sexta-feira, 15 de março de 2013

“The Icarus Deception” by Seth Godin – Porquê fazer arte?


Comentário da Alice ao livro "The Icarus Deception" de Seth Godin




A Alice segue o trabalho deste “artista” desde há muitos anos. Definir Seth Godin não é fácil: empresário? professor? marketeer? escritor?, mas ele é seguramente um dos melhores pensadores actuais em qualquer uma destas áreas. 

Especialmente incrível é a forma como pensa (e executa) “out of the box”. Este livro, por exemplo, serviu para Godin testar o conceito de “crowdfunding”. Em vez de ir ter com um editor, como qualquer escritor normal faria, lançou uma campanha no “kickstarter” (site de “crowdfunding” americano) e, numa semana, reuniu mais de U$250.000, antes mesmo de começar a escrever o livro (pois, a Alice concorda com a interjeição: Wow)! 

Mais uma vez, presenteia-nos com uma obra muito interessante e que tem tudo que ver com a alteração secular que estamos a sofrer na relação das pessoas com o trabalho e com o empreendedorismo. Teríamos todos a ganhar se, como Godin propõe, nos tornássemos todos artistas, i,e., se nos dedicássemos todos a fazer arte. 

Comecemos pela revelação de Godin de que temos sido enganados relativamente ao mito de Ícaro (daí o título do livro). 

De acordo com a lenda, Ícaro terá morrido devido a demasiada ambição (“Hubris” no original inglês). 

Daedalus, seu Pai, criou um plano para escapar da prisão com Ícaro. Fabricou um par de asas para si e outro para o seu filho, que fixou ao corpo com cera. Daedalus avisou o seu filho para não voar demasiado próximo do Sol. Maravilhado com a sua nova capacidade de voar, Ícaro desobedeceu ao Pai e voou alto demais. O resto da história os cultos leitores da Alice já conhecem. 

A lição que este mito pretende transmitir é: não desobedeças, não imagines que és melhor do que realmente és e, acima de tudo, nunca acredites que tens capacidade para fazer o que os deuses fazem… 

A parte do mito que propositadamente nos omitem: para além de dizer a Ícaro para não voar alto de mais, Daedalus também o instruiu para não voar baixo demais porque a água estragaria a capacidade de elevação das asas. 

A Sociedade alterou o mito, encorajando-nos a esquecer a parte do mar e criou uma cultura de nos lembrar constantemente sobre os perigos de darmos nas vistas, emitirmos a nossa opinião, defendermos as nossas ideias, sermos ambiciosos… 

No entanto, pior do que ambicionarmos demasiado é contentarmo-nos com pouco. Até porque é mais perigoso voar baixo do que alto (parece mais seguro). 

Fomos todos seduzidos pelos salários decentes, empregos seguros, riscos controlados, por seguir instruções claras e simples e pela protecção da uma rede (social, financeira, etc.) que julgávamos eterna. Infelizmente, esta rede já não existe. 

Para usar mais dois conceitos introduzidos pelo autor: a nossa zona de segurança mudou radicalmente mas a nossa zona de conforto não. Os sítios onde nos sentimos confortáveis (o escritório de madeira, a escola conceituada, o emprego seguro) já não existem. Manter o status quo e lutar para “encaixar” já não funciona porque a nossa cultura e a nossa economia mudaram. A nossa zona de segurança hoje é criar ideias que se espalhem e ligar o que está desligado (“connect the dots” em inglês). São estes dois pilares que requerem a postura de um artista. Esta nova zona de segurança não é, obviamente, tão confortável quanto a última! 

Na era industrial (da produtividade e dos salários baixos) exige-se às pessoas que cumpram regras e instruções. Lavam-nos o cérebro desde cedo. A própria escola tornou-se num sistema industrial com o objectivo de destruir novas atitudes e emoções. O artista, em contrapartida, diz: “Aqui está. Fiz isto”. Toma a iniciativa, cria, falha, cria de novo, sai da zona de conforto. 

É preciso criar arte, ser-se artista. Não no sentido tradicional (pintor, escultor, etc.) mas no sentido de produzir um trabalho único que “toque” e influencie os outros. A arte é uma atitude. Alcançar algo novo, fazer ligações entre pessoas ou ideias, trabalhar sem mapa – isso são obras de arte e se uma pessoa o faz é um artista, independentemente de usar um pincel ou um computador. 

Este livro pretende mostrar-nos porque é que cada um de nós deve fazer arte. Porque é que vale a pena. Porque é que não devemos esperar. O caminho é ser-se humano, fazer arte e… voar bem mais alto do que nos ensinaram a voar. 

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