sexta-feira, 14 de junho de 2013

A greve não é a resposta


A greve é um instituto muito antigo e desenganem-se os que pensam que corresponde a uma conquista do 25 de Abril.

Com efeito, as primeiras paralisações de empresas datam de 1628, com a revolta das fiandeiras do Porto (cf. José Tengarrinha, Análise Social, 1981), e há notícias de algumas outras (poucas) ao longo de todo o século XVII. Estas paralisações eram fundamentalmente localizadas em empresas específicas e as suas razões tinham que ver com questões internas como, por exemplo, salários em atraso.

Os especialistas não são unânimes neste ponto, mas a primeira paralisação de trabalho que merece o epíteto de greve é atribuída aos operários das empresas José Pedro Collares & Filhos, Phenix, Vulcano e João Bachelay, todas elas situadas numa zona industrial junto ao Tejo. Esta greve data de 1849 e a razão da greve era lutar contra o… serão (cf. Aqui). Naqueles tempos o horário de trabalho compreendia um serão no Outono e Inverno, quando os dias eram mais curtos (trabalhava-se de sol a sol).

Desde logo, é importante destacar que as greves eram um instrumento de luta essencialmente do sector privado (em abono da verdade, o público era praticamente inexistente). Nas empresas privadas é que há mensuração adequada dos impactos económicos que uma greve pode ter e há uma lógica de luta de classes subjacente em que o trabalho demonstra ao capital o seu valor e a sua importância determinante para a vida e rentabilidade da empresa.

No sector público não é (só) o patrão que paga as consequências. Todos os beneficiários dos serviços públicos saem prejudicados. A lógica subjacente à greve deixa de ser económica e a luta de classes passa a luta meramente política em que os direitos dos trabalhadores se esbatem no direito dos sindicatos e no direito ao protesto generalizado sem critério.

Diga-se com frontalidade que fazer greve no sector privado é um acto de coragem. Optar por esta forma de reivindicação representa uma potencial ameaça para o posto de trabalho e para as condições dos trabalhadores, seja para os casos de empresas em que possam existir retaliações aos grevistas (infelizmente, tal ainda existe), seja porque pode representar uma ameaça à sobrevivência da própria empresa.

Um trabalhador privado sabe que se prejudicar o seu empregador pode não receber o salário ao fim do mês, um trabalhador público sabe que, por mais judiarias que faça ao seu patrão, a possibilidade de deixar de receber o salário é remota (até ao dia, claro… vejam o que aconteceu à televisão na Grécia…).

A grande conclusão é que o instituto da greve surgiu para protestar contra demasiado trabalho e contra uma divisão do “bolo” injusta entre capital e trabalhadores. Este instrumento não é adequado para um enquadramento económico em que o problema é que há pouco trabalho e o “bolo” está em redução acelerada.

Os professores lutam contra a mobilidade. Mas o que se faz aos milhares de professores com “horário zero” (que têm sido artificialmente reduzidos com recurso a expedientes, diga-se de passagem)? O que se faz às dezenas de cursos superiores que não têm quaisquer candidatos? O que se faz às escolas com uma dúzia de alunos?

Porque é que os professores, em fez de fazerem greve, não anunciam que os seus quadros mais desocupados durante o ano lectivo (os que iriam para a mobilidade) estão disponíveis para passar todo o verão a assegurar o funcionamento das escolas, garantindo uma solução aos milhares de pais que não sabem o que fazer aos filhos durante as férias escolares?

Porque é que os sindicatos não anunciam cursos a serem ministrados pelos docentes menos ocupados a todos os quadros da função pública que sejam afectos ao quadro da mobilidade?

Em suma, porque é que os professores não demonstram que são essenciais para a vida da sociedade e preferem antagonizar todos os seus concidadãos e prejudicar aqueles que menos opções e responsabilidades têm no estado actual das coisas, os alunos.

Desculpem a sinceridade da Alice mas a greve não é a resposta. Não trabalhar quando há tanta gente sem trabalho não é opção. Temos que conseguir colectivamente novas respostas para os problemas que atravessamos.

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