terça-feira, 30 de abril de 2013

Derivativos de Destruição Maciça – Um Perigo Mundial Latente?



O nosso pequeno Swapgate nacional teve o condão de alertar os mais distraídos para os principais problemas que podem ocorrer com a utilização indevida de produtos derivados. 

O que provavelmente a maior parte das pessoas não sabe é que o tema dos derivados é global e de dimensões cada vez mais expressivas, constituindo para alguns a maior ameaça para a economia global. 

É que, ao contrário do que se julga, ao invés dos mercados de derivados terem diminuído deste a crise Lehman, têm aumentado significativamente. 

Com efeito, de acordo com um artigo recentemente publicado na Time, nos 5 anos antes do Lehman (2003 a 2008) o “valor nocional” (de base, em linguagem corrente) estimativo dos contratos mundiais de derivados cresceu de $200 triliões para $600 triliões. Hoje há estimativas que o colocam em $1.000 triliões. 

Só para que fique claro, são triliões americanos o que, para terem uma percepção da verdadeira dimensão do bicho, $1.000 triliões traduzem-se nos seguintes zeros: $1.000.000.000.000.000. Para uma melhor compreensão, diga-se que isto é 14 vezes o PIB mundial e 67 vezes a capitalização bolsista agregada de todas as acções cotadas na NYSE. 

E qual o problema disto?, perguntarão. 

Desde logo é um mercado muito pouco regulado. Ninguém sabe exactamente quanto dinheiro anda para aí nesses contratos (muitos deles apenas traduzidos em contratos confidenciais entre duas partes), que englobam um conjunto muito alargado de instrumentos (swaps, opções, futuros, etc). 

É também um mercado muito alavancado. No sentido de que todo aquele dinheiro acima mencionado é, como está bom de ver, suportado por um montante muito baixo de capital (não há dinheiro para suportar 14x o PIB). Estimativas apontam para graus de alavancagem de 35x a 70x! 

Constituí uma verdadeira caixa negra, com muito pouca gente verdadeiramente habilitada para lidar (no sentido de avaliar, negociar, comprar e vender) com estes instrumentos, aliás como o exemplo das Empresas públicas nacionais amplamente demonstra. 

As estruturas de decisão relacionadas com estes produtos são muito exíguas, sendo que, tipicamente, há muito risco concentrado num só polo de decisão. As perdas da baleia londrina do JP Morgan (um funcionário assim designado pela capacidade que tinha de assumir posições gigantescas nos mercados sem grande supervisão ou escrutínio) ascenderam a $6.000 milhões. É muito potencial de perda para uma só pessoa (ainda que a instituição em causa pudesse aguentar a perda). 

A dimensão do mercado, conjugada com a alavancagem e a base alargada da sua aplicação (há produtos derivados para toda a classe de activos) gera, caso algo corra mal, uma capacidade de efeito dominó verdadeiramente avassaladora. Um descarrilamento pode conduzir a falências em massa no sector financeiro. 

Porventura em 2008 estivemos bem perto deste colapso e não nos apercebemos, em grande parte porque os americanos estenderam liquidez quase infinita para os mercados não entrassem em curto de circuito. 

Será desejável não voltar a testar esses limites. Para tal, é necessário que as pessoas que lidam com estes instrumentos conheçam os seus riscos, saibam quantifica-los e geri-los de uma forma criteriosa. Para além disso, é essencial que tenham um enquadramento (de gestão, de controlo, de supervisão, de regulação e de mercado) que permita conter esses riscos num âmbito gerível. Foi o que não aconteceu no nosso Swapgate. 

Artigo da Time aqui


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