quarta-feira, 3 de abril de 2013

Realpolitik na Cimpor?


Há menos de um ano o (des)equilíbrio accionista na Cimpor foi resolvido através de uma OPA lançada pela Camargo Correa - accionista “estratégico” (i.e. concorrente) da Empresa - que, antecipadamente, acordou com a Votorantim (o outro accionista “estratégico”) a repartição dos activos da Cimpor após a conclusão da operação. 

O sucesso da mesma foi garantido pelo apoio, em tempo recorde (no próprio dia), do único accionista capaz de fazer de fiel de balança nesta luta, o Estado, através da CGD (e BCP). Tal apoio foi concedido sem qualquer negociação de preço ou outras condições, sem tentativa de encontrar mais interessados (eles existiam), sem sequer se fazer um pouco difícil (nem que fosse para disfarçar)!

A partir de uma posição de charneira entre dois grandes accionistas – tipicamente uma boa situação para ganhar dinheiro numa operação deste tipo – o Estado conseguiu ficar refém de um negócio em que os potenciais concorrentes se juntaram para concretizar a compra. Para conseguir aprovar a operação no palco político e empresarial Português, os compradores prometeram que o centro de decisão do Grupo se manteria em Portugal e que não haveria despedimentos nem redução da dimensão do Grupo em Portugal. 

Ainda nem a tinta do acordo tinha secado e os novos “donos” da Cimpor já estavam a decapitar a estrutura de gestão e a fazer um processo de reestruturação que passou pela redução de 60 trabalhadores. Menos de um ano depois, anunciam o despedimento de mais 150 trabalhadores e o encerramento de uma fábrica. Justificação avançada? A quebra de vendas de 70% entre 2001 e 2012… 

A Alice não discute a necessidade desta reestruturação. O negócio em Portugal da construção está moribundo, o cimento viaja mal e não se antecipam melhorias no médio prazo. A realidade é que este facto já era visível há um ano, pelo menos considerando que as vendas caem desde 2001… Não deveria constituir uma surpresa! 

O desfecho desta história já está bom de ver. Os brasileiros vão repartir entre si os apetecíveis activos internacionais da Cimpor que, recorde-se, chegou a estar no top-10 mundial do sector (em quantos sectores podemos dizer o mesmo?). O que sobra em Portugal acabará por ser vendido à Semapa, a bem da viabilidade do sector em Portugal, atendendo a que a Cimpor será demasiado pequena e necessitará de encontrar “sinergias” para sobreviver. A Autoridade da Concorrência vai lançar uma investigação aprofundada e, no fim, vai concluir que, de facto, Cimpor e Semapa terão que se juntar. E, posto isto, temos mais um sector em Portugal que ficará menos competitivo e menos concorrencial… Dos brasileiros não rezará a história.

A Alice já sabia que a Realpolitik também existia nos negócios. O Estado e a CGD é que, aparentemente, não. Isso ou são completamente incompetentes. Qualquer uma das alternativas é má… e sai-nos do bolso!

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