segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O Banqueiro Anarquista

Nem de propósito! O jornal “i” está a publicar todas as 6ªs feiras uma pequena obra de Fernando Pessoa. A desta semana foi a que dá título a este post. A Alice não acredita muito em coincidências, pelo que se entreteu a ler esta pequena obra que lhe havia passado ao lado aquando da fase pessoana da sua juventude. O opúsculo retrata um banqueiro que pretende demonstrar que é anarquista e as várias tentativas que fez ao longo da vida para agir como tal. Depois de várias vivências chegou à conclusão que a única forma de atingir o ideal anarquista era tornar-se rico. Para tal, não olhou a meios. A Alice transcreve aqui a parte mais relevante do texto: “Pois foi este o processo que eu segui. Meti ombros à empresa de subjugar a ficção dinheiro, enriquecendo. Consegui. Levou um certo tempo, porque a luta foi grande, mas consegui. Escuso de lhe contar o que foi e o que tem sido a minha vida comercial e bancária. Podia ser interessante, em certos pontos sobretudo, mas já não pertence ao assunto. Trabalhei, lutei, ganhei dinheiro, trabalhei mais, lutei mais, ganhei mais dinheiro; ganhei muito dinheiro por fim. Não olhei a processos – confesso-lhe, meu amigo, que não olhei a processos; empreguei tudo quanto há – o açambarcamento, o sofisma financeiro, a própria concorrência desleal. O quê?! Eu combatia as ficções sociais, imorais e antinaturais por excelência, e havia de olhar a processos? Eu trabalhava pela liberdade, e havia de olhar às armas com que combatia a tirania?!... Ora o meu processo estava certo, e eu servi-me legitimamente, como anarquista, de todos os meios para enriquecer.”. Será que vivemos num país de anarquistas? Banqueiros e outros que tais? E ainda há quem diga que vivemos tempos despidos de ideologia(s)…

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