançou. Está tudo na mesma. Os mesmos problemas, os mesmos actores, as mesmas questões que marcavam a actualidade antes das férias (e no ano passado, e no anterior…).
No palco nacional, as últimas decisões do TC só demonstram que passamos da “Silly Season” para a “Silly Rentrée”. No plano internacional, o putativo ataque à Síria deixa-nos hesitantes entre "pôr fim a uma atrocidade que já dura há quase dois anos" e o "que é que nós temos com isso; eles que se entendam".
Será que o problema é da realidade em si ou dos mensageiros? A este propósito André Macedo, director do Dinheiro Vivo, escreveu um excelente artigo de opinião (ver aqui) em que reflecte sobre o tema do jornalismo e do seu papel neste mundo que se move sem aparentemente se mover.
Diga-se, em abono da verdade jornalística, que o modelo económico dos media, tal como existe hoje, está ameaçado. Como é possível ter bons jornais quando os seus proprietários perdem dinheiro? Como é possível ter bons jornalistas se eles são cada vez pior remunerados?
Talvez a única boa notícia das férias tenha sido a compra do Washington Post por Jeff Bezos, dono da Amazon. A sua mensagem para o staff do jornal foi “Coloquem o cliente primeiro (notem que não disse leitor), inventem e sejam pacientes”. Estamos todos a torcer para que seja bem sucedido e que altere o modelo dos jornais (e, se possível, dos media) para melhor.
Já agora, se pudesse também alterar o mundo (ou Portugal, pelo menos) agradecíamos.
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