segunda-feira, 18 de março de 2013

Afinal eles também não têm um plano!


Na passada 6ª Feira a Alice ficou definitivamente esclarecida quanto ao plano que o Governo Português tem para tirar o País da crise em que vive: não tem nenhum! No dia seguinte a Alice foi elucidada pelas entidades Europeias relativamente ao plano que a CE e os principais Países Europeus têm para tirar a Europa da crise em que vive: também não têm nenhum! 

Foi absolutamente confrangedor assistir na conferência de imprensa de 6ª Feira passada ao Ministro Victor Gaspar tergiversar sobre a evolução da economia Portuguesa e das Finanças Públicas para evitar dizer a nua e crua verdade: ele não faz a mínima ideia do que deve fazer para alterar o rumo que as coisas seguem. 

Como técnico que é (quem foi o iluminado que lhe atribuiu a responsabilidade de n.º 2 do Governo?) consegue continuar a debitar previsões (pouco importa se são ou não realistas) sobre evolução do PIB, défice, dívida e desemprego, todas elas más, mas não emite uma só ideia sobre o que o Governo vai fazer para evitar que se concretizem ou, no mínimo, para alterar a sua tendência o mais rapidamente possível. 

Há uma linha de raciocínio de alguns comentadores que defende que é bom termos o colete de forças da Troika pois nós apenas tomamos as decisões difíceis quando a isso somos obrigados por forças de pressão externas. Parte-se do princípio que essas forças externas sabem o que estão a fazer e nos obrigam a tomar boas decisões. 

Ora, alguns de nós já desconfiávamos que a Troika (ou pelo menos alguns dos seus elementos) não sabe exactamente o que anda a fazer. Ou, em alternativa, obedece a uma agenda que não é necessariamente compatível com a nossa. Este fim-de-semana tivemos a confirmação: eles não sabem o que andam a fazer, não têm um plano e tomam medidas completamente inconsistentes com qualquer coisa que seja remotamente parecida com um plano que eventualmente possam ter. 

A decisão de taxar os depósitos Cipriotas cai na categoria das decisões mais canhestras de sempre no âmbito das medidas comummente designadas “de austeridade”. Consegue ultrapassar em estupidez a TSU de Passos Coelho (olhem que é obra!). 

A Alice não critica (tanto) a taxação dos depósitos superiores a €100.000 (não abrangidos pela garantia de depósitos) que, provavelmente, teriam sempre que partilhar parte da “dor” - fosse pela via do imposto que foi seguida, fosse pela via da falência dos Bancos que não teriam recursos suficientes para pagar a todos os depositantes -. 

O problema da Alice é com a imposição de um imposto para os depósitos inferiores a €100.000 que envia mensagens erradas para os depositantes de toda a União Europeia e até contraditórias com o discurso que a União tem assumido. Senão vejamos: 

- Digam o que disserem, a partir de hoje ninguém pode garantir que a mesma solução não venha a ser implementada noutros países, intervencionados ou não. Assim, os depositantes vão ser incentivados a retirar o seu dinheiro de países (e Bancos) periféricos e a colocá-los em jurisdições mais estáveis e “amigas” do mesmo. Tal vai dificultar ainda mais a recuperação dos países periféricos; 

- A União Europeia decidiu caminhar para uma União Bancária como forma de resolver os problemas do Euro. Nesse sentido, a existência de uma rede de segurança Europeia para os depósitos (os tais abaixo de €100.000) seria um pilar fundamental. Esta decisão acabou de pôr seriamente em causa os próximos passos para uma União Bancária Europeia; 

- Um dos objectivos da tal União Bancária era separar o risco dos Bancos do risco soberano do seu próprio País. Este fim-de-semana, voltou a aproximar tudo novamente e a deixar claro que se um País tem um problema, os seus Bancos (e respectivos depositantes) têm também um problema; 

- É sabido que uma das principais questões que afectam os países periféricos é o baixo nível de poupança que, por sua vez, limita a capacidade de investimento. Não é preciso ser um cientista nuclear para perceber que esta decisão dá mais uma machadada na apologia da poupança que tem sido feita pelas autoridades Europeias. As pessoas, racionais como são, preferirão consumir hoje do que ter o dinheiro nos Bancos à espera de ser alegremente taxado pelo seu Governo. 

E tudo isto para nada! Esta estratégia não vai resultar. A corrida aos Bancos no Chipre ocorrerá assim que eles abrirem e vai levá-los à falência na mesma. 

Com este rumo de acontecimentos, podem começar a limpar o pó às rotativas para imprimir moeda nova (e a Alice não se refere a mais Euros), formar especialistas para o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e, já agora, dar uma revisão geral aos arsenais de guerra. 

Eles não têm um plano e não sabem o que fazem.

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