quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Jujitsu aos Mercados



Jujitsu é uma arte marcial que consiste em utilizar a força do adversário contra si próprio em vez de o confrontar com a nossa própria força.

Do pacote de medidas recentemente anunciadas para auxiliar a Grécia, a Alice considera que há uma que pode fazer a diferença no que aos mercados diz respeito.


A medida em causa é a que prevê que a “European Financial Stability Facility” empreste, em termos favoráveis, dinheiro à Grécia para que esta possa comprar dívida a um preço de até 35% do valor facial, ligeiramente acima do valor a que esta transacciona nos dias que correm (28%).

Ora, este mecanismo de intervenção é, na opinião da Alice, o mais eficaz de todos pelas seguintes razões:

- Joga com as regras de mercado (compra de activos à cotação vigente) em vez de se tentar bater contra elas;

- Permite uma redução automática da dívida sem ser necessário entrar em intermináveis processos negociais com um conjunto alargado de credores (como aconteceu, por exemplo, com a própria Grécia aquando do último “bailout”);

- É relativamente indolor para quem vende (fá-lo de livre vontade em mercado aberto). Não raras vezes o investidor que as detém já provisionou as perdas ou, ainda com maior probabilidade, já as comprou a preço muito reduzido (o mercado foi-se encarregando de “espalhar” as perdas por vários operadores à medida que a queda das cotações os foi obrigando a desfazer posições);

- Envia uma mensagem ao mercado (o que os economistas chamam de “signalling”) de que os activos já caíram demais e que, a estes preços, é compensador comprar (à semelhança de quando as Empresas cotadas compram acções próprias).


Qual é o senão desta estratégia? 


Ao “colocar as cartas em cima da mesa”, a Grécia está a abrir o flanco para os actuais detentores das obrigações tentarem obter melhores condições de recompra (dizendo, por exemplo, que não aceitam vender abaixo de x preço). Não esqueçamos de que muitas destas obrigações são detidas por “hedge funds”, muito habituados a este tipo de negociações. 


Outros investidores, confrontados com a possibilidade da revendas (e sabendo que têm sempre um”floor”), sentir-se-ão atraídos para comprar estas obrigações. 

Estes movimentos poderão forçar o preço para cima, por vezes para níveis a que a operação de recompra deixa de fazer sentido.

É por isso que este tipo de operações faz-se, não se anuncia, sob pena de não ter a eficácia desejada. Os Americanos (esses liberais tão hábeis a intervir no mercado) são exímios neste tipo de operações porque dispõem de instituições com mandatos mais flexíveis e, como tal, mais eficazes.

Fica, no entanto, a nota de que este é o caminho.

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