Na semana passada, John Kay publicou no
FT um artigo com o título “Fetish for making things ignores real work”. A mensagem do artigo é a de que a indústria é considerada a peça central da actividade
económica e tudo o resto é secundário, o que esquece o contributo para a
economia de um conjunto de actividades que representam uma fatia enorme da
criação de valor.
Argumenta o autor que quando se analisa
a cadeia de valor dos produtos que consumimos hoje em dia apenas uma proporção
muito pequena tem que ver com os processos de fabricação, montagem e de
incorporação de trabalho produtivo (relativamente baratos num mundo
globalizado).
O exemplo do iPhone é paradigmático, com
a inscrição no próprio produto da frase: “Designed by Apple in California
Assembled in China”. Notem o preciosismo (que a Alice adora) do desenho na Califórnia
e não nos Estados Unidos! O valor acrescentado está no desenho, no “software”, na
marca, i.e. na massa cinzenta em geral que o produto comporta.
É neste contexto que surge a nova “buzzword”
do Governo Português: a “Reindustrialização”. Depois de, no primeiro ano de
governação, as baterias estarem apontadas para a Exportação, eis que surge
agora um novo desígnio (provavelmente por se terem apercebido, como a Alice já
vinha alertando, que Portugal não tem capacidade produtiva suficiente para
sustentar as ambições de Exportação).
A Alice concorda com este esforço que o
Governo Português pretende levar a cabo. É um facto que anos de políticas
económicas erradas (não só Portuguesas, desde logo Europeias também) levaram a um
desaparecimento paulatino da nossa indústria. Adicionalmente, não se pode
desenhar políticas económicas para um País que gostaríamos de ter ao invés de
aplicar políticas pragmáticas para o País que efectivamente temos (e,
certamente, temos mais trabalhadores de colarinho azul do que de colarinho
branco).
Em todo o caso, é necessário também desenhar
políticas que incentivem actividades de massa cinzenta e de serviços. A Alice
não vê nenhuma razão para não se apostar, a par com a indústria, no sector de
turismo (já temos boa capacidade instalada aqui, é só trazer as pessoas), na
agricultura, nas pescas, na arquitectura e design, nos serviços, etc.
No turismo não será de repensar a
política fiscal (IVA, again)? Na Agricultura também não se poderá tentar atrair
investimento estrangeiro de alguma dimensão (para o Alentejo, por exemplo)? Nos
serviços não podemos ter um regime fiscal interessante para o “outsourcing”
internacional?
Em questões de política económica (como
em muitas outras na vida), o maniqueísmo das soluções milagrosas nem sempre é
bom conselheiro.
No final, para onde queremos caminhar? Para
o “designed in Portugal” ou o “Assembled in Portugal”
Link
para artigo de John Kay no FT: http://www.ft.com/intl/cms/s/0/a525e6dc-2cd9-11e2-9211-00144feabdc0.html#axzz2Cl3eDPCV
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