sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Crescimento pelas Exportações - O céu é o limite?


Até quando conseguiremos sustentar o excelente desempenho registado recentemente nas nossas Exportações? E como é que este desempenho interage com o crescimento do Produto?

A criação de riqueza num País (PIB) depende das seguintes variáveis: (i) Consumo Privado; (ii) Consumo Público; (iii) Investimento Privado; (iv) Investimento Público; Exportações Líquidas (de Importações). Quando se fala em crescer, fala-se no crescimento do agregado destas variáveis todas.

Quanto ao Consumo e Investimento Público estamos conversados...

O excessivo endividamento das Empresas e Famílias (agravado pela redução do rendimento disponível ditado pelo aumento da factura fiscal) tem limitado muito o Consumo e o Investimento Privado.

É neste enquadramento que o nosso governo tem feito uma forte aposta no crescimento das Exportações e (começará em breve) a apologia da substituição de Importações.

Até aqui o tecido empresarial tem respondido bem, até bastante melhor do que seriam as expectativas iniciais dadas pelos modelos económicos utilizados pelos nossos governantes.

Com efeito, os empresários Portugueses, à falta de clientes cá dentro, pegaram na mala de cartão e foram vender lá para fora.

Para além disso houve um conjunto de investimentos de dimensão muito significativa e com actividade eminentemente exportadora que começaram a dar os seus frutos muito recentemente: (i) nova refinaria da Galp em Sines e reconversão da refinaria de Matosinhos (por si só estimava-se um impacto de €400M/ano na balança comercial); (ii) Nova máquina de papel da Portucel que só em 2011 atingiu a sua utilização máxima de capacidade; Fábrica de PTA da Artland em Sines que só começou a produzir em 2012, etc. (note-se que todos estes são investimentos efectuados em tempos de maior abundância de recursos... hoje, com grande probabilidade, não seriam feitos!).

Voltando à questão do início deste post: até que ponto podemos continuar a contar com o crescimento das exportações para colmatar as quedas registadas nas outras variáveis (sobretudo consumo)?

Infelizmente, na minha opinião, não muito mais tempo. Aliás o crescimento tem registado alguma desacelaração. De +11,5% no 1º Trimestre passamos para +6,8% no 2º Trimestre. Julgo que esta desacelaração se vai continuar a registar e que, no próximo ano andaremos em valores bem mais reduzidos (entre +2% a +4%). Atrevo-me a fazer esta previsão sem conhecer o que dizem os modelos macroeconómicos do nosso Governo mas julgo que não andarei muito longe do que será a realidade.

As razões para este menor crescimento das Exportações tem que ver com o seguinte:

  1. O modelo "miraculoso" de aumento de exportações / substituição de importações está a ser seguido por muitos países no mundo (aliás este é um mantra do FMI há décadas). Ora, como ainda, ninguém exporta para Marte andamos todos a vender mais uns aos outros e a comprar menos uns dos outros. Está bem de ver que esta equação não quadra...
  2. Os grandes investimentos que suportaram grande parte do crescimento das exportações recentemente estão a atingir a sua velocidade cruzeiro e, consequentemente, o seu contributo para o crescimento passará a ser marginal.
  3. Atendendo a que o investimento das Empresas tem sido muito reduzido (e continuará a ser enquanto o clima não mudar) há muitas indústrias em que a capacidade produtiva já estará muito próximo da utilização plena, pelo que só com investimentos adicionais poderá crescer. Neste campo excepção seja feita ao Turismo onde ainda haverá margem para crescer (farei um post exclusivamente sobre isto).
Em conclusão, as Exportações têm tido um contributo fantástico para o crescimento nos últimos 2 anos mas dificilmente conseguirão colmatar as quedas nos outros indicadores económicos pelo que, quase garantidamente teremos queda do Produto em 2013 (e provavelmente 2014 também).

Como dizem os ingleses ser um "one trick poney" não chega. Não vamos lá só pela via das Exportações...

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