terça-feira, 13 de novembro de 2012

O Caso Jonet


A Alice acha inaceitável a campanha que tem sido feita contra Isabel Jonet.

Já há algum tempo que a Alice tinha intenção de escrever sobre o acto de dar. Este é um momento oportuno para o fazer.

Porque será que em Portugal (com honrosas excepções claro, como por exemplo Champalimaud) não temos fenómenos de dádiva como observamos nos Estados Unidos?

A Alice não está aqui a falar de pequenos actos de solidariedade que, com maior ou menor dimensão e com maior ou menor frequência, todos vamos praticando? Está a falar de dádivas significativas ao estilo da Fundação criada por Bill Gates (hoje com activos superiores a $30.000 milhões) ou de Warren Buffet que criou um “clube” informal para convencer os mais ricos dos EUA a doar metade da sua fortuna a instituições sem fins lucrativos ainda em vida!

As razões que a Alice encontra são 3:

1. Não há, de facto, um número suficiente de fortunas com dimensão expressiva para que este tipo de dádivas ocorra. O processo de acumulação de capital em Portugal ainda está na sua infância (o 25 de Abril obrigou a um recomeço que, entretanto, tem sofrido altos e baixos);

2. Nos EUA, ao contrário de Portugal, há uma crença generalizada de que a fortuna acumulada não se deve exclusivamente a razões individuais e, como tal, há uma vontade de retribuir (“giving back”) à Sociedade, à Escola, etc. Warren Buffet diz taxativamente que a razão número 1 do seu sucesso é ter nascido na América. É óbvio que, também nos EUA, há quem dê com objetivos de autopromoção e de ascensão social. No entanto, os Americanos são pragmáticos o suficiente para aceitar, com o mesmo sorriso nos lábios, uns e outros!

3. Em Portugal, quem dá é olhado com alguma desconfiança (a não ser que já tenha morrido). Mas porque é que deu? Qual é a agenda escondida? O que é que ele quer em troca? De que está à espera?

É à luz desta reflexão que temos que enquadrar as reacções que as palavras de Isabel Jonet suscitaram. Senão vejamos, a mensagem de Isabel Jonet (não nos agarremos especificamente a cada uma das palavras que disse) não tem nada de abstruso, não refere nada que já não saibamos e não transmite nada que já não tivesse sido dito por várias pessoas (inclusivamente o PM).

Então qual foi o seu erro?

Foi ter julgado que podia ter opinião! É que a política e a sociedade é para ser tratada por políticos! Empresários, Gestores, Cientistas, Professores, Padres, etc. não têm o direito de ter opinião sobre Política ou Sociedade ou, se a têm, é porque estão submetidos a uma obscura agenda escondida e obedecem a interesses poderosos inomináveis e indeterminados! Já Soares dos Santos foi alvo do mesmo tratamento! “Quem são eles para nos vir agora dar lições sobre o que quer que seja?”

Pois bem, goste-se ou não da personalidade deles, duvide-se ou não dos seus interesses últimos, são pessoas que decidiram dar parte de si por aquilo que entendem ser o bem comum. Para além disso, têm uma experiência e uma vivência que lhes permite ter uma visão da Sociedade que é importante partilharem e darem a conhecer. Ninguém (nem nenhum partido, nem nenhuma "classe") é proprietário da pobreza ou do Oráculo de Delfos da era moderna.

Discutir as suas opiniões sim, desvalorizar o trabalho e menorizar as pessoas não é aceitável.

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