quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Alternext - Mercado Alternativo ou Alternativa de Mercado?

A propósito do último post sobre o Pocoyo não posso deixar de voltar a falar sobre o mercado Alternext (o mercado alternativo da Euronext) que, em Portugal, ainda não conta com nenhuma cotada. Para uma Empresa com ambições de crescimento cotar em Bolsa pode ser um passo importante (independentemente da sua dimensão). As vantagens da cotação em Bolsa estão por demais explanadas em vários livros da especialidade, pelo que me abstenho de as elencar. Prefiro focar-me na questão de, apesar das virtudes que a cotação de uma Empresa em Bolsa tem, porque é que no mercado nacional ainda não temos nenhuma Empresa cotada no mercado Alternext (e, diga-se, mesmo a representatividade do tecido empresarial nacional no mercado principal é relativamente reduzida)? Entendo que o principal factor de limitação se encontra nas Empresas. Muitas não estão sequer devidamente organizadas (sob o ponto de vista contabilístico e fiscal até), não pretendem ter a transparência a que o mercado de capitais obriga e, mais do que tudo, os Empresários não querem partilhar o poder que têm nas suas Empresas com ninguém. No entanto, sobretudo no que ao Alternext diz respeito, há ainda um problema adicional: a falta de investidores. O que é natural: mercado novo, empresas novas, de pequena dimensão, pouca massa crítica, etc. Esta limitação apenas poderá ser ultrapassada com uma estratégia que, a meu ver, terá que passar pelo seguinte: (i) angariar um conjunto de Empresas que pretendam aderir a este novo mercado (no mínimo 10 Empresas), para que o mercado tenha logo uma massa crítica mínima e para reduzir o ónus do pioneirismo que poderá existir se só uma ou duas Empresas avançarem; (ii) tentar que este conjunto tenha alguma representatividade em termos de sectores já existentes no mercado Alternext noutros países (tecnologia, serviços, etc.); (iii) fazer o “marketing” conjunto deste Grupo de Empresas, em termos nacionais e internacionais (com o intuito de obter sinergias na abordagem aos investidores e na apresentação deste novo mercado); e (iv) garantir a criação de três ou quatro fundos (que teriam que ser necessariamente Públicos ou “patrocinados” pelo Estado) com o objectivo específico de investir neste mercado alternativo (ex. CGD, Iapmei, Aicep, Fundos para a Capitalização da Segurança Social, etc.). Não sendo grande adepto de subsídios e dos apoios públicos entendo que, apesar de tudo, esta é uma forma eficiente de injectar dinheiro na economia e nas Empresas. Desde logo, é completamente transparente porque é decidido no mercado e não nos poeirentos corredores do poder e das repartições públicas e está à vista e ao escrutínio de todos. Para além disso, os apoios são alavancados no resto do mercado (partindo do princípio de que há, como julgo que tem de ser, mais investidores para além dos públicos). Por outro lado, mais importante do que isso, a avaliação da aplicação dos fundos é relativamente fácil de fazer (é a rentabilidade que cada título der ao Estado). Para além disso, seria uma medida relativamente “barata” em termos de investimento. Considerando que as acções colocadas no mercado por cada uma das Empresas corresponderá um montante médio da ordem dos 5 milhões de Euros, caso o Estado assuma 40% da colocação, 20 milhões de Euros serão suficientes para o tal Grupo de 10 Empresas. 100 milhões de Euros poderiam colocar neste mercado 50 Empresas! Cinquenta Empresas com perspectivas de poderem vir a ser os grandes Grupos de amanhã, com dinâmica de crescimento e, certamente, geradoras de impostos para os cofres do Estado.

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